obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Um na multidão pensando sobre Brasil, Venezuela, Ucrânia (e se as coisas forem esquentar aqui no Brasil?)

A maioria dos amigos que tenho no facebook é dos tempos que eu morava em São Paulo, muitos deles estão participando dos protestos. Quando começaram a pipocar notícias da Venezuela, muitos deles trataram de ficar ao lado do governo de Maduro e indicaram que os protestos lá na Venezuela são conduzidos pela direita (que inclusive recorre a mentiras, vide http://revistaforum.com.br/blog/2014/02/como-se-constroi-uma-encenacao-de-protestos-na-venezuela/), mas, uns 2 não vê o chavismo com bons olhos e um deles até disse que conhecia uma ex-namorada que relata os abusos cometidos pelos policiais chavistas, enfatizou que se Venezuela deixasse o chavismo de lado seria melhor e disse que um dos maiores problemas da humanidade foi a esquerda militarizada. Debatemos, argumentos aqui e ali, minha posição não mudou.

Aí uns dias depois, notícias da Ucrânia. Muita gente apontando que os protestos eram puxados pela direita neonazista. Mas nesse caso uma pessoa que conhecia estava viajando passando por aqueles lados e dava informes de que entre os manifestantes ucranianos tinha de tudo: comunistas, nacionalistas, etc (sendo que entre os comunistas, os velhinhos), e tinha jovens neonazistas também, mas que aparentemente não eram maioria. Denunciava que o governo fazia o absurdo de deixar snipers atirando sem critério. Quando o governo foi derrotado, comemorou. Mas dias depois, as estátuas de Lenin foram derrubadas, e daí no facebook, a reação da maioria dos meus amigos foi de dizer que na Ucrânia estava havendo um golpe dos neonazistas.

Nesse ponto, me vi na situação muito parecida com a do meu amigo que conhecia uma ex-namorada venezuelana e por isso estava contra o chavismo. Por causa de relatos dessa pessoa que passou por lá, eu estava apoiando os protestos dos ucranianos!

Alguns dos posts que me influenciaram (como não sei se a pessoa concordaria com a exposição, tomei a iniciativa de esconder):

(Aliás não é todo mundo da Ucrânia que tá derrubando as estátuas de Lenin, ao leste estão fazendo vigia para que a direita não derrube: "centenas de pessoas estiveram na praça central da cidade para proteger a estátua de Lenine, símbolo da ligação – económica e cultural – da região a Moscovo." http://www.publico.pt/mundo/noticia/leste-da-ucrania-ameaca-nao-reconhecer-novo-poder-em-kiev-1625935)

Uma das coisas que fiquei pensando é que realmente estar lá deve ser outra coisa, aqui no Brasil a gente fica opinando isso e aquilo, mas não está lá.

Fiquei pensando também que apesar de eu opinar na mesma linha que meus amigos (principalmente em relação aos protestos no Brasil), eu também estou meio distante. Na cidade em que vivo agora, Chapecó, já participei de protestos e greve, mas aqui não tem a salada de siglas partidárias de esquerda como em São Paulo. Aqui é mais PT x PSD (PSD, aquele partido do Kassab, que surgiu de repente e se especula que as assinaturas para conseguir fundar esse novo partido foram fraudadas http://opiniao-e-noticia.jusbrasil.com.br/politica/7347312/jornal-aponta-fraude-para-fundacao-do-psd). Aposto que alguns partidos estão dizendo que então a luta não é para valer e que deve ser uma calmaria, infelizmente não é assim: um vereador do PT foi morto - http://guidorezende.wordpress.com/2011/11/28/1937/) e tá difícil do nosso sindicato cutista obter vitória.

Bem, aqui, mais no interior realmente o cenário é um pouco diferente,as bandeiras vermelhas, podem ser do PT, CUT, MST e PJ (Pastoral da Juventude - sim, formado por católicos! e sim, são de luta!)

Nisso que fiquei pensando que a despeito de meus amigos serem do Psol, PSTU, alguns do LER-QI e até PCO (desse partido não gosto, mas vai lá), a se for haver uma revolta brasileira para além do Rio e São Paulo, muitos brasileiros vão desconhecer essas siglas, e aí, como fica?


PARTE 2: pensando no futuro dos protestos do Brasil

Entrando um pouco no campo da especulação: e se esses protestos contra os gastos da Copa realmente se intensificarem a ponto de ameaçarem o governo? Aí como as pessoas de fora vão enxergar?

Dado que muitos comentários que se vê nos grandes portais brasileiros são opiniões de direita, não será que vão enxergar o Brasil como um caso de direita tentando desestabilizar o poder do governo do PT?

Isso por enquanto parece impensável pois essas (toscas) opiniões direitistas estão contra os protestos, dizendo que protestos são coisa de baderneiros da esquerda, etc. Mas eu imagino que se os protestos parecerem ter chance de mudar algo, vão ressucitar coisas como o Cansei, Higienópolis para os Diferenciados e cosias nessa linha.

Eu não acho que esteja delirando: por enquanto a direita não quer convocar protestos pois vê como algo de baderneiros esquerdistas, mas já estão apoiando ações na rua como amarrar gente no poste e em termos de discursos já está na ponta da língua que é necessário radicalizar, mostrar a cara!
Aliás, não só mostrar a cara, pelo que se lê por aí, estão querendo inclusive amarrar os manifestantes de esquerda nos postes (e outras coisas mais) porque "esquerda defende bandido então merece ser tratado como bandido".

Não duvido na cara de pau da direita de pegar carona nos protestos e noticiar como se os protestos sempre tivessem sido de esquerda para "combater a corrupção". (Nesse sentido, as análises de que um dos motivos que levou à queda do governo ucraniano foi a corrupção me deixaram um tanto cismado!)

E daí? Fiquei pensando que apensar de serem maioria no meu facebook, esse perfil dos meus amigos (universitários de esquerda, que conhecem pessoas que moram no exterior) é um perfil minoritário dentro da multidão brasileira.

E aí? Será que não há o risco de, quando o clima esquentar, acontecer de uns amigos dos meus amigos que vivem no exterior dizerem: "olha, conheço amigos que moram no Brasil, eles não são direitistas que querem derrubar o governo brasileiro do PT" e quem ouvir isso não acreditar?

Bem, daí que como podemos evitar uma coisa dessas? Eu já alertei muitas vezes que a esquerda não pode se fechar. Eu mesmo fecho a rede de amigos do facebook para ver apenas pessoas com que tenho alguma afinidade, mas a política mais ampla não pode ser feita desse modo.

Até no episódio da Mídia Ninja/Fora do Eixo alertei nesse sentido para a esquerda ficar esperta. A Mídia Ninja por pior que pudesse parecer, não é a mídia tradicional conservadora, e em pensarmos em termos de futuro, por mais que não se concorde com o que o Fora do Eixo faz (ou fazia), ainda está do nosso lado! Se pensarmos que talvez o país vai mesmo ferver nos próximos meses, vão precisar de apoio de gente do interior pois o destino do país estará em jogo, daí vão precisar contar com o sindicato em que estou filiado (petistas), PJ e etc. (Mesmo que em São Paulo as feministas tenham criado um clima anticlerical, apesar de também existir o Católicas pelo Direito de Decidir). 

Já vi muitos dos meus amigos dizerem que nem lêem mais as opiniões das pessoas nos grandes portais, pois bem, mas quando os protestos realmente balançarem os poderes, a direita vai estar aí e talvez nos arrependamos de termos ficado tanto tempo tentando purificar as afinidades dos nossos contatos...