obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Brasil (contraditoriamente) se abrindo ao mundo

O movimento é muito confuso, principalmente para quem adota o ponto de vista da esquerda radical (bem, já comentamos isso no post anterior).

Eu estava lendo o texto "Ascenção da classe C à Bolsa de Valores."(tente acessar esse link, se não conseguir procure por Convibra - Congresso Virtual Brasileiro de Administração, o texto da autoria de  Jeany Jesus dos Santos).

Acontece que o texto acima é muito otimista dom o Brasil na questão por exemplo do PIB, e por isso mesmo seria taxado de pró-governo e consequentemente pró-comunista. Ora essa, não tem o menor sentido pois como o próprio texto diz, esses investimentos da classe C na Bolsa significam aumento de propriedade privada, e não me refiro apenas ao aumento de riquezas que as pessoas da classe C possuem, mas ao aumento de investimentos que é direcionada aos investimentos privados da Bolsa.

Mas, na outra ponta, tava assistindo o documentário Inside Job no Vimeo (que fala da crise econômica mundial de 2008) e lá encontrei o seguinte comentário (que aqui tentei traduzir).

"Esse é um olhar bastante Asa Esquerda (Left Winged) quase comunista do que as regulações devem fazer num mercado livre. Eu achei hilário como esse filme brada contra os bancos. Verifiquei que PESSOAS/CONSUMIDORES é eu pegaram dinheiro emprestado concordando com termos e obrigações que eles concordaram em pagar! Em que lugar do mundo (expressão "How on earth" pode ter conotação "em que diachos de mundo") consumidores pegam empréstimos que não podem pagar? Bancos são negócios e quando oficiais eleitos (eleitos pelas pessoas, não pelos bancos, se você não sabe) passam leis que deixam bancos emprestarem dinheiro mais facilmente, por que no mundo (novamente "why on earth") os bancos mesmos deveriam se regular? A incompetência e irresponsabilidade dos pegadores de empréstimos é que deveria ser denunciada, gente. Espero que todos percebam isso. Bancos não têm culpa aqui. Eles só jogaram como foi permitido. A desregulação dos consumidores e congressistas (feitos na maior parte por Dodd Frank e a adminsitração Clinton) têm muito mais senão toda a culpa. Esse filme é um pedaço da propaganda da asa esquerda."

Assim, Inside job seria um filme esquerdista e quase comunista! Acho incrível opiniões como essas!

A pessoa desse comentário não deve ter assistido o filme direito, pois apesar do comentarista colocar como se os bancos não tivessem culpa e só tivessem feito o permitido (e ele acha um absurdo cobrar dos próprios bancos auto-regulação, como se bancos cachorros descontrolados que se mordem alguém é culpa da focinheira que falhou), o filme mostra que muitos dos políticos que aprovaram essas leis tinham estreitas ligações com banqueiros, e eram até mesmo ex-banqueiros.

E os empréstimos faziam parte dos produtos que os bancos vendiam aos clientes, e esses bancos apesar de dizerem que esses investimentos eram seguros, eles mesmos faziam aplicações de maneira que se não desse certo, eles ganhavam dinheiro. Cenas do filme mostra uma espécie de CPI indagando como eles passaram esses produtos aos clientes se eles mesmos entre eles chamavam de "crap" (porcaria). Para tornar as coisas piores, entre os clientes estavam fundos de aposentadoria, que por estarem mexendo com o futuro de trabalhadores não podem fazer aplicações arriscadas, mas como as avaliadoras davam nota "triplo A", o dinheiro foi aplicado e depois perdido. Pior que nessa "CPI" essas empresas de avaliação aparecem dizendo que eram apenas "opiniões" e não poderiam ser responsabilizadas por fracassos!

Isso de culpar as "PESSOAS/CONSUMIDORAS" pela crise, baseando-se de uma ideia moralista de que quem pegou emprestado deve devolver é muito perigosa, como escreveu um Nobel de Economia.

E porque essa ideia moralista é anti-esquerdista? Entre os que pegaram empréstimos não havia ricos? Sim, mas a crítica moralista parece se referir a classe baixa/média que pegou empréstimos.

Bom lembrar que empréstimos podem aparecer em forma de empréstimos mesmo, por exemplo ajuda para comprar eletrodomésticos, ou em forma de pacotes de investimentos dos bancos. Nessa segunda forma você investe esperando rentabilidade, e pacotes com derivativos incluíam apostar se o banco ia ter lucro com cartões de crédito, etc. Repare que então os pacotes com siglas complicadas como CDOs incluíam apostar se pessoas usariam corretamente cartões de créditos, se a loja de eletrodomésticos teria lucro, que por sua vez se relaciona com apostar se conseguiu linha de crédito dado pela loja de eletrodomésticos vai mesmo pagar todas as prestações para ficar com o eletrodoméstico.

O que quero dizer com a observação acima é que a direita fala como se a culpa fosse daqueles "pé-rapados que vão para Casas Bahia", mas na verdade incluem também uma classe média  até que razoavelmente sofisticada (média-alta), daqueles que comentam uns com outros que fez novos investimentos no banco. E não é culpa dessas pessoas, os bancos fazem pacotes de derivativos difíceis das pessoas entenderem. Derivativos em si são difíceis de entender, veja 2 ou 3 primeiros minutos do vídeo abaixo:


Bem, duvido um bocado que alguém da classe média-alta esteja lendo esse blog, mas pelo jeito é isso mesmo: a desigualdade de renda é tão grande que quem tem perfil arrojado e investe em bolsa também faz parte do mesmo balaio dos clientes tipo "Casas Bahia". Eu mesmo fiquei chocado outro dia ao descobrir que no ramo de tecnologia empresa com faturamento de 2 milhões é considerada pequena ou média. (sim, eu e você somos pobres...)

Voltando ao texto lá do alto, quanto à ascenção da classe C, o que vemos que muito longe de algo comunista, a entrada dos mais de baixo na Bolsa de Valores é muito capitalista. Certa vez vi uma edição muito antiga de Reader´s Digest (tipo, de 50 ou 60 anos atrás) que comentava que o capitalismo estava entrando num país novo. Não lembro qual era o país, era algum lugar tropical. Se dizia que as pessoas daquele lugar eram muito pacíficas e que antes estavam apenas interessadas em viver a vida delas. Mas que elas estavam se interessando em deixarem de serem preguiçosas e conseguir mais coisas do que aquele meio de vida proporcionava. Esse é o espírito do capitalismo: incutir nas pessoas a ganância e necessidades cada vez maiores.

Seria fazer um resumo curto demais, mas a crise de 2008 tem a ver com convencer as pessoas que eram donas de suas casas e colocar as casas como investimento. Disseram a elas que seria vantajoso para todos: elas poderiam continuar a morar nas casas, e elas não perderiam-nas pois o investimento seria seguro. Ao mesmo tempo, o banco lucraria com o volume maior de investimentos e daria uma parte do resultado aos moradores das casas. Quando veio a crise, pessoas tiveram de sair das casas que foram construídas por seus avós.

Os filmes Inside Job de Ferguson e Capitalismo - uma história de amor de Moore mostram como as pessoas foram enganadas pelo sistema financeiro.

Quanto ao Brasil, há risco de bolha imobiliária, como aconteceu nos EUA? Parece que o debate vai no sentido de que não há, ou, que se havia, está murchando (juro que tentei juntar um sim e um não). Eu pessoalmente estou preocupado pois tem apartamentos mais caros que castelos europeus e não só Casas Bahia, mas diversos serviços estão abrindo linhas de crédito (para aposentados, para Minha Casa Minha vida, etc) e levando a economia a depender de pessoas endividadas. 

Pensando bem, tudo isso é bem paradoxal: a direita diz no comentário do Vimeo que a culpa da crise foi dos pobres Provavelmente a pessoa não gosta do Obama e acha que ObamaCare é comunista, embora EUA não possuam nem licença-maternidade. Aliás lembram do incidente de tiros perto da Casa Branca naqueles meses de tensão se ia rolar a dívida americana em 2013? Atiraram numa mulher que estava desempregada pois perdeu o emprego após se descobrir grávida, leia esse artigo do Fem Materna.

Resumindo, estou estupefado como vêem comunismo em todas essas coisas capitalistas. Se os mais pobres estão melhorando de vida com Dilma, Obama, não percebem que isso ao invés de afastar do imaginário dos valores ociedentais-europeus, está mais é aproximando do sistema de seguridade dos europeus? (Mas com a crise na Europa, eles estão perdendo aqueles direitos, e assim do lado de cá, quando a vida melhora, se reclama que são tentativas de cubanizar o Brasil e que apesar dos impostos altos, não vivemos como na Europa. Só que é uma Europa imaginária que não passa pela crise...)

(mas talvez eu não devesse parar de ligar para essas críticas. Já escrevi anteriormente como "comunismo" é histeria da mídia. Mas há exemplos ainda mais bizarros, como o Homem-Aranha negro ser acusado de ter cara do Obama e ameaçar os valores americanos!)

Quanto à isso de reclamarem da Classe C, ver também "Elite do país se acha 'made in USA'" e "Ricos perdem exclusividade e relcamam de classe emergente".

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