obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

terça-feira, 29 de julho de 2014

Sobre o "Fim do Brasil" da empiricus.com.br


Uma empresa chamada Empiricus Research colocou um anúncio patrocinado no Facebook. Assim, essa análise bem pessimista sobre o futuro do Brasil tem se difundido. (Nota: um outro texto que também reclamava do governo Dilma é o Santander)

O texto (disponível em http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil-5/) diz que pode haver uma grande crise econômica que faria o Brasil voltar à "pré-história", se referindo à época antes do Plano Real. O texto teme que a economia desande pois estão sendo tomadas medidas que não teriam sido tomadas desde a existência do Plano Real.

Convenhamos que o Plano Real nem é tão velho assim e por isso o exagero de chamar o período anterior como pré-histórico, e por ser recente apenas os governos FHC, Lula e Dilma conviveram com a moeda chamada Real (R$). De forma que não acho razoável falar em qualquer tradição que defina o que dá certo com o Real ou não, ainda mais que em 2008 houve a crise mundial que mudou muita coisa no andamento da economia. Então se o Real passou por poucas mexidas por ter passado por poucos governos, então também não é razoável falar que mudanças recentes farão o Real desandar a ponto de voltar ao período antes do Real, para a tal "pré-história".

Não sei qual a idade de quem escreveu o texto, pois é exagero de chamar o período antes do Real de pré-histórico, dizendo que antes do Real não havia investimentos, não havia nada. Se pudéssemos perguntar para os governos anteriores ao Real eles confirmarão que é exagero falar dessa forma. Da mesma forma que por mais que tenham falhado em controlar a inflação, dirão que é sem sentido a afirmação de que "inflação é como uma gravidez, inevitavelmente cresce". Imagino que os governantes da época diriam que se fosse asssim teriam desistido antes mesmo de começarem os trabalhos de conter a inflação, e então que eles foram heróis só por terem lidado com aquela realidade.

Algo contraditório é que apesar de ignorar o período anterior aos 20 anos do Real, diz que a crise na Inglaterra nos anos 70 começou quando os trabalhistas vieram com uma agenda social-democrata querendo distribuir renda através de maior controle das empresas e que a inflação disparou quando tentou-se controlar os preços. Liberais são contra o controle de preços pois o controle iria contra os preços "naturais". De forma que se o governo determina que comida não pode ser cara para que todos possam comprá-la, há sentido em falar que isso prejudica a economia pois ou os produtores de comida vão engolindo o prejuízo e vão falir, ou vão diminuir os salários de seus empregados para não terem prejuízo, ou dar calote aos fornecedores de matéria-prima, utensílios, etc. De forma que o prejuízo dos produtores, a diminuição de salários, calote nos fornecedores, etc realmente prejudicam a economia, e isso foi causado pelo controle de preços, por causa de preços "artificiais", não-"naturais". É como tentar  beneficiar o povo dando de um lado, mas tirando do outro. Produtores de comida vão descontar nos empregados ou fornecedores, e estes vão diminuir o consumo ou dar mais calotes, e assim a comida barata de um lado se transformou em consequências negativas do outro. Mas daí, fazer como o texto e falar sem mais nem menos em inflação de 5.000.000.000.000.000% é exagero puro.

O texto é de interesse do próprio Empiricus, e isso fica muito claro no final em que o texto vai dando que passos os brasileiros devem tomar e para tidos eles é dito que Empiricus pode ajudar com uma consultoria.
Eis o ponto fraco desse texto: sendo o objetivo fazer propaganda deles, eles só mencionam os problemas que levam ao produto deles. É como um vendedor de lanternas dizendo que no apocalipse é bom ter uma lanterna, não te faz pensar que no apocalipse pode faltar pilhas.

 
Por exemplo, diz ele que os EUA vão aumentar juros e que isso terá impacto catastrófico. Recomendação deles? Investimentos fora do Brasil para o qual eles dão consultoria. Ora, mas se EUA aumentam juros, o mundo todo sente o impacto e lá fora o investimento é tão inseguro ou pior que investir no Brasil.
Eles dizem que quando a crise chegar, o dólar vai aumentar. Mas acham que o aumento do dolar estará ligado aos investidores saindo do Brasil pois lá fora é melhor. 


Uma exceção à essa história de que culpar o Brasil (como sempre) é quando eles dizem que dólar vai aumentar pois os EUA vão aumentar juros, o que por sua vez tem relação com 2008. Os EUA injetaram muito dinheiro no sistema financeiro para segurar a crise (tal como mostrado no filme "Too big to Fail")

Como houve essa injeção de dinheiro (perto de US$ 1 trilhão), agora seria hora do governo dos EUA tentarem recuperar o que injetaram. Aumentar juros para os EUA se dará com o mesmo argumento porque Brasil deixou seus juros altos: segurar a economia, fazer com que o investidor pense que manter o dinheiro aplicado dentro do país (nesse caso EUA) seja mais vantajoso que investir do lado de fora. Assim os EUA chupam dólares do mundo para si (atraindo sua moeda de volta para casa), aí de fato o dólar pode disparar no mundo todo, pois com dólares indo em direção aos EUA, e assim escasseando nos demais países e o que se torna raro sobe de preço pela lei da oferta e procura. 

Note que isso independe das supostas medidas-terríveis que o Brasil está adotando. Nesse sentido a análise do Empiricus é ultrapassada não só por creditar alta do dólar ao clássico "é tudo culpa do governo brasileiro", como também não prevêem cenários para a decadência do dólar. Provavelmente não escreveram essa possibilidade no texto pois a consultoria deles não traça cenários com dólar decadente. 

Mas vejam só: se os EUA vão aumentar juros para chupar dólares , por outro lado isso quer dizer que aumentará a tendência do dólar ir perdendo posto de moeda mundial. Moedas européia e chinesa parece que estão entrando na disputa e nesse sentido o acordo recente do BRIC formar seu próprio fundo na verdade torna Brasil mais seguro e não menos seguro frente ao que está para acontecer no cenário mundial.

Cabe lembrar que em termos geopolíticos EUA vem perdendo espaço: recentemente no caso do abate do avião na Ucrânia, saiu o texto "Aula de (anti-) jornalismo: assim o New York Times manipula", que diz:

"Ou seja: a manchete de capa — aquela que a esmagadora maioria do público realmente lê – não é apenas imprecisa. Ela diz o oposto do texto que deveria resumir. Não é a Rússia quem está isolada: são os Estados Unidos. Nem os europeus, seus aliados mais próximos, estão, no momento, dispostos a seguir Washington nas sanções contra Moscou."

E numa outra questão recente, os EUA foram o único país a votar contra as investigações do massacre de Israel na Palestina.

Assim, a hegemonia dos EUA está diminuindo, já passaram pela crise, já estão ficando isolados em questões internacionais, e pode ser que futuramente o dólar fique decadente, cenário com que a Empiricus não trabalha.

Pós-copa e possíbilidade de crise (se tiver bolha imobiliária)


Para os próximos meses, alguns dados da Empiricus podem até dar sinais de acerto, como queda do preço dos imóveis, mas isso eu credito à especulação imobiliária por causa da Copa e não vejo como isso estaria relacionado com o apocalipse que eles anunciam. Hotéis por exemplo meses antes da Copa para dias dos jogos tiveram de reduzir seus preços à metade de tanto que especularam com a Copa, e imóveis e outros segmentos também vão sofrer com o pós-Copa, mas para voltar à normalidade, e não para quebrar tudo. Nessa linha o crédito pode diminuir, mas também nada que chegue a afetar tanto a inflação e muito menos o nível de desemprego.

Quanto ao hotéis reduzindo à metade seus preços, isso lembra a bolha imobiliária, sobre a qual num post passado (Brasil (contraditoriamente) se abrindo ao mundo) escrevi:

"Quanto ao Brasil, há risco de bolha imobiliária, como aconteceu nos EUA? Parece que o debate vai no sentido de que não há, ou, que se havia, está murchando (juro que tentei juntar um sim e um não). Eu pessoalmente estou preocupado pois tem apartamentos mais caros que castelos europeus e não só Casas Bahia, mas diversos serviços estão abrindo linhas de crédito (para aposentados, para Minha Casa Minha vida, etc) e levando a economia a depender de pessoas endividadas."

Diz-se que a economia está melhorando pois a Dilma caiu nas pesquisas, eu acho que não tem a ver com Dilma e sim com o pós-Copa. Mas e se houver mesmo uma bolha? Aí ao invés da economia melhorar teremos uma crise. Que talvez se dê nas eleições ou depois e dirão que a crise veio por causa da reeleição de Dilma (se é que será reeleita, claro). Só que a culpa não será do modo como o mercado vê a Dilma e sim por causa do estouro da bolha imobiliária, culpar a Dilma seria tão errado quanto associar a crise dos subprimes americanos com Obama.

O curioso (e talvez irônico) é os protestos contra a Copa terão segurado para que os investimentos não exagerassem na expectativas quando aos eventos, e talvez até tenham evitado que surgisse a bolha e a crise.



segunda-feira, 2 de junho de 2014

O inacreditável desserviço dos Black Bloc ao darem entrevista para o Estadão

Atualização 1: Escrevi partindo do pressuposto de que a entrevista é verdadeira, mas estão surgindo dúvidas de que seja falso como outro caso envolvendo o PCC (escândalo Gugu-PCC), o jornalista Lourival Sant'Anna já foi condenado por falsificar reportagens e o site DCM (Diário do centro do Mundo) duvida da autencicidade da entrevista.

Atualização 2: "Ler só a manchete faz mal à democracia" também tem uma análise interessante.

Está repercutindo na internet a entrevista que os Black Bloc deram com exclusividade ao Estadão, trechos ou comentários existem no Terra, Uol, BrasilPost, Brasil 247, etc.

Vamos então fazer uma leitura cuidadosa dessa notícia do momento.

Engraçado que apesar deles serem "preocupados com a imagem perante a opinião pública", eles "decidiram, falar, pela primeira vez" justamente com o Estadão! É mais do que um tiro no pé, isso é prejudicar um conjunto de pessoas muito maior, é causar um dano coletivo!

A mistureba que promoveram (sendo o pior, misturar manifestações com PCC, lógico!)

É um caso inacreditável de burrice: como um grupo que evitou falar com a imprensa com medo da imagem solta uma declaração de que espera que o PCC dê as caras na Copa? Será que eles foram ingênuos de não imaginarem que isso seria título da manchete? E se foi proposital, pior ainda, eles estão associando a imagem do todos os manifestantes com o crime organizado! E soltam isso justamente para imprensa conservadora que tem delírios do tipo associar PT às FARC, ou ainda, o Movimento Moradia no Centro (MMC) com assassinato, aliás deste último caso, a polícia tentou incriminar o líder desse movimento ao invés de ir atrás do verdadeiro assassino, eu eu fui lá no Fórum Barra funda (SP) acompanhar o julgamento do Gegê, não foi mole não, e o caso era tão absurdo que o próprio promotor do caso (a acusação!) atestou a inocência do Gegê!

Enfim, dá um trabalhão separar as coisas e vem os Black Bloc dizer "...não somos contra o PCC, só que eles tem poder de fogo muito maior que o MPL (movimento Passe Livre)". Ora, PCC tem armas de fogo, mas o MPL tem o que? Armas um pouco menos poderosas, é isso que os leitores do Estadão devem entender? Pior que tem um trecho assim "'A gente estava bem armado', disse o veterano, sem detalhar o tipo de arma. Eles têm usado coquetéis molotov, pedras e escudos improvisados." Aí os leitores para a imaginação do leitor que tipo de armas o MPL tem (o mais trágico é que eles são pacíficos e não têm arma nenhuma...)
O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize .http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,black-blocs-prometem-caos-na-copa-com-ajuda-do-pcc,1503308

Se o tal "veterano" quer associar a imagem dos Black Bloc ao PCC é problema dele! ("Conheço muito a cara do PCC. somos os nerds do lado da casa deles. O crime organizado respeita a gente porque nasceu de mentes pensantes"), mas associar outros, como o MPL é irresponsabilidade! Prejudica o movimento!

E não é só o MPL que os leitores vão associar ao crime não! "O veterano, que cita o anarquista canadense Woodcook e Racionais MC", "A bailarina ... gosta do filósofo germano-americano Herbert Marcuse" pode apostar que daqui em diante vai ter gente associando isso ao crime.

Também tá no texto que "participaram da ocupação da Câmara Municipal do Rio", "estão associados a um grupo no Recife", "ativistas colombianos e venezuelanos vieram trocar experiências", "A bailarina  está interessada nos Zapatistas e prepara´se para ir visitá-los no México", tem um membro que "estuda direito em faculdade privada" (que talvez se chame o mesmo que "citou artigos da Constituição e do Código de Processo Penal", mas veremos isso adiante) o que acaba associando os Black Blocs aos AA (Advogados Ativistas) e outro membro "programador de 32 anos", um hacker que acaba fazendo com que se suspeite que também tenham ligação com grupos que usam hacker-ativismo (tal como Anonymous).

Note-se que apesar de criar muitas ligações com inúmeras organizações, eles são diferentes pois não têm Facebook nem nada, ao contrário de todas essas organizações acima. Aliás o pessoal do AA foi contatado para dar entrevista à Veja e eles responderam de uma maneira muito inteligente (leia aqui), eu achava que Black Blocs que nem Face têm fossem espertos também, mas vejo que são burros.

Afinal, quem são eles?

Pela reportagem, a maioria, "Quase todos concluíram, abandonaram, ou fazem faculdade", são citados cursos de humanas como Ciências Sociais, Ciência Política, Direito. Dá impressão que a reportagem quer incitar o ódio sobre os cursos de humanas, e aliás note-se que não é citado o curso que a "bailarina" faz, meu palpite é que como não é da área de humanas, o repórter preferiu omitir.

Esse mapeamento do perfil deles tem intenção clara de colocar eles dentro do "radar" da polícia. Já no primeiro parágrafo se diz que "continuam fora do radar da polícia", e mais adiante que "apenas um foi fichado".

Se bem que mais à frente, segundo o depoimento de um Black Bloc, "A maioria dos presos é punk", "A gente cola com os punks. São inteligentes, não são vândalos", "A polícia prende os punks, e por causa da cor da roupa, diz que são black blocs". Quer dizer, uns parecerão Black Blocs, mas não são. Muitos punks foram presos, mas só um Black Bloc foi fichado.

Além de se misturar com os punks, outra tática é descrita assim: "o veterano, protegendo-se apenas com sua mochila, investiu contra a tropa de choque. Pegos de surpresa, os policiais dispararam bombas de gás lacrimogêneo, que atingiram a multidão, enquanto ele saía de cena, ileso." Isso a meu ver é uma covardia tremenda, a pessoa provoca e não fica ali para aguentar as consequências! (a propósito, o porque desse repentino feito "heróico" - ironia- de enfrentar o choque só com uma mochila se eles têm coquetéis molotov, pedras, escudos improvisados, e dizem que o PCC tem mais poder de fogo que o MPL?)

Black Bloc exploram o caos e despreparo da polícia, e assim no futuro a polícia será menos caótica e mais preparada sim, mas porque o despreparo e caos serão legitimados.

Quando a polícia investe contra manifestantes (enquanto os Black blocs escapam), a polícia mostra o despreparo e caos, bate nas pessoas (o padre Julio já presenciou agressão a cinegrafista) e daí que uma das demandas fortalecidas após as manifestações de junho do ano passado é a desmilitarização da polícia (que felizmente virou até projeto de lei, embora não se saiba o que virá a seguir).

Se já está bastante evidente que a polícia brasileira é despreparada (veja a fala de especialistas sobre tiros num ônibus sequestrado), violenta. Mas o que os Black Bloc vão conseguir após essas declarações associando movimentos sociais ao PCC, citando o episódio em que o PCC conseguiu colocar a cidade de São Paulo em alerta? Ora, a violência passará a ser norma, com apoio da população (na internet estão aparecendo muitos comentários do tipo "tem que espancar nesses PCC-Black Block"), e olha que ironia: a polícia do futuro será mais preparada porque o despreparo será tolerado!


De que vivem? quem os financia?

São descritos como pobres que moram na periferia, como classe média baixa que mora no centro e apenas um, de classe alta com pais que moram na região nobre. Uma das integrantes, que ficou contente com a greve dos motoristas, "vive da renda de um aluguel". O "veterano", conhece o PCC por morar na ZL, é contado que joga molotov com gosto pois aos 14 anos, levou um tapa da polícia (quando se colocou na frente da mãe) e que na época vivia num barraco.

Como como é que ele, que vivia no barraco, e outros, pobres ou classe média baixa, agora vão para cidades do nordeste, participaram da ocupação no Rio, e tem uma colega que vai para México? Não só, isso, diz-se que alguns largaram o trabalho e vivem apenas do ativismo! Como assim?

Será o único membro da classe alta que financia todos? Como cosneguiram contato com colombianos e venezuelanos? E não sei se por maldade do repórter, mas ele chamou de "aparelhos" os apartamentos que usam. "Aparelhos"? São guerrilheiros que assaltam bancos para alugar os "aparelhos"?

Veja que temos os ingredientes para teorias da conspiração: pelo jeito tem muitos contatos, uma rede, uma estrutura financeira, diz que é vizinho do PCC... Como eu disse antes, se eles querem levar a imagem do movimento deles para o buraco tudo bem, mas envolver outras organizações... é praticamente um crime! E pensar que agora a suspeita cai até sobre a pacífica Ocupação Estelita de Recife, nem sem-terra, nem sem-teto eles são! São apenas gente que quer uma alternativa social e ambientalmente melhor para o cais. Que não quer ver coisas assim.

Daqui a pouco vão dizer que partidos estão financiando, e aliás, sem conseguir provar nada, o Brasil 247 já ligou PSOL ao Black Bloc, o próximo passo vai ser ligar PCC ao PSOL e dali a pouco Marcelo Freixo, de combatente das milícias, vai ser acusado de miliciano! Eita!

Foi uma forçada de barra tentar estabelecer conexão entre PSOL e Black Bloc (a história dos manifestantes pagos, denunciada pelo advogado que estranhamente estava "defendendo" de graça os manifestantes que teriam dito isso - "defendendo" entre aspas pois parecia mais interessado em colher depoimentos para usa ideia, mesmo que algumas dessas declarações de seus "clientes" até piorassem a situação deles). Na matéria do Brasil de Fato você vai entender o que houve e entender porque isso virou piada nas redes sociais (#LigaçãocomFreixo).
 OBS: não é meio estanho que sai uma matéria dessas com indiretas de recursos fantásticos que possibilitam pessoas ativistas largarem os empregos para viverem só de ativismo quando o PSOL vai precisar "passar o chapeú" para financiar a campanha para governador?

Iranildo também é um Black Bloc?

Nos tempos de internet, em que você pode ter uma página HTML para cada matéria, só posso concluir ser proposital que no fim da matéria do Estadão com a entrevista dos Black Bloc, apareça uma segunda matéria, "Enfrentar a polícia com a lei também faz parte da 'ação direta'", em que é entrevistado Iranildo, tem foto dele. é mencionado que é herói dos Black Bloc (supondo que ele é um advogado tal como o pessoal do AA, não vejo porque chamálo de herói dos Black Bloc e não heróis dos manifestantes em geral).

É mencionado que Iranildo estuda numa faculdade particular, mora na região central e tem a mãe empregada doméstica. Essa descrição bate com a descrição do estudante de Direito Black Bloc não identificado da matéria anterior! Supondo que são pessoas diferentes, temo que vão investigar o pobre Iranildo que não tem nada a ver! Pela matéria, a única divergência é que o anônimo estudante de Direito Black Bloc faz estágio numa imobiliária, enquanto Iranildo faz numa empresa de advocacia. Ah, e não sei porque é mencionado que o anônimo tem bolsa 100% pelo Prouni, talvez para atiçar a antipatia do leitor.

Mas Iranildo ser suspeito de ser Black Bloc é apenas a ponta do iceberg pois...

Reforçando a conclusão:

Graças ao desserviço dos Black Blocs, todos agora serão suspeitos de serem ou terem ligação com os Black Blocs e PCC. Manifestantes sofrerão mais (e supõe que os black Blocs vão incitar a violência policial e sair de fininho como descrito na reportagem) e vai ter mais gente apoiando que manifestantes apanhem, pois podem ter ligação com o crime organizado. Vale lembra o nível de descontrole da polícia logo após os ataques do PCC (55 pessoas da periferia mortos em 36 horas, inocentes jazendo do lado de suspeitos de ligação com PCC). Temo que até movimentos obviamente pacíficos como Ocupação Estelita de Recife sofram, já que até o provável também que procurem armas do MPL (como isso soa ridículo!). PSOL poderá ter dificuldades de conseguir verbas para campanha para governador, pois pessoas suspeitarão que o PSOL tem ligação com a crime organizado apesar de ter combatido a milícia do Rio (isso soa ridículo demais, pois Freixo inspirou o personagem Fraga de Tropa de Elite 2 , assim como a repórter Clara, do mesmo filme, deve ter sido baseada no relato desse sobrevivente). 

Com a proximidade da Copa estão ocorrendo várias mobilizações, manifestações. TEnho em São Paulo muitos amigos que são para essas manifestações, ou defendem os manifestantes, como Advogados Ativistas. Fico triste de pensar no que rola na mente dos leitores que viram essa entrevista do Estadão.

Sinceramente, se eu souber que um amigo meu foi mal-tratado, tenho vontade de dar um tapão nesses Black Blocs.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Abaixo o Bolsa-Família! Quero ganhar também! Quero Renda Básica!... E o comunismo que defendo

Para fechar (por hora) a série sobre essa conjuntura maluca em que existem os defensores da ditadura para afastar o PT, vou focar numa das principais acusações contra o PT: o Bolsa-Família.

Dizem que o Bolsa-Família é como a compra de votos, que cria vagabundos, etc.

Já se argumentou que o Bolsa-Família não foi criação do PT (confirmada pelo próprio site do PSDB), que não gera dependência (afirmação do diretor do Banco Mundial) e que tem gente que abre mão quando se alcança a meta da independência. Aliás do 1° link, que leva à proposta do Aécio de transformar a Bolsa-Família em política de Estado, eu não gostei muito da reação do governo que adiou a votação pois transparece que as disputas eleitorais estão em jogo.

Mas... eu não estou aqui para defender o Bolsa-Família! Na minha avaliação o Bolsa-Família está sendo prejudicado por causa de todos esses boatos que querem derrotar o PT (por mais que exista desde o PSDB). Dizem que a Pax Romana ruiu pois o clima ficou muito ruim, com intrigas de poder. Por mais que o Bolsa-Família seja diferente do "Pão e Circo" dos romanos (convenhamos que é minimamente mais seletivo e mais produtivo do que apenas entreter a massa de pobres), não vejo com bons olhos todos esses boatos de que se cria vagabundos, etc. Infelizmente os pobres são sofredores e os boatos afetam eles, e muitos acabam achando que "não é o lugar", e esse sentimento de inferioridade acaba produzindo baixa-estima em alguns e estes acabam abrindo mão de oportunidades (Enfim, é diferente da imagem que se propaga como se os pobres fossem abusados que aproveitam coisas como a política de cotas e cuspissem na cara de quem ficou fora).

Mas a solução que proponho não é a extinção de benefícios. Acho que a solução é estender esses benefício a todos, uma ideia que inclusive já está aprovado (por unanimidade!) no Senado. Trata-se de um sonho antigo do senador Suplicy, mas que não seria aplicado de imediato, e devia haver um período de transição, sendo um dos instrumentos de transição a eliminação primeiro da miséria. Suplicy tenta convencer a Dilma da importância desse projeto, que é bem fundamentada teoricamente (ver Wikipedia).


Está havendo tanta polêmica quanto ao Bolsa-Família que penso se não seria melhor já partir para a próxima etapa, a do Renda Básica. Ao invés de cortar um benefício, estender a todos.

Tenho um ponto de vista teórico um pouco diferente do link acima que leva à Wikipedia. Adam Smith (pai do capitalismo) dizia que existe o valor de uso e o valor de troca. Diamantes podem ser pequenos mas ter um enorme valor de troca, e o ar, indispensável aos seres vivos, não ter valor de troca, apesar de ter valor de uso gigantesco.

Penso que o capitalismo tem destruído muitos recursos naturais, e talvez no futuro até o ar seja mercadoria. Ou seja, altera até o exemplo de Adam Smith. E se ao invés de caminharmos para esse futuro sombrio (guerra por água já é mais ou menos prevista), que tal tentar o caminho inverso? Fazer de uma pequena quantidade de dinheiro algo básico e vital como o ar?

Quem já passou pela pobreza, ou por condição de imigrante, ou alguma outra condição precária, sabe que o abiente influencia muito as pessoas. No filme Pregnancy Project é mostrado que quando todos começam a cochichar que grávidas na adolescência tem poucas perspectivas de futuro, as próprias grávidas começam a acreditar que não tem muito futuro. Estou preocupado que essa campanha da mídia está promovendo leva os mais pobres (justamente os mais fragilizados) a acreditarem que por receberem Bolsa-Família, por disputarem cotas, etc eles são incapazes, ou até mesmo bandidos. Infelizmente palavras podem influenciar as pessoas. Tem também casos de meninas que foram estupradas e de tanto ouvirem comentários de que talvez elas fossem culpadas pelo estupro, acabaram mudando a vida delas para se adequarem ao que as pessoas pensavam delas, até pela desorientação e crise de identidade.

É curioso que isso lembra as profecias que se auto-realizam. Os capitalistas dizem que isso pode acontecer no sistema financeiro, e por isso não se deve espalhar más notícias à toa: se acionistas ou empregados acreditam no boato de que a empresa não tem muito futuro, a falta de motivação acaba tornando isso realidade.

O socialismo (ou melhor, transição) que defendo 

 

Às vezes, o melhor quando surge uma dificuldade não é retroceder, mas acelerar os passos para ir para frente.

Se há ameaças para o Bolsa-Família, talvez seja melhor ir para a próxima etapa, que é a Renda Básica. Claro, não implementar assim, simplesmente em resposta à campanha negativa da mídia, melhor estudar melhor a experiência do Alasca, por exemplo.

Vi que não sou só eu que penso assim, vide Alasca, pré-sal e Renda Mínima.

Dizem que "comunistas" querem maior intervenção estatal até virar um Estado stalinista. (Não sei por que acreditam que admiradores de Rosa Luxemburgo, Trotsky, Rosdolsky, etc admirariam Stalin se esses autores foram perseguidos pelo stalinismo). Mas é de se lembrar que Comunismo deveria ser entendido como uma etapa além do Socialismo, em que o Estado será extinto.

Acho que a esquerda mesmo esquece por vezes disso, de como o caminho é desafiador, é necessário ser criatividade.

E quanto ao racionamento de água... 

 

O Estado de São Paulo está passando por dificuldades na captação de água, dizem que racionamento é eminente. É um problema que não se pode ignorar (embora, haja gente desse governo que tente ignorar o problema da contaminação do solo da USP Leste dizendo ser intriga da oposição). Um tempo se dizia que quem reduzisse o consumo ganharia descontos, mas ao invés disso pode haver multa para quem consumir mais.

Aliás acho que se o governador fosse do PT e não do PSDB, comparariam esse racionamento ao racionamento soviético... de qualquer forma temos um problema que envolve o Estado, consumo coletivo e individual da água. Ainda bem que não compararam a URSS, pois isso só afastaria da solução, pois não é simplesmente dizendo que é coisa da oposição (como acima, quanto à USP) que o problema se resolve. Tampouco adianta dizer que isso de economizar água é um papo muito ambientalista e comunista.

Estado não deveria ser encarado como quem toma decisões que só enchem o saco da iniciativa privada.

Se houvesse incentivos para quem implementasse melhorias nas residências para reduzir o consumo, por exemplo com desconto nos produtos necessários para tal seria um meio mais eficiente do que pedir para reduzir o consumo temporariamente. Seria melhor do que os cidadãos culparem uns aos outros pelos consumo e ficarem esperando que seu ideal de vida não seja alterado (como se ser anti-comunista, fosse um passo para um dia alcançar aquele estilo de vida em que se é rico o suficiente para não ter de prestar contas a ninguém).

Refletindo agora, os melhores debatedores tanto do capitalismo quanto do socialismo/comunismo são aqueles que enxergam as peças como um todo ao invés de só defenderem o pedaço da propriedade privada, o pedaço dos direitos que o Estado garante, o pedaço do indivíduo, o pedaço do coletivo, etc.

O Comunismo encarado como etapa posterior do Socialismo significa que após a desigualdade diminuir, após empoderar as pessoas, elas vão viver com suas próprias pernas pois a meta é extinguir o Estado. E se é para no final favorecer o indivíduo de qualquer forma, pelo bem do coletivo, temos de ser criativos e enxergar além do individualismo (tanto do rico que se acha exclusivo, quanto do pobre que agora está melhor mas almeja o consumismo), além de defender o coletivo chamado Mercado ou o coletivo chamado Estado. Tanto o Mercado quanto o Estado podem acabar causando a massificação e coisificação de pessoas (o outro ser humano é uma coisa, um dócil serviçal ou  um ameaçador concorrente). Enxergar o Bolsa-Família como algo que todos poderiam ganhar ou enxergar o problema da água como soma do consumo de indivíduos são pequenos exemplos que deixo para dizer que a meta de qualquer forma é o ser humano.

Brasil (contraditoriamente) se abrindo ao mundo

O movimento é muito confuso, principalmente para quem adota o ponto de vista da esquerda radical (bem, já comentamos isso no post anterior).

Eu estava lendo o texto "Ascenção da classe C à Bolsa de Valores."(tente acessar esse link, se não conseguir procure por Convibra - Congresso Virtual Brasileiro de Administração, o texto da autoria de  Jeany Jesus dos Santos).

Acontece que o texto acima é muito otimista dom o Brasil na questão por exemplo do PIB, e por isso mesmo seria taxado de pró-governo e consequentemente pró-comunista. Ora essa, não tem o menor sentido pois como o próprio texto diz, esses investimentos da classe C na Bolsa significam aumento de propriedade privada, e não me refiro apenas ao aumento de riquezas que as pessoas da classe C possuem, mas ao aumento de investimentos que é direcionada aos investimentos privados da Bolsa.

Mas, na outra ponta, tava assistindo o documentário Inside Job no Vimeo (que fala da crise econômica mundial de 2008) e lá encontrei o seguinte comentário (que aqui tentei traduzir).

"Esse é um olhar bastante Asa Esquerda (Left Winged) quase comunista do que as regulações devem fazer num mercado livre. Eu achei hilário como esse filme brada contra os bancos. Verifiquei que PESSOAS/CONSUMIDORES é eu pegaram dinheiro emprestado concordando com termos e obrigações que eles concordaram em pagar! Em que lugar do mundo (expressão "How on earth" pode ter conotação "em que diachos de mundo") consumidores pegam empréstimos que não podem pagar? Bancos são negócios e quando oficiais eleitos (eleitos pelas pessoas, não pelos bancos, se você não sabe) passam leis que deixam bancos emprestarem dinheiro mais facilmente, por que no mundo (novamente "why on earth") os bancos mesmos deveriam se regular? A incompetência e irresponsabilidade dos pegadores de empréstimos é que deveria ser denunciada, gente. Espero que todos percebam isso. Bancos não têm culpa aqui. Eles só jogaram como foi permitido. A desregulação dos consumidores e congressistas (feitos na maior parte por Dodd Frank e a adminsitração Clinton) têm muito mais senão toda a culpa. Esse filme é um pedaço da propaganda da asa esquerda."

Assim, Inside job seria um filme esquerdista e quase comunista! Acho incrível opiniões como essas!

A pessoa desse comentário não deve ter assistido o filme direito, pois apesar do comentarista colocar como se os bancos não tivessem culpa e só tivessem feito o permitido (e ele acha um absurdo cobrar dos próprios bancos auto-regulação, como se bancos cachorros descontrolados que se mordem alguém é culpa da focinheira que falhou), o filme mostra que muitos dos políticos que aprovaram essas leis tinham estreitas ligações com banqueiros, e eram até mesmo ex-banqueiros.

E os empréstimos faziam parte dos produtos que os bancos vendiam aos clientes, e esses bancos apesar de dizerem que esses investimentos eram seguros, eles mesmos faziam aplicações de maneira que se não desse certo, eles ganhavam dinheiro. Cenas do filme mostra uma espécie de CPI indagando como eles passaram esses produtos aos clientes se eles mesmos entre eles chamavam de "crap" (porcaria). Para tornar as coisas piores, entre os clientes estavam fundos de aposentadoria, que por estarem mexendo com o futuro de trabalhadores não podem fazer aplicações arriscadas, mas como as avaliadoras davam nota "triplo A", o dinheiro foi aplicado e depois perdido. Pior que nessa "CPI" essas empresas de avaliação aparecem dizendo que eram apenas "opiniões" e não poderiam ser responsabilizadas por fracassos!

Isso de culpar as "PESSOAS/CONSUMIDORAS" pela crise, baseando-se de uma ideia moralista de que quem pegou emprestado deve devolver é muito perigosa, como escreveu um Nobel de Economia.

E porque essa ideia moralista é anti-esquerdista? Entre os que pegaram empréstimos não havia ricos? Sim, mas a crítica moralista parece se referir a classe baixa/média que pegou empréstimos.

Bom lembrar que empréstimos podem aparecer em forma de empréstimos mesmo, por exemplo ajuda para comprar eletrodomésticos, ou em forma de pacotes de investimentos dos bancos. Nessa segunda forma você investe esperando rentabilidade, e pacotes com derivativos incluíam apostar se o banco ia ter lucro com cartões de crédito, etc. Repare que então os pacotes com siglas complicadas como CDOs incluíam apostar se pessoas usariam corretamente cartões de créditos, se a loja de eletrodomésticos teria lucro, que por sua vez se relaciona com apostar se conseguiu linha de crédito dado pela loja de eletrodomésticos vai mesmo pagar todas as prestações para ficar com o eletrodoméstico.

O que quero dizer com a observação acima é que a direita fala como se a culpa fosse daqueles "pé-rapados que vão para Casas Bahia", mas na verdade incluem também uma classe média  até que razoavelmente sofisticada (média-alta), daqueles que comentam uns com outros que fez novos investimentos no banco. E não é culpa dessas pessoas, os bancos fazem pacotes de derivativos difíceis das pessoas entenderem. Derivativos em si são difíceis de entender, veja 2 ou 3 primeiros minutos do vídeo abaixo:


Bem, duvido um bocado que alguém da classe média-alta esteja lendo esse blog, mas pelo jeito é isso mesmo: a desigualdade de renda é tão grande que quem tem perfil arrojado e investe em bolsa também faz parte do mesmo balaio dos clientes tipo "Casas Bahia". Eu mesmo fiquei chocado outro dia ao descobrir que no ramo de tecnologia empresa com faturamento de 2 milhões é considerada pequena ou média. (sim, eu e você somos pobres...)

Voltando ao texto lá do alto, quanto à ascenção da classe C, o que vemos que muito longe de algo comunista, a entrada dos mais de baixo na Bolsa de Valores é muito capitalista. Certa vez vi uma edição muito antiga de Reader´s Digest (tipo, de 50 ou 60 anos atrás) que comentava que o capitalismo estava entrando num país novo. Não lembro qual era o país, era algum lugar tropical. Se dizia que as pessoas daquele lugar eram muito pacíficas e que antes estavam apenas interessadas em viver a vida delas. Mas que elas estavam se interessando em deixarem de serem preguiçosas e conseguir mais coisas do que aquele meio de vida proporcionava. Esse é o espírito do capitalismo: incutir nas pessoas a ganância e necessidades cada vez maiores.

Seria fazer um resumo curto demais, mas a crise de 2008 tem a ver com convencer as pessoas que eram donas de suas casas e colocar as casas como investimento. Disseram a elas que seria vantajoso para todos: elas poderiam continuar a morar nas casas, e elas não perderiam-nas pois o investimento seria seguro. Ao mesmo tempo, o banco lucraria com o volume maior de investimentos e daria uma parte do resultado aos moradores das casas. Quando veio a crise, pessoas tiveram de sair das casas que foram construídas por seus avós.

Os filmes Inside Job de Ferguson e Capitalismo - uma história de amor de Moore mostram como as pessoas foram enganadas pelo sistema financeiro.

Quanto ao Brasil, há risco de bolha imobiliária, como aconteceu nos EUA? Parece que o debate vai no sentido de que não há, ou, que se havia, está murchando (juro que tentei juntar um sim e um não). Eu pessoalmente estou preocupado pois tem apartamentos mais caros que castelos europeus e não só Casas Bahia, mas diversos serviços estão abrindo linhas de crédito (para aposentados, para Minha Casa Minha vida, etc) e levando a economia a depender de pessoas endividadas. 

Pensando bem, tudo isso é bem paradoxal: a direita diz no comentário do Vimeo que a culpa da crise foi dos pobres Provavelmente a pessoa não gosta do Obama e acha que ObamaCare é comunista, embora EUA não possuam nem licença-maternidade. Aliás lembram do incidente de tiros perto da Casa Branca naqueles meses de tensão se ia rolar a dívida americana em 2013? Atiraram numa mulher que estava desempregada pois perdeu o emprego após se descobrir grávida, leia esse artigo do Fem Materna.

Resumindo, estou estupefado como vêem comunismo em todas essas coisas capitalistas. Se os mais pobres estão melhorando de vida com Dilma, Obama, não percebem que isso ao invés de afastar do imaginário dos valores ociedentais-europeus, está mais é aproximando do sistema de seguridade dos europeus? (Mas com a crise na Europa, eles estão perdendo aqueles direitos, e assim do lado de cá, quando a vida melhora, se reclama que são tentativas de cubanizar o Brasil e que apesar dos impostos altos, não vivemos como na Europa. Só que é uma Europa imaginária que não passa pela crise...)

(mas talvez eu não devesse parar de ligar para essas críticas. Já escrevi anteriormente como "comunismo" é histeria da mídia. Mas há exemplos ainda mais bizarros, como o Homem-Aranha negro ser acusado de ter cara do Obama e ameaçar os valores americanos!)

Quanto à isso de reclamarem da Classe C, ver também "Elite do país se acha 'made in USA'" e "Ricos perdem exclusividade e relcamam de classe emergente".

sábado, 5 de abril de 2014

sobre PT e avidez pelo poder. E "comunismo" é modismo da mídia

Dizem que o PT é "comunista" e por isso é ávido por poder. Esse argumento é usado para dizer inclusive que é melhor que a ditadura volte para tirar o PT da cena, e quando o terreno estiver limpo. (que perigo esse pensamento!)

No post anterior pincelamos que o efeito pode ser o oposto (já que mesmo defensores de tal ideia admitem que a ditadura de 64 durou muito mais do que o prometido), dessa vez vamos comentar sobre a avidez do poder por parte do PT.

Alguns dados


- no período final da ditadura, movimentos populares queriam a volta da democracia. Vem então o Colégio Eleitoral (aquele que elegeu Tancredo mas quem assumiu foi Sarney). MDB aceita, mas o PT não. Se havia pressão popular que estava conseguindo derrubar a ditadura, porque não usaram a "avidez pelo poder" para já subirem embalados pelo povo?

- OK, mas de qualquer forma, tivemos Sarney, e Colloristas dizendo que eleição era uma conquista, coisa de 1°mundo, e que o povo devia aproveitar para eleger um bonitão (dizem que uma das propagandas de Collor parecia até comercial de shampú!). Durante a campanha eleitoral, Collor disse que Lula tinha uma filha ilegítima, mas então petistas descobriram que Collor estava envolvido num caso de estupro. Dizem que imploraram para Lula usar essa informação como resposta para Collor, mas Lula não quis usar para não baixar o nível.

- Collor se revelou super corrupto (com nível de corrupção que chegava a assassinatos, vide PC Farias, o que é bem diferente de dizer que PT também mata pessoas por fome, ou ainda, a delirante versão de que pessoas estão sendo assassinadas pelos médicos cubanos). no episódio do impeachment, os que iam saindo da base de apoio do Collor, juntamente com a mídia, diziam que a saída deve se dar dentro das normas da institucionalidade, inclusive ao invés de chamar novas eleições, deveriam apenas deixar que o vice, Itamar, assumisse. PT aceitou. 

Isso hoje em dia soa estranho (para não dizer impensável) quando se diz que se um projeto de governo não dá certo deve haver uma ruptura radical como o golpe militar, nem novas eleições e muito menos vice assumir! O vice seria xingado no mínimo de gente da mesma quadrilha!

-  Finalmente o PT subiu à presidência a meu ver, isso de "governo de todos" foi uma "marca" ou  "slogan" mais fruto da mídia que do próprio PT (desculpem o pessoal de marketing que bolou "Brasil - Pais de Todos"). A meu ver, o empresariado se sentiu acuado e por isso disseminou essa ideia de que deve ser uma união de forças e não de luta de classes. Atualmente dizem que PT obviamente significava "comunismo" (ah, e anos atrás eram um pouco mais amenos e falavam em "república sindical"). É bem curioso: a mídia dizendo que  o PT é comunista cresce na mesma proporção que o PT vai deixando para trás a imagem alimentada pelos velhos militantes mais "comunistas"...

Atualmente é incrível relembrar como em 2003 o PSTU pedia para o MST romper com o governo pois a composição do CDES era 50% para cada lado (trabalhadores e empresários) (!!!!).

Quando havia metade para cada lado, os "velhos comunistas" ("velhos" para a mídia, é claro) reclamavam que era muito alto a porcentagem de empresários, e a medida que o governo foi deixando cada vez mais de ser considerado de esquerda pelos esquerdistas, curiosamente, foi "subindo" de patamar: passou a ser "república sindical" quando sindicalistas iam saindo de espaços (como CDES), e passou a ser domínio de comunistas quando ninguém sério consegue ver traços de comunismo no PT(nem a FIESP!)

- Mas o governo ia seguindo, apesar de que vira-e-mexe surgiam "crises institucionais" com o STF, mesmo quando elas não tinham fundamento. Mas enfim, crise institucional significa que as instituições estão brigando, certo? E se estão brigando cada um tem poder para brigar, não? É muito estranho que após o STF condenar mensaleiros, agora, só porque João Paulo Cunha foi absolvido, estão dizendo que todo o governo é dominado pelo PT e que eles está tudo dominado desde que o Lula assumiu!

- As coisas continuam sendo votadas (e não decretadas como numa ditadura) e inclusive em casos como a PEC 37 ("PEC da Impunidade"), em que as pessoas tinham certeza que o PT era a favor da PEC por "ser o partido mais corrupto", não só a proposta de "impunidade" foi rejeitada, como curiosamente, os petistas não votaram a favor da "impunidade", os favoráveis eram de partidos da oposição, muitos do PSDB!

- Isso de dizer que já vivemos numa ditadura nos moldes cubanos e venezuelanos, não faz sentido porque o PT acumula uma história, que como vimos, não é de ficar dominando.

Dizer que ditadura por ditadura tanto faz, para começar a Venezuela não vive numa ditadura. O que aconteceu lá são coisas do tipo o Chávez ter mudado a constituição logo após chegar ao poder. Analistas internacionais chamaram isso de democratismo ou abuso da democracia: aproveitar a popularidade para fazer mudar as regras do jogo (contudo, mesmo mudando a cosntituição, não é que aboliu-se a oposição, etc). Só que outros, ao invés de "democratismo" resolveram usar um termo que pegasse mais na língua da oposição: "ditadura". Faz sentido? Bem, os militares brasileiros aproveitaram a popularidade das Marchas da Família com Deus para tomarem o poder. E mudaram muito mais regras que Chavéz. O problema é que não dá para chamar eles de usarem "democratismo" pois simplesmente não chegaram lá por voto!

País "Comunista" é a última moda da mídia (já fomos República Sindical, Grampolândia, etc)

País comunista, como assim? Segundo o que diz a mídia atual, comunista é um ser perigoso, e as pessoas tem de ficar atentas, ao menor sinal, é melhor suspeitar, isolar. Por exemplo, se for ambientalista demais, suspeite! Ensina Reinaldo de Azevedo. Contudo, se é necessário suspeitar ao menor sinal, como se explica que na posse de Lula em 2003 a mídia não alertou desse perigo? Como se explica que é no décimo ou décimo-primeiro ano do PT que alertam para o perigo comunista, sendo que antes disso o perigo era de vivermos na República Sindical, ou ainda Grampolândia?

Mas quer saber? Isso quer dizer que isso de "comunismo" é apenas a última moda histérica da mídia. As pessoas não deviam levar isso a sério, inclusive pois é uma das apelações mais perigosas, por alguns motivos:

- já tô vendo gente por aí dizendo que não se deve confiar na mídia, ou seja, a mídia está alimentando algo que pode fugir de controle e aí nem ela conseguirá reverter a moda que ela mesma disseminou.

- Antes direcionava-se a solução para PSDB, mas agora dizem que a solução é Golpe Militar, é bizarríssimo ver gente democrata dizer que apesar de ser democrata prefere militares a Dilma! Não faz sentido!

- Estão atacando a "esquerda caviar" (há patrulha ideológica, vide em cima da Letícia Spiller - que bizarro) é engraçado que esse ressentimento contra quem (aparentemente) está melhor de vida (pois come caviar) é escolhida como uma tática que dá certo, pois houve episódios da história em que isso foi usado. Como a clássica guerra de classes ou o fascismo, que botava culpa nos judeus (pois judeus seriam ricos, mesquinhos que sobram juros, etc). Quando essa tendência contra "esquerda caviar" fugir de controle, evidentemente ao invés de luta de classes, vai seguir uma tendência fascista (militarista já é...). E assim como o fascismo vitimava judeus, mesmo os judeus não-ricos, vai vitimar esquerda mesmo aquela sem caviar. Gente achando que pode-se passar a mão em mulheres de esquerda já tem (caso real que aconteceu na UFF) (veja também o incentivador desses atos, o caso do blog que defende "estupro corretivo"!!!) .

Citando Reinaldo de Azevedo (quem diria que um dia faria isso!), o perigo é de se perder uma cultura rica por causa dessa raiva. Azevedo lamenta a rica cultura da Rússia czarista que se perdeu, da mesma forma, essa histeria anti-comunista tá incentivando a raiva de quem não é caviar contra os caviares. Gente dizendo que ramos inteiros do conhecimento são ínúteis, como a área de humanas, vi outro dia uma pessoa dizendo que não acredita em psicologia, pois não é ciência. Tava na cara que era comentário de gente que não teve poder aquisitivo para cursar ensino superior (pois gente que estuda engenharia etc não daria um comentário crasso desses). Era um comentário que ia na mesma linha daqueles que perguntam porque universidade não pode cortar cursos para só ter 2 ou 3 cursos "úteis" (sem entender que 2 ou 3 cursos no máximo forma uma faculdade integrada mas nunca uma universidade). Enfim, uma raiva irracional está sendo disseminada.

Aliás da Grampolândia...

Isso daí era da época em que o empresário Daniel Dantas estava sendo investigado, e francamente, Dantas pagava jornalistas para conseguir apoio (só para variar, ao invés de texto veja essa série de quadrinhos). Isso explica a porque a moda de 5 anos atrás era discutir a "Grampolândia".

Brasil era um país ruim pois pessoas poderiam estar grampeadas. A moda agora é dizer que grampos não são problema se são os militares fazendo escutas para caçar comunistas. Daí Grampos tudo bem, assim como todos os outros métodos truculentos e de violação da privacidade (puxa vida, e pensar que na época da moda "Grampolândia", se achava absurdo simplesmente algemar alguém!)

Essa contradição é mais uma prova que todos esses rótulos são modismo.

E veja só... VEJA em 2003 (preocupado com a segurança pessoal do presidente!!!)

 (repare na legenda acima a preocupação com Lula)

A grosso modo a mídia em 2003 propagandeou que PT deveria ser um governo para todos (Veja, Estadão e Folha davam dicas ao governo dizendo para não ouvir a ala radical do PT), depois houve várias fases, República Sindical, Governo Lulla (2 Ls, assim como "Collor"), Grampolândia, etc até chegar na atual era Comunista.

Pesquisando, encontrei algo tão histórico quanto PSTU reclamando da composição 50% para cada lado que botei acima, o texto da Veja quando Lula tomou posse!

Trechos:

"A primeira semana de janeiro de 2003 já está inscrita na história brasileira. É histórica a chegada ao poder do ex-operário que, durante o discurso de posse, resumiu em poucas palavras sua extraordinária biografia de retirante nordestino a presidente da República. É histórica a gigantesca e vibrante manifestação popular que saudou, cantou, gritou e chorou na cerimônia de posse de Lula em Brasília. Antes, já era histórica a votação de Lula, eleito com quase 53 milhões de votos, ou 62% dos votos úteis, a mais significativa votação da era democrática brasileira e também uma das mais expressivas do mundo."

"O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, num discurso banhado por elogios ao antecessor, Pedro Malan, aproveitou para dizer a que veio sem usar meias palavras. Anunciou que vai propor a autonomia operacional do Banco Central, medida perseguida e saudada pelo mercado, mas que causa engulhos a uma boa fatia da militância petista."

Veja dando dicas para não ouvir a ala radical do PT, dizendo que o caminho bom era PT seguir o caminho que o PSDB já traçou.

Mais à frente, Zé Dirceu seria elogiado por proferir um discurso esquerdista estratégico para controlar a ala esquerda radical.

"(...) José Dirceu, novo ministro-chefe da Casa Civil. Lembrou a ascensão da esquerda ao poder, homenageou antigos companheiros, apresentou-se como representante da geração de 1968, não esqueceu os tombados na luta contra a ditadura militar e prometeu uma "verdadeira revolução social", pois, disse ele, "para que o Brasil ocupe seu lugar no mundo é preciso que nosso povo ocupe seu lugar no Brasil". Sua mensagem não significa uma repentina inflexão à esquerda. Dirceu fez um discurso para a platéia, mas tornou-se conhecido no PT como o dirigente que enquadrou as alas radicais do partido e trouxe a bandeira vermelha para uma posição de centro-esquerda para ganhar eleições, e não perdê-las."

Veja recomenda que Lula, com Berzoini e outros aproveitem a popularidade para implementar medidas necessárias mas impopulares, claro, para agradar o mercado, com reforma da previdência, reforma tributária, etc. Chávez aproveitou a popularidade da posse para mudar a Constituição. Veja acha que a nossa Constituição atrapalha por garantir direitos sociais demais, se fosse para mudar para agradar o mercado, provavelmente Veja apoiaria com louvor, da mesma forma que ela tentou popularizar um vídeo do ACM chamando militares.


(acima, a campanha "Veja- o Brasil que queremos" é de 2008, e o vídeo do ACM é de 2006, numa matéria que analiso melhor neste post recentemente atualizado)

O texto termina assim:

"(...) Lula deveria forçar-se um pouco a evitar o excesso de contato físico com desconhecidos. Se não por discrição, que seja pelo menos no interesse do país."

Ao mesmo tempo que Veja se preocupa com a segurança do presidente, era também um recado altamente simbólico, para que o Lula se afastasse dos anseios do povo.

ditadura defendida pelo centro: notas sobre enganos e enganações

Esse é um assunto que dá muito pano para manga, até tava rascunhando um texto com citações e tal, mas vi que ia ficar muito comprido, então vou colocar os pontos principais.


Bom, tem gente que quando vê uma discussão faz ponderações (com a pose de ponderados), e o que se vê é que alguns dizem que em alguns casos ditadura é melhor que o estado em que vivemos. (como se fossem pessoas que entram numa discussão carro x bicicleta, e dizem de "em alguns casos carro é necessário apesar de bicicleta ser importante ecologicamente").

Mas isso de "ditadura em alguns casos ser boa/necessária" não faz sentido, e até mesmo quem diz "o problema de 64 é que a ditadura deveria durar só uns anos para limpar o terreno, o problema é que se corromperam e quiseram ficar mais no poder" sabe que o risco é muito grande! (E isso porque estamos resumindo muito o risco, é toda uma estrutura e vai muito além de alguns quererem permanencer pela ganância de poder.)

Se formos nas motivações que originam essas falas, muitas versam sobre o suposto descontrole petista e ameaça comunista. Várias delas podem ser desmontadas, como o suposto interesse comunista no porto de Cuba ("artigo Fiesp e o capitalismo em Cuba").

Outros equívocos:
- acusam o "pessoal de direitos humanos", mas ao associar isso a comunismo, acabam levando a conclusões totalmente equivocadas e fantasiosas, como a de que o próximo passo fosse torturar os cidadãos de bem (até parece que quem é contra tortura de bandidos iria torturar pessoas que não são bandidas!), ou que esse pessoal na verdade não fosse de direitos humanos e sim comunistas que estariam querendo confundir as pessoas, para futuramente atacá-las!

Ora essa, as pessoas podem ser a favor de direitos humanos, contra os maus-tratos nas prisões, mas elas não estão querendo defender a impunidade dos bandidos, e muito menos ajudar os bandidos a atacar pessoas, e é delírio total achar que futuramente se quer atacar as pessoas sem a ajuda de bandidos!

- Outro equívoco é que as baixarias da TV fariam parte dessa permissividade. Aí eu vejo que a confusão chegou a níveis trágicos... ou tragicômicos:

Se repararem bem, as baixarias são mostradas em programas abertos e não por ditatoriais programas estatais. E mais, que no horário do telejornal, os engravatados falam como se vivêssemos num país com esculhambação, e um par de horas mais tarde, são os humoristas que reclamam do politicamente correto do "pessoal dos direitos humanos"!

Daí que o resultado é que opositores são taxados de censores ao mesmo tempo de permissivos, é muito contraditório! Denúncias de ataque a gays, mulheres, negros, etc são vistos como tentativas de censura, ao mesmo tempo que as pessoas reclamam de músicas e shows altamente machistas e apelativas, como parte da tentativa comunista de desestabilizar a família!

Eu teria um monte de exemplos para ilustrar o que escrevi no par de parágrados acima, mas fiquei tão desanimado que só vou comentar que tem gente "anti-comunista" que não vê problema no Gentilli fazendo piada que evidentemente destróí valores da família (pense na família dessa mulher, pense nos bebês que não contam com o leite dela!), mas o problema são mulheres amamentando em público e não a alta erotização da Tv pois isso é alegria do povo e alegria do povo é o que comunista não quer!

Só que se a ditadura voltar como tão pedindo, vão censurar essas apelações, os humoristas, etc e parte das pessoas vai tentar se resignar dizendo que é melhor assim pois estarão voltando aos valores do passado.

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Acima foram exemplos básicos de enganos, agora vamos às enganações.

O Partido Militar reindivica o número 99 para mostrar que eles são o mais à direita, mas outros defendem a direita sendo do centro, nem que conciliem discurso inflado com posição estratégica do centro.

Como assim? Veja esse bizarro abaixo-assinado pedindo Bolsonaro como presidencíavel! Não sei porque precisam de abaixo-assinado se quem tá pedindo e o alvo são do mesmo lado, direita (petição de opositores pedindo para tal pessoa sair do cargo fazem muito mais sentido, é um lado contra o outro). Não sei porque usam abaixo-assinado que é um instrumento democrático e de pressão popular (como outro dia questionaram: "esse pessoal que defende a ditadura pode-se valer de instrumentos democráticos para pedir o fim da democracia?"). Mas acima de tudo, estranho mesmo é que é um abaixo-assinado pedindo para combater o PT sendo enviado ao PP que está na base aliada do PT!



É isso que me chamo de enganação, já repararam que todo esse papo de volta da ditadura ocorre em ano eleitoral? Pois é, talvez seja uma tática dos centro só para fortalecer uma tendência política dentro do congresso para assim fortalecer a oposição. Uma tática da mídia (com seus colunistas direitosos) para desestabilizar os apoios eleitorais.

O risco disso é de fortalecer uma tendência extrema-direita paranóica, já vejo por aí nos comentários da internet gente que apesar de ter aprendido o anti-petismo com a mídia, estão dizendo que a mídia é cúmplice "comunista" a qualquer notícia que soe levemente boa para o governo. Enfim, o risco é de formar monstros que fogem do controle de seus próprios criadores.

O pior é que essa tendência (com suas similaridades e diferenças) existe nos EUA e Europa, e eles estão à beira da crise econômica que pode se espalhar mundialmente. Na virada de 2013-2014 os conversadores que chamam Obama de "comunista" quase impediram a rolagem da dívida americana, e nos dias do impasse o serviço público daquele país chegou a ser paralisado. E atualmente na Europa, a ideia moralista (mas desamparada pela economia) de que cada um deve arcar com as consequências de suas dívidas ameaça o euro (vide artigo escrito por Nobel de Economia).

Tem gente que reclama que Brasil está numa desgraça completa, e que teria havido milagre econômico durante a ditadura. Contudo, se os conservadores dos EUA e Europa vencerem, vai haver uma crise tão grande que as pessoas forçasamente vão se relembrar do Lula falando que Brasil pegou só uma "marolinha" durante a crise econômica mundial de 2008.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Um na multidão pensando sobre Brasil, Venezuela, Ucrânia (e se as coisas forem esquentar aqui no Brasil?)

A maioria dos amigos que tenho no facebook é dos tempos que eu morava em São Paulo, muitos deles estão participando dos protestos. Quando começaram a pipocar notícias da Venezuela, muitos deles trataram de ficar ao lado do governo de Maduro e indicaram que os protestos lá na Venezuela são conduzidos pela direita (que inclusive recorre a mentiras, vide http://revistaforum.com.br/blog/2014/02/como-se-constroi-uma-encenacao-de-protestos-na-venezuela/), mas, uns 2 não vê o chavismo com bons olhos e um deles até disse que conhecia uma ex-namorada que relata os abusos cometidos pelos policiais chavistas, enfatizou que se Venezuela deixasse o chavismo de lado seria melhor e disse que um dos maiores problemas da humanidade foi a esquerda militarizada. Debatemos, argumentos aqui e ali, minha posição não mudou.

Aí uns dias depois, notícias da Ucrânia. Muita gente apontando que os protestos eram puxados pela direita neonazista. Mas nesse caso uma pessoa que conhecia estava viajando passando por aqueles lados e dava informes de que entre os manifestantes ucranianos tinha de tudo: comunistas, nacionalistas, etc (sendo que entre os comunistas, os velhinhos), e tinha jovens neonazistas também, mas que aparentemente não eram maioria. Denunciava que o governo fazia o absurdo de deixar snipers atirando sem critério. Quando o governo foi derrotado, comemorou. Mas dias depois, as estátuas de Lenin foram derrubadas, e daí no facebook, a reação da maioria dos meus amigos foi de dizer que na Ucrânia estava havendo um golpe dos neonazistas.

Nesse ponto, me vi na situação muito parecida com a do meu amigo que conhecia uma ex-namorada venezuelana e por isso estava contra o chavismo. Por causa de relatos dessa pessoa que passou por lá, eu estava apoiando os protestos dos ucranianos!

Alguns dos posts que me influenciaram (como não sei se a pessoa concordaria com a exposição, tomei a iniciativa de esconder):

(Aliás não é todo mundo da Ucrânia que tá derrubando as estátuas de Lenin, ao leste estão fazendo vigia para que a direita não derrube: "centenas de pessoas estiveram na praça central da cidade para proteger a estátua de Lenine, símbolo da ligação – económica e cultural – da região a Moscovo." http://www.publico.pt/mundo/noticia/leste-da-ucrania-ameaca-nao-reconhecer-novo-poder-em-kiev-1625935)

Uma das coisas que fiquei pensando é que realmente estar lá deve ser outra coisa, aqui no Brasil a gente fica opinando isso e aquilo, mas não está lá.

Fiquei pensando também que apesar de eu opinar na mesma linha que meus amigos (principalmente em relação aos protestos no Brasil), eu também estou meio distante. Na cidade em que vivo agora, Chapecó, já participei de protestos e greve, mas aqui não tem a salada de siglas partidárias de esquerda como em São Paulo. Aqui é mais PT x PSD (PSD, aquele partido do Kassab, que surgiu de repente e se especula que as assinaturas para conseguir fundar esse novo partido foram fraudadas http://opiniao-e-noticia.jusbrasil.com.br/politica/7347312/jornal-aponta-fraude-para-fundacao-do-psd). Aposto que alguns partidos estão dizendo que então a luta não é para valer e que deve ser uma calmaria, infelizmente não é assim: um vereador do PT foi morto - http://guidorezende.wordpress.com/2011/11/28/1937/) e tá difícil do nosso sindicato cutista obter vitória.

Bem, aqui, mais no interior realmente o cenário é um pouco diferente,as bandeiras vermelhas, podem ser do PT, CUT, MST e PJ (Pastoral da Juventude - sim, formado por católicos! e sim, são de luta!)

Nisso que fiquei pensando que a despeito de meus amigos serem do Psol, PSTU, alguns do LER-QI e até PCO (desse partido não gosto, mas vai lá), a se for haver uma revolta brasileira para além do Rio e São Paulo, muitos brasileiros vão desconhecer essas siglas, e aí, como fica?


PARTE 2: pensando no futuro dos protestos do Brasil

Entrando um pouco no campo da especulação: e se esses protestos contra os gastos da Copa realmente se intensificarem a ponto de ameaçarem o governo? Aí como as pessoas de fora vão enxergar?

Dado que muitos comentários que se vê nos grandes portais brasileiros são opiniões de direita, não será que vão enxergar o Brasil como um caso de direita tentando desestabilizar o poder do governo do PT?

Isso por enquanto parece impensável pois essas (toscas) opiniões direitistas estão contra os protestos, dizendo que protestos são coisa de baderneiros da esquerda, etc. Mas eu imagino que se os protestos parecerem ter chance de mudar algo, vão ressucitar coisas como o Cansei, Higienópolis para os Diferenciados e cosias nessa linha.

Eu não acho que esteja delirando: por enquanto a direita não quer convocar protestos pois vê como algo de baderneiros esquerdistas, mas já estão apoiando ações na rua como amarrar gente no poste e em termos de discursos já está na ponta da língua que é necessário radicalizar, mostrar a cara!
Aliás, não só mostrar a cara, pelo que se lê por aí, estão querendo inclusive amarrar os manifestantes de esquerda nos postes (e outras coisas mais) porque "esquerda defende bandido então merece ser tratado como bandido".

Não duvido na cara de pau da direita de pegar carona nos protestos e noticiar como se os protestos sempre tivessem sido de esquerda para "combater a corrupção". (Nesse sentido, as análises de que um dos motivos que levou à queda do governo ucraniano foi a corrupção me deixaram um tanto cismado!)

E daí? Fiquei pensando que apensar de serem maioria no meu facebook, esse perfil dos meus amigos (universitários de esquerda, que conhecem pessoas que moram no exterior) é um perfil minoritário dentro da multidão brasileira.

E aí? Será que não há o risco de, quando o clima esquentar, acontecer de uns amigos dos meus amigos que vivem no exterior dizerem: "olha, conheço amigos que moram no Brasil, eles não são direitistas que querem derrubar o governo brasileiro do PT" e quem ouvir isso não acreditar?

Bem, daí que como podemos evitar uma coisa dessas? Eu já alertei muitas vezes que a esquerda não pode se fechar. Eu mesmo fecho a rede de amigos do facebook para ver apenas pessoas com que tenho alguma afinidade, mas a política mais ampla não pode ser feita desse modo.

Até no episódio da Mídia Ninja/Fora do Eixo alertei nesse sentido para a esquerda ficar esperta. A Mídia Ninja por pior que pudesse parecer, não é a mídia tradicional conservadora, e em pensarmos em termos de futuro, por mais que não se concorde com o que o Fora do Eixo faz (ou fazia), ainda está do nosso lado! Se pensarmos que talvez o país vai mesmo ferver nos próximos meses, vão precisar de apoio de gente do interior pois o destino do país estará em jogo, daí vão precisar contar com o sindicato em que estou filiado (petistas), PJ e etc. (Mesmo que em São Paulo as feministas tenham criado um clima anticlerical, apesar de também existir o Católicas pelo Direito de Decidir). 

Já vi muitos dos meus amigos dizerem que nem lêem mais as opiniões das pessoas nos grandes portais, pois bem, mas quando os protestos realmente balançarem os poderes, a direita vai estar aí e talvez nos arrependamos de termos ficado tanto tempo tentando purificar as afinidades dos nossos contatos...