obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

domingo, 29 de dezembro de 2013

32 filmes de incômodo com a sociedade (Re: 35 filmes de esquerda)

(Atualização abril 2014: agora são 32! E aquela lista do Antonio Santos - que primeiro erroneamente tinha atribuído a Emir Sader - também cresceu, agora são 50)

Virada de ano, férias para muita gente. Tá a procura de filmes?

O Emir Sader fez uma lista de filmes de esquerda e os sites/blogs têm replicado. Já vi no CatracaLivre, Diário da Liberdade, etc. Não sei se o próprio Emir esperava tanta reblogagem, já que circula por aí como se fosse uma das únicas seleções, senão a única (já vi lista de outra temática, como filmes feministas, etc, mas nessa categoria "esquerda" só conheço esta).

Já quando a lista do Emir apareceu, houve críticas tipo "cadê Glauber Rocha?", etc. Bom, talvez ele tenha feito uma seleção pessoal, e não que TENHA de ser A lista DA ESQUERDA! (curioso que filmes de psicologia por exemplo tem várias listas com seleções diferentes.)

Assim como resposta eu fiz uma outra lista, sem compromisso de representar A esquerda, e só filmes que assisti (não sou cinéfilo então não assisti tantos assim), e a medida que fui selecionando, vi que não eram propriamente filmes de esquerda e sim que retratam algum incômodo com a sociedade.

ERRATA: quem elaborou a lista não foi Emir, este apenas compartilhou a dica. Quem elaborou a lista foi Antonio Santos, e Diário da Liberdade é um site português. Bem que tava achando estranho algumas palavras como "actores"...


32 FILMES INCÔMODO COM A SOCIEDADE


(OBS: a ordem da lista não é por qualidade e sim pelo que fui lembrando e associando)

1. Moolaadé
país: Senegal
ano: 2004

O filme se passa numa região onde ainda se pratica mutilação genital nas meninas. Mas o filme não se foca no aspecto chocante dessa prática e sim nas mulheres da aldeia se revoltando, inclusive o final com a rebelião delas... inesquecível.
Bem, mas vamos à história: Collé é uma mulher de goza de certo status dentro dessa sociedade, e quando chega a elas meninas que sofreriam excisão e pede a ela proteção, ela lhes concede um moolaadé, que nessa sociedade é uma proteção que só pode ser revogada por quem a ofereceu. Mesmo as outras lideranças (como o conselho de anciãs ou o de anciãos) não podem regovar e pressionam para que ela volte atrás.
O legal é que você não precisa saber sobre a hierarquia dessa sociedade para acompanhar as tensões ao longo da história.
Descobri que felizmente tem no youtube a versão com legendas em português, em 2 partes:


2. Bushi no Ichibun (tradução: Um pedaço do Samurai)/ título inglês: Love and Honor
páis: Japão
ano: 2006

Falando em sociedades hierárquicas, no Japão antigo tinha aquela hierarquia de senhores feudais, samurais, servos, plebeus, etc. Muita gente associa samurai a guerreiros com espada, mas não era bem assim: existiam samurais nas mais diversas funções, cumprindo suas funções com lealdade e disciplina. Shinnoji por exemplo era apenas o experimentador das comidas do senhor feudal, ou seja, ele e seus colegas verificavam se a comida não estava envenenada. Ele tem um servo, mas não é rico, vive modestamente apenas ele, a esposa e o servo. Um dia a comida estava com uma toxina e ele fica cego. Sem poder trabalhar, ele pede amparo dos superiores hierárquicos para sustentar a casa. Ele ganha o amparo mas depois fica sabendo que o superior estava de olho na esposa. Cego e humilhado, o que ele pode fazer enquanto samurai para recuperar sua honra? O título "Bushi no Ichibun" ("Bushi" é outra denominação para "Samurai") se refere ao pedaço do valor samurai a que agarra. Pelo código samurai, ele pode pedir um duelo com outro samurai, mas será que um samurai cego tem alguma chance?
Aqui o trailer e os letreiros finais com a bela música.

3. Den Brysomme Mannen (O homem chato / O homem que incomoda) / tit. ing. The Bothersome man
país: Noruega
ano: 2006

Um homem chega num local onde oferecem emprego e casa, parece um mundo perfeito. Ele não lembra da onde veio (é trazido misteriosamente por um ônibus), e ninguém fala da infância. Nesse mundo de escritórios e casas bonitas, talvez nem mesmo a morte exista, mas ele se sente incomodado, parece que falta algo na vida, um gosto especial. Fica sabendo de um bizarro buraco que exala cheiro de infância e vai explorá-la. Qual a mensagem do filme, uma crítica ao mundo adulto? Crítica ao Estado de Bem-Estar? (De fato, em países bem estruturados como Finlândia os índices de suicídio são altos.) Melhor assistir o filme e você mesmo interpretar. No final você fica pensando: "mas afinal aonde ele foi mandado?", e quando ele chega ao outro lado do buraco, dá uma sensação de "Que diachos é esse lugar?" que senti quando o astronauta Dave chega ao outro lado do portal em 2001- Uma odisséia no espaço.

4. Ghost in the shell
país: Japão
ano: 1995

Eu incluiria Matrix (o 1° filme) aqui sem problemas. As continuações não, viajaram na maionese, engrandeceram o universo demais e tiveram de contar as coisas correndo para explicar (mas o resultado ficou tão decepcionante que muitos nem foram buscar entender a tal "Revolutions". Pesquisando você compreende mas não aprova os filmes...). Só não boto aqui pois é manjadão (todo mundo entendeu a mensagem de "sair da matrix").
Bom, mas tem um filme que precedeu Matrix:  a animação Ghost in the shell. Dizem que a cena da batalha do prédio de Matrix foi produzida com os diretores mostrando Ghost in the shell e dizendo: "o que queremos é uma coisa assim!"
Só que aqui a história é bem diferente, e diria que mostra exatamente o lado oposto: Motoko é uma policial andróide, combate o crime e nas horas vagas bebe cerveja, nada no mar, etc. Quando o parceiro dela pergunta por que ela nada se isso é perigoso para uma robô, ela revela que a dúvidas existenciais dela vão muito além disso: ela está vivendo mesmo, ou apenas fingindo que é humana? Ela trabalha como policial, ganha salário, etc, mas se ela saísse da polícia, o que seria dela?
O que é o tal "ghost" do título? É o fantasma dos mortos, alma dos vivos, ou apenas inteligência artificial que não tem nada a ver com a discussão de vida e morte? Tem as cenas dela passeando pela cidade que acho geniais: ela passa por gente, cachorro, bonecas e paira a dúvida no ar a qual categoria ela pertenceria.
Um dia um caso de um hacker conhecido como Puppet Master pode mudar tudo, principalmente quando é revelado que talvez o hacker não seja uma pessoa e esteja querendo provar para sociedade que um amontoado de dados pode ganhar vida.
OBS: a série tem também mangá, série de Tv, etc. Mas o destaque mesmo é esse filme. Inclusive a série animada para TV não contém a dúvida existencial de Motoko (o tempo todo ela pensa em si como mulher, até usa sedução). A continuação que carrega esse dilema é Ghost in the Shell: Innoccence, mas infelizmente não pude ver em versão legendada ou dublada então era difícil de entender.

5. Akira
país: Japão
ano: 1988

O Japão de 2019 está passando por convulsão social, se vê passeatas, barricadas, etc. Entre a população há os que esperam a chegada messiânica de "Akira", seja lá o que eles entendam por isso. Akira na verdade foi uma criança especial que o governo mantinha em segredo devido a seus poderes telepáticos, telecinéticos, etc. Um bando de motoqueiros delinquentes juvenis acaba se envolvendo na trama quando o lider Kaneda conhece uma moça que faz parte da resistência contra o governo, e outro integrante, Tetsuo, é sequestrado pelo exército após ter contato com uma das crianças especiais.
OBS1: há planos para um remake de Hollywood com atores reais, mas mudando a trama para Nova Iorque. 
OBS2: interessante, no filme se diz que em 2020 vai ter Olimpíadas em NeoToquio e pelo jeito vai ter mesmo, na vida real (só que em Toquio mesmo)
Abiaxo o trailer e descobri que o filme completo também está disponível em português.


6. Birth of a Nation (Nascimento de uma nação)
país: EUA
ano: 1915

Sim, sim, esse filme é reacionário, é pró-KKK, etc (é tão racista que todo o elenco é de brancos, os negros são brancos pintados). Mas recomendo assistir até para ver como seus argumentos são construídos. Dá até para fazer paralelos com o modo como a mídia aborda alguns temas da contemporaneidade. Assisti na cinemateca no ano que Obama foi eleito (com certeza era para fazer pensar).
Abaixo o filme completo.

7. Modern Times (Tempos Modernos)
País: EUA
Ano: 1936

Para contrapor, um outro filme também velho e P&B. Mas com uma visão operária. Já resenhado na lista do Emir Sader.
Com certeza tem outros do Charlie Chaplin muito bons, mas assistir os outros por inteiro, infelizmente.
Abaixo, encontrei a versão completa com legendas

8. Diários de Motocicleta
País: Argentina, Chile, EUA, Peru, França. Alemanha e Reino Unido
Ano: 2004

Esse também chupei da lista do Emir. Muito bom, sem palavras. A cena da travessia do rio...
Abaixo as cenas por onde a dupla passou no filme, mostradas no finzinho do filme, e mais adiante, fotografias reais de Che e Alberto Granado.

9. Inside Job (Trabalho Interno)
país: EUA
ano: 2010

O último que chupo da lista do Emir é Inside Job. Outros daquela lista eu discordo (como Apocalypse Now) ou não assisti (que á a maioria, gostaria de ter visto Edukators, Encouraçado Potenkin, etc).
Magnífico documentário que explica a crise de 2008.
Abaixo o trailer que se vê na Revista Forum, e para comparar (só uma curiosidade boba) o trailer americano que é um pouco mais longo, vocês verão o porquê.
 
 



10. Sicko
país: EUA
ano: 2007

Uma divergência que tenho em relação à lista do Emir é que do Michael Moore eu não selecionaria "Capitalismo - uma história de amor" e sim "Sicko"! Mais maduro que "Tiros em Columbine", vemos Michael cutucando a fundo, e eu seleciono este pela cutucada de levar ex-voluntários do 11 de setembro para Cuba. Essa parte é incrível e achei emocionante quando eles recebem a solidariedade da ilha, sério, achava que quando os bombeiros cubanos chamaram eles, era para convidá-los a se retirar ou algo assim!
Abaixo o trailer (com cutucões muito bem humorados) e achei o filme completo também



11. Deus e o diabo na terra do Sol + Dragão da maldade contra o santo guerreiro
país: Brasil
ano: 1964 + 1969

"Não tem Glauber?" era uma das reclamações quanto à lista do Emir. Aqui um parêntese, eu não sou um dos que ficam babando pelo Glauber (eu não incluiria aqui Terra em Transe, pois acho uns trechos muito estranhos mais teatrais que fílmicos), então esses 2 eu selecionei não por achar que tudo do Glauber é genial mas porque tem algo de especial neles, sendo o principal o fato do personagem Antonio das Mortes mudar de lado no segundo filme (detalhe que no 1° filme ele não é o personagem principal, sendo esse um dos motivos porque tem gente que considera esses filmes independentes e não sequência).
O 1° filme fala da sobrevivência na seca, de "vidas secas", como diria o escritor Graciliano Ramos, com a diferença que no filme de Glauber os retirantes se envolvem com um grupo de cangaceiros, que será alvo do Antonio das Mortes. Há de fundo discussões sobre religiosidade e destino, o "deus e o diabo" do título.
A temática  religiosa volta no 2° filme, mas a presença da "Santa", entre os rebeldes dá um ar fantástico ao filme. Já ví discussões tipo:"o que será a Santa, então interpretada pela namorada de Glauber? Será uma encarnação divina, uma líder religiosa, ou uma figura metafísica que Glauber inseriu no seu filme?". A Santa faz Antonio das Mortes se voltar contra os poderosos e apoiar o povo na luta final. Mas no final Antonio caminha por uma estrada e carros passam por ele, alguns interpretam essa cena final como o fim de uma época e a chegada do imperialismo.
Abaixo a cena final de Deus e Diabo com a cena de morte do Corisco que é uma das mais famosas do cinema (embora não faça muito sentido nessa época de precisão padrão CSI). E a cena de Dragão da Maldade que faz parte da luta final, após conversa com o Professor.

12. Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro
país: Brasil
ano: 2010

Deu vontade de fazer a dobradinha como no caso do Glauber acima, até porque o blog do cineasta Felipe Guerra fez uma lista das semelhanças entre Antônio das Mortes e Capitão Nascimento (achei genial, apesar de não concordar muito com a lista das  diferenças, em que Felipe mostra que não gosta do Glauber). Mas eu não assisti o primeiro Tropa de Elite, então paciência (confesso que tenho certa resistência pois dizem que é meio contra a esquerda "maconheira"). De qualquer forma, se no começo do 2° filme a crítica ao "pessoal de direitos humanos" pode ser aplicada a certo oportunismo do professor esquerdista que usa o incidente no presídio para se eleger (e ainda por cima namora a ex-esposa do Nascimento e ganha simpatia do filho), depois vemos uma virada de lado, em que a política contra bandido tão amada pelo Capitão Nascimento se transforma em algo que ele tem de combater para proteger o ex-professor, a ex-esposa e o filho. Nesse giro, se mostra toda a podridão da política, da polícia, e a última cena que aponta para Brasília é considerada corajosíssima. (Felipe, que odeia Glauber mas gostou muito de Tropa de Elite, diz que o 2 é provavelmente o filme brasileiro mais corajoso já feito. "Duvido que alguém seja macho para fazer algo mais corajoso do que isso nos próximos dez ou vinte anos.").
Abaixo o trecho do filme em que vemos um político apanhar. Dizem que as platéias foram ao delírio!

13. The Insider (O Informante)
país: EUA
ano: 1999

Baseado em fatos reais, os personagens principais são o ex-executivo Wigand que quer revelar táticas da indústria de tabaco, e o produtor da CBS que colhe pautas para um programa de entrevistas. Já seria uma grande história a parte do ex-executivo concordar em dar um depoimento a um tribunal, mas o filme não acaba aí: para complicar, o produtor da CBS encontra resistência dos superiores em mostrar a matéria sobre cigarros na TV. Temos, então uma outra batalha por dentro da mídia. Isso sem contar algumas ameaças anômimas que o ex-executivo recebe e podemos imaginar quem está por trás... enfim, outro filme sobre a podridão do sistema.



14. Courage under fire (Coragem sob fogo)
país: EUA
ano: 1996

Um filme sobre a Guerra do Golfo que mostra só o lado americano, e só no drama em torno de uma oficial mulher morta. Parece desinteressante? Acredite, no começo eu também tava achando desinteresante e não entendia porque o oficial negro teimava em dizer que havia algo a mais a ser apurado. "Poxa, o cara vai ficar zanzando de um lado para outro o filme inteiro só porque teimou com algo que só ele faz questão de esclarecer?" Cheguei a pensar isso. Mas quando um dos personagens prefere se matar a revelar a verdade, é que pensei: "epa, tem algo a mais mesmo!". O filme recria umas 3 versões do que aconteceu, a cada versão os elementos humanos vão ficando mais ricos, revelando o que aconteceu na trincheira em que membros do exército americano tinham dúvida se era melhor permanecer ali. A tensão pode gerar conflito e mesmo se os ameicanos matam a sangue-frio o inimigo, ainda são humanos e ficam sentidos se acabaram atirando no companheiro. Enfim, mesmo mostrando um lado só, nos faz refletir sobre a natureza humana em guerras.
(OBS: falando em lados, que maravilhosa a ideia do Clint Eastwood né?)


15. Little Miss Sunshine (Pequena Miss Sunshine)
país: EUA
ano: 2006

Um filme infanto-juvenil para variar. Essa é uma produção "independente" (pelos padrões americanos). Família parece desunida, cada um fazendo suas coisas com seus pontos de vista, mas afinal são uma família e precisam dar um apoio quando a caçula vai participar de um concurso de beleza. Vão todos numa grande e problemática Kombi (que alguns até dizem que representa a família disfuncional) e vão ficando mais pertos uns dos outros pelo caminho. Mas o clímax ocorre quando eles finalmente chegam ao local do concurso da pequena Miss Sunshine e vêem que aquilo faz parte da indústria da beleza que dita padrões para a sociedade. Então o que a menina vai fazer? Melhor vocês mesmos descobrirem.




16. A Alegria (The Joy)
país: Brasil
ano: 2010

Assisti esse filme no cinema, vi de novo na TV e assistiria mais uma vez, embora talvez sem a mesma emoção. Não sei se vocês sentirão a mesma coisa, pois para mim esse é o filme que gostaria de ter visto na adolescência (mas infelizmente não vi...), mas de qualquer forma tem algo de muito atraente nessa obra. Vou copiar e colar a sinopse: "Luiza tem 16 anos e está cansada de ouvir sobre o fim do mundo. Na Véspera de Natal seu primo João é morto no Rio de Janeiro. Algumas semanas depois, Luiza está em seu apartamento e descobre o fantasma de João na sala. Ele quer se esconder ali."
(OBS: aí na adolescência eu tava procurando um filme marcante e o que me marcou foi "Matou a família e foi ao cinema", mas não se preocupem, não foi inspiração para nada.)
Abaixo o trailer e uma crítica do jornal Folha:

17. But I´m a Cheerleader
país: EUA
ano: 1999

Outro filme com uma pegada para jovens é essa comédia sobre uma adolescente que se considera normal mas a família acha que ela tem tendências ao lesbianismo e a envia para um acampamento que promete curar a homossexualidade. É hilário que essa cura se daria através de ensinar a consertar carro para meninos e limpeza da casa para meninas, entre outras doideiras. É claro que não funciona e a nossa protagonista vai ter de decidir o que quer para a vida dela. (OBS: o final é tããããoooo romântico!)
Assisti esse filme na Puc-sp numa sessão promovida pelas Mulheres L (grupo LGBTS, era 2007 ou 2008), boas lembranças...
Abaixo o trailer.


18. AKA
país: Inglaterra
ano: 2002

Se o filme acima fala de lesbianismo, AKA fala de homossexualidade masculina (ah, e não é para público jovem, o clima é mais adulto). Bem, "A.K.A." é usado para colocar um nome alternativo não é? Pois é exatamente essa a ideia: Após fugir de casa para escapar de um pai abusador, Dean se passa por um lord para sobreviver e frequentar a alta sociedade. Não é difícil pois há muita falsidade na alta sociedade: se você se apresenta como um lord não precisa pagar contas em determinadas lojas, você sai da fila de espera e é recebido de braços abertos num curso, pessoas se aproximam por interesse, e é possível até enganar parentes pois eles não conhecem o rosto de membros da família distanciados por intrigas do passado. É claro que nosso protagonista não se sente bem no meio disso e ele mesmo sabe que sua situação não tem nada de sustentável. Se o dinheiro compra muita coisa (e tem gente que coloca até afeto à venda), o que não é descartável? A "relação de amizade", é essa a resposta a que chega uma das pessoas "enganadas".
Ah, um detalhe: a história é baseada em fatos reais (!) do próprio diretor desse filme (!!)
Abaixo o trailer, e aparentemente o próprio diretor colocou o filme inteiro no youtube.
   
19. Dogville
país: Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Reino Unido, França, Alemanha, Países Baixos
ano: 2003

Com um cenário lindamente minimalista, o filme mostra como uma sociedade aparentemente receptiva pode ir se tornando cada vez mais opressora a uma forasteira. A forasteira de membro da comunidade passa a ser apenas uma serviçal submetida a abusos e quando vão dar o golpe final para descartá-la como objeto, ocorre uma reviravolta.

20. The Village (A Vila)
país: EUA
ano: 2004

A vida na vila parece boa e simples, mas todos têm medo dos seres que habitam a floresta em volta da vila. Mas qual será a verdade por trás desses seres e por trás da própria vila? A protagonista (uma cega) vai descobrir. Uma dica: há quem trace paralelo entre A Vila e a política americana (e europeia) de basear sua política em cima do medo que as pessoas sentem do terrorismo.

21. Blindness (Ensaio sobre a Cegueira)
país: Brasil, Canadá, Japão
ano: 2008

Pode a sociedade desmoronar só de retirarmos uma coisa dela, no caso, a visão? Pode, e a única pessoa que não ficou cega vai assistir esse processo. Não vou negar que na minha opinião o filme poderia ser melhor (acho por exemplo que tentar deixar o filme universal na verdade o deixou apátria) e talvez se esperasse mais de uma adaptação do famoso livro de José Saramago. Mas enfim, se você assistisse esse filme sem lembrar que é uma adaptação, sem lembrar das intenções grandiosas (tentaram fazer uma trilha sonora fora do convencional, etc), provavelmente se divertiria mais. Inegavelmente a premissa é instigante apesar de simples, e foi bem conduzida. Se tivesse sido feita nos moldes minimalistas de Dogville e sem as pessoas esperando ver a adaptação de uma grande obra, teria feito pelo menos tanto sucesso quanto o filme de Lars Von Triers.

22. Det sjunde inseglet (O Sétimo Selo)
país: Suécia
ano: 1956

Um cavaleiro está voltando da Cruzada e carrega dentro de si dúvidas se valeu a pena lutar pelo Deus (Deus cristão). Ele volta para Europa assolada pela peste e as pessoas se apegam às promessas religiosas de salvação para não se entregarem ao desespero. Contudo, o líder religioso se revela um aproveitador e saqueador de cadáveres e as próprias pessoas, apesar de temerem a morte, zombam dos mais fracos. O cavaleiro se sente cansado e desanimado a ver essas coisas, mas recarrega suas energias ao conhecer um casal circense com uma pequena criança. Mas além de carregar as dúvidas existenciais ele tem de desafiar a Morte (na famosíssima cena da partida de xadrez com a Morte) e quer reencontrar a esposa antes do fim.

23. Clockwork Orange (Laranja Mecânica)
país: Reino Unido
ano: 1971

Alex é lider delinquente juvenil e será submetido a um revolucionário tratamento para que não cometa mais crimes. Quando é libertado não encontra mais espaço na sociedade e se tornará o centro de um debate sobre o controle do Estado: primeiro será aprisionado por uma pessoa (por coincidência, uma ex-vítima) que quer mostrar que Alex preferirá a morte a lembrar do tratamento. Alex pula da janela e depois, no hospital, encontrará um político que diz vai lhe dar regalias, que a pessoa que o fez pular da janela já foi silenciada, e que Alex pode ser o garoto-propaganda de sua administração. Alex tinha domínio de tudo quando era delinquente mas ele talvez seja uma ingênua peça de um debate sobre sociedade, estado, etc. Bem, essa é minha tentativa de resumir essa famosa obra que não sei porque ainda me atrai apesar de ter visto o filme não sei quantas vezes. Talvez porque a cada vez eu tente entender melhor esse quebra-cabeça, o debate que perneia o filme acerca da administração penitenciária, políticas contra violência, e a própria hipocrisia da sociedade.

24. Rogue trader (A Fraude)
país: Reino Unido
ano: 1999

Baseado em fatos reais, a história de um cara que conseguiu quebrar um dos mais tradicionais bancos do Reino Unido, onde até a família real tinha conta. Não que o filme ajude a entender o sistema financeiro, nem propriamente é uma crítica à esse sistema, pois as bolsas de valores são apenas o cenário para a história (mas você pode ver o Inside Job lá em cima). Mas é bem curioso ver como as empresas estavam entrando na era do capitalismo financeiro e como o protagonista Nick Lesson encarava tudo isso como um jogo e tinha as melhores intenções (quando o banco faliu, cogitou-se que ele roubou o dinheiro e estaria fugindo para alguma ilha, mas não era isso, o dinheiro simplesmente se dissipou para outros investimentos financeiros).
Abaixo o trailer e encontrei o filme completo



25. O homem que virou suco
país: Brasil
ano: 1981

Considerado um clássico, o filme reflete muito da época: anos 80, ascenção dos movimentos sindicais, a ditadura cairia em alguns anos e no período, outras produções mostravam o ponto de vista operário. Confesso que não assisti tantos filmes desse período, mas este tem qualidades como recorrer à metáfora (como quando o protagonista tem o pesadelo em que cospem na cara dele).

26. O cego que gritava luz
país: Brasil
ano: 1996

Um cego sobe em lugares altos para chamar a atenção pública: diz ele que tem algo muito grave a contar e quer atenção da mídia. Paralelamente um velho mendigo no bar conta várias histórias, mas sempre se emociona quando conta sobre as 2 meninas assassinadas. Quando as duas histórias se cruzam, é revelado um crime cometido pelos poderosos que ficou impune. Um filme que mostra o clima de impunidade e descrença que a população brasileira tem em relação aos políticos.
Não tinha trailer no youtube, mas achei este:


27. Sib (A Maçã)
país: Irã
ano: 1998

É a história de 2 irmãs que viveram trancadas em casa por motivos religiosos. O caso é denunciado e uma assistente social vai soltar as meninas. Tem uma resenha muito boa em Epigramaseepitafios. O curioso é que além de baseado em fatos reais, os envolvidos teriam aceitado representar a si mesmos no filme.
Confesso que não sou muito fã do cinema iraniano. Nesse cinema acontecem coisas como personagens procurarem uma bolsa e dali a pouco uma delas lembra que tinha deixado a bolsa num canto, mas ao abrir a bolsa não encontra um dos itens e todos saem procurando de novo. Sim, esse tipo de coisa acontece na vida real, mas a gente está acostumado com uma objetividade maior. Se fosse em filmes americanos, ou se procuraria diretamente o que falta na bolsa, ou ocorreria as 2 buscas, mas dando ênfase numa delas: se fosse numa comédia, a personagem lembrando que deixou a bolsa num canto seria acompanhado de olhar de reprovação, ou num suspense, a busca pelo objeto seria intercalada por flashbacks. Enfim, o cinema iraniano retrata as coisas de outra forma e desacostumados que estamos, acabamos achando que partes do filme foram muito longos ou dispensáveis (ainda que por exemplo a busca da bolsa e do objeto explique posteriormente o cansaço dos personagens).
De qualquer forma, A Maçã é o filme iraniano que mais gosto,  talvez porque essa diferença de objetividade faça parte do cotidiano, da recriação dos fatos reais das 2 meninas (ou porque perdoamos quando são crianças que são pouco objetivas).
Abaixo o trailer e tem o filme completo também.



28. In film nist (Isto não é um filme)
país: Irã
ano: 2010
Pensando bem, o meu problema com os filmes iranianos é que aceito a "falta" de objetividade quando ela faz parte de um contexto que a justifique. Nesse caso, o filme mostra de forma crua o que está acontecendo: o diretor iraniano Jafar Panihi foi proibido pelo governo de filmar, então só lhe resta mostrar sua prisão domiciliar e contar um pouco dos planos que tinha para o filme. Confesso que desconfio que o resultado foi aclamado mais como sinal de solidariedade ao cineasta, e eu diria que o final foi um tanto estranho. Pode ser que desvirtue a proposta inteira (de documentar o momento que o cineasta tava passando), mas acho que daria um belo remake essa história (talvez dessa vez incomodamente "história" mesmo e não "estória"). Modificaria aqui e ali, e tirando os trechos desnecessários para o conjunto (talvez isso seja sinal de que estou acostumado demais à objetividade dos filmes de outros países...)... Pensando bem, talvez eu esteja encarando como filme quando o próprio título diz que não é, né...
Enfim, trata-se de um personagem que está em situação incômoda.

29. Princesse Marie (Princesa Marie)
país: França
ano: 2004

Confesso que sou daqueles que não assistiu muitos filmes franceses além de Amelie Poulain (e nem muitos alemães além de Corra Lola Corra). Mas felizmente assisti essa bela produção.
Marie é sobrinha-neta de Napoleão Bonaparte, é casada com o príncipe Jorge da Grécia, faz parte da aristocracia mas é infeliz. No começo vemos ela com planos de fazer uma cirurgia na genitália. Mas então ouve falar de Freud e uma novidade: a psicanálise (se até hoje há controvérsia, imagina naquela época!). Freud a trata e dali começa uma grande amizade. Freud mesmo diz que a relação deles já não é mais de paciente com médico. No começo ela diz que não precisa chamá-la de princesa, mas Freud pede perdão mas acha mais interessante chamá-la assim talvez por que na infância ouvia histórias de príncipes e princesas. (OBS: não deixa de ser até meio fofo ver o Freud velhinho pronunciando "princhecha" com sotaque). Ela mesma se torna uma psicanalista.
O filme é dividido em 2 partes, e na segunda  é a vez dela retribuir: Freud é judeu e ela vai tentar convencê-lo a fugir do nazismo, antes que seja tarde demais.
Abaixo o trailer em espanhol, e achei o filme completo com subtítulos em espanhol.


30. Truckers
país: Reino Unido
ano: 1992

Olha, vocês não tem noção de como estou feliz de ter encontrado esse filme e disponibilizar para vocês. Truckers é uma animação de bonecos que ninguém ouviu falar, eu até tinha receio de comentar pois o assunto morria muito rápido: eu dizia que certa vez tinha visto uma  fantástica história assim assim e como ninguém mais tinha visto, parecia até que eu tava falando de uma miragem.
É daqueles filmes aparentemente para crianças mas é recheado de inteligentíssimos paralelos históricos. Um grupo de nomos (você pode entender como gnomos, aqueles pequenos seres) sobrevive se alimentando de lixo e lutando com ratos. O ancião carrega uma pequena caixa, que é um computador que estava descarregado por ter passado muito tempo longe da eletricidade. O ancião mesmo fica surpreso e revela que a "caixa" nunca tinha falado de verdade antes, o pai dele dizia "pense no que a caixa diria e diga, para orientar seu povo" (enfim, o que parecia um amuleto ancestral se revela uma fonte de inteligência verdadeira).
Quando eles encontram outros nomos no armazém, eles são discriminados pois o líder religioso dos nomos diz que não existe nada fora do armazém (uma analogia ao pensamento geocêntrico da idade média). Mas ao mesmo tempo, há rumores de que o fim está próximo, o que é muito cômico pois na verdade não é uma profecia e sim cartazes da queima de estoque que o armazém vai promover para encerrar suas atividades. É claro que os nomos do armazém não acreditam que um dia o armazém fechará nem que existe o lado de fora do armazém.
Quando eles se convencem de que precisam sair, fazem um plano de roubar um caminhão, o que para eles é praticamente como construir uma nave para fugir para o espaço. Vão precisar unir suas forças e esse é o aspecto mais bacana.
OBS: após mais de 10 anos procurando o filme, fico sabendo que essa fantástica história não permaneceria desconhecida por muito mais tempo: A DreamWorks pretende fazer sua própria versão de Truckers e tem até data: 2015. Imagino que será animação por computador, entre outras diferenças... Por isso, ollha só, você poderá dizer que viu a versão anterior com todo o charme do stop-motion de bonecos.
Abaixo o filme completo. Seria perfeito se eu achasse a versão dublada (que vi no extinto canal Locomotion), mas fazer o que?



31. Cannon Fodder (parte de Memories)
país: Japão
ano: 1995

Incluir ou não Cannon Fodder que tem só 22 minutos por ser um dos 3 episódios de Memories? Decidi incluir já Memories foi lançado como longa. Numa sociedade extremamente militarizada (todas as casas têm canhão), a vida da sociedade gira em torno do ritual diário de disparar uma enorme bala de canhão contra "o inimigo". O filho vai à escola enquanto o pai vai trabalhar. No final o filho pergunta: "mas afinal quem é o inimigo?"
Abaixo o episódio inteiro, em espanhol (certa vez eu passei aos meus amigos mas só tinha encontrado em japonês com legendas em chinês. Um amigo disse a língua que ele não compreendia e os cartazes em cirílico davam uma interessante lembrança da URSS que combinava com o filme).

32. Hero (Herói por acidente)
país: EUA
ano: 1992

A sociedade é formada por muitos indivíduos reclamões, que quando assistem a TV e ficam sabendo que tem muito lixo pela cidade, dizem que o governo deveria fazer algo, que outras pessoas são mal-educadas e produzem muito lixo, etc, mas aí a própria pessoa quando sai na rua, joga bituca de cigarro por aí. Enfim, pequenas hipocrisias que as quando apontadas, dizem que você é quem deveria cuidar de sua vida.  Bernie, o protagonista desse filme, é assim: um rabugento reclamão. Mas então um avião cai bem na frente dele. Ele até grita resmungando que tá atrapalhando o caminho e que alguém deveria tirar os sobreviventes de lá, mas então percebe que está sozinho e ele mesmo vai lá resgatar (enquanto fica reclamando que isso é tarefa dos bombeiros e é o governo que deveria estar fazendo isso). No dia seguinte, a mídia publica que um misterioso "anjo" resgatou muitas vida e que as pessoas gostariam de agradecer pelas suas vidas. Mas quando Bernie pensa em se apresentar para as câmeras, um sem-teto se apresenta antes. A ironia é que esse sem-teto mentiroso é realmente uma pessoa muito boa, que inclusive se sente culpado por ter mentido para a mídia. Enquanto isso ninguém acredita que Bernie é que salvou aquelas vidas e a ex-mulher até joga na cara dele que ele devia aprender a ser um ser humano melhor como aquele mendigo que agora é famoso! Uma deliciosa comédia do começo dos anos 90.





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Menções especiais:

Selecionei os filmes em que há questionamento quanto à sociedade, um incômodo.

É claro que poderia inclui mais na lista se eu conhecesse mais. É certeza que Brazil - o Filme entraria se eu tivesse assistido. Dizem que Fuga das Galinhas é ótimo e seria mais uma opção além de Truckers de filme para crianças. Já que coloquei Dogville, a sequência Manderley também entraria (é uma pena que perdi a oportunidade de assistir o filme com debate no Museu Afro-brasileiro...)

Teve gente que sentiu falta de Adeus Lenin, gosto muito do filme, mas achei que o principal tema do filme é a família inserida no socialismo ou capitalismo sem que haja muita crítica sobre um outro.

Bem, é isso aí pessoal. Não tem filmes de todos os todos os países, mas como disse, fui colocando os que eu conhecia e lembrava!

sábado, 14 de dezembro de 2013

História: Bakunin e Netchayev

No livro "A  Ideia - história dos  Movimentos Anarquistas" (autor Woodcock) da coleção Baderna da Conrad se comenta que apesar de frequentar a vida boemia, ele não era visto pegando mulher e por isso se comentava que devia ser impotente.

Casou com uma proletária simples intelectualmente limitada, que não levou consigo nas fugas internacionais (talvez fosse um casamento de aparências, já que afinidade intelectual parecia improvável). Daí um assunto que ficou escondido/ cochichado pelo movimento proletário por mais de 1 século: Woodcock compara o envolvimento de Bakunin com o jovem Netchayev com o de Oscar Wilde e seu amante... Bakunin talvez tenha sido homossexual! (anarquistas devem ter escondido e marxistas cochichado mas sem registrar pois era uma época muito pudica).

A menção a Wilde é para comentar a desgraça (Wilde foi condenado  por causa do amante), no caso de Bakunin, o envolvimento com Netchayev envolve a tradução para russo de O Capital (acho incrível como esse fato também é pouco conhecido: o primeiro candidato a traduzir O Capital para russo foi Bakunin!).

Netchayev convenceu Bakunin de que merecia ser melhor pago pelos editores e escreveu ameaças à editora dizendo fazer parte de um grupo secreto de operários que assassinavam patrões. A parte do grupo secreto era blefe, mas era realmente truculento e assassino, ele provavelmente concordaria muito com Stalin se se encontrassem. Stalin o assassino dentro do socialismo, equivalente no anarquismo seria Netchayev. Pouco tempo depois eles romperam (com Netchayev sendo sacana e fugindo com $$ arrecadado dos operários a pretexto de solidariedade para Bakunin). Só que Bakunin não negava o envolvimento.

Teve então uma reunião da Internacional em que Marx relatou o incidente da tradução de O Capital e acusou Bakunin de envolvimento com chantagens e assassinato, e que se deve rejeitar grupos operários com essa linha de pensamento (pena que não aplicaram isso a Stalin no século seguinte...)

Há 2 interpretações ao fato: no livro Anarquistas julgam Marx, se comenta como Marx foi baixo e oportunista, além de mostrar estranha defesa dos negócios capitalistas no ramo da editoração de livros. Já no livro Amor e Capital, se coloca que Marx foi correto e que a exposição pública das ameaças de Netchayev serviu para rejeitar a formação de seitas e unificar o movimento.

A propósito, esses 2 livros, "Amor e Capital" e "Anarquistas julgam Marx", só citam que Bakunin teve envolvimento com Netchayev, só "A Ideia - anarquistas vol.1" diz que talvez fosse uma relação amorosa.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Kassab ia de helicóptero, Haddad pretende ir de ônibus

Em São Paulo, no lugar do Kassab (PSD) entrou o Haddad (PT).


O Kassab ia ao trabalho de helicóptero - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0807200811.htm

O Haddad pretende ir de ônibus - http://catracalivre.com.br/sp/mobilidade/indicacao/prefeito-haddad-pode-comecar-a-ir-trabalhar-de-onibus/

Na fase de transição entre os prefeitos, já se via que o uso de helicóptero ia diminuir muito: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,prefeito-reduz-uso-de-helicoptero-,1062562,0.htm

E por curiosidade, em Londres, os políticos não ganham nem carro oficial, ganham vale-transporte e o uso de taxi é fiscalizado - http://catracalivre.com.br/geral/mobilidade/indicacao/em-londres-prefeito-e-vereadores-ganham-vale-transporte-e-nao-tem-direito-a-carro-oficial/

Só para poupá-los de acessar os links, vou dar CTRL+C, CTRL+V aqui, ok? ;)

Da Folha:
De helicóptero, Kassab escapa do congestionamento paulistano
DA REPORTAGEM LOCAL
A bordo do helicóptero que o levou na última sexta-feira até o Capão Redondo (zona sul), Gilberto Kassab disse: "Olha a marginal [Pinheiros] como está fluindo bem". Eram 10h25.
Às 17h15, de volta ao helicóptero e após ser questionado sobre um caminhão estacionado na zona leste, se mostrava confiante no apoio da população à restrição da circulação de caminhões. "É uma medida que vem sendo trabalhada há meses, implantada gradualmente. Só dará certo se não houver exceção e se a população fiscalizar, como foi com o Cidade Limpa."
A Folha acompanhou Kassab desde sua casa. De lá, ele foi a um heliponto para voar até o Capão Redondo, de onde seguiu de carro ao M'Boi Mirim. Longe das vias mais problemáticas da cidade, a comitiva não enfrentou trânsito. Kassab voltou de helicóptero à prefeitura.
No fim da tarde, ele voou até o Brás, de onde percorreu sete quilômetros até o alto da Mooca. O trajeto durou 20 minutos.
Quando vai de carro de seu apartamento, próximo ao shopping Iguatemi, até a prefeitura, no viaduto do Chá, ele diz gastar, em média, 20 minutos para percorrer cerca de oito quilômetros. Sempre que é indagado sobre o trânsito, repete que a prefeitura garantiu R$ 1 bilhão no metrô. "E poderemos investir mais R$ 1 bilhão."
Kassab ainda diz que seus corredores de ônibus "são corredores de verdade, com espaço para ultrapassagem". (FBM)

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De Catraca Livre:




Prefeito Haddad pode começar a ir trabalhar de ônibus

Redação em

E se você encontrasse Fernando Haddad no ônibus?

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Já imaginou se todos prefeitos fossem para o trabalho de ônibus?
Imagine pegar o ônibus lotado e ouvir do cobrador: “Senhor Prefeito, você pode dar um passinho para trás? Tem mais gente querendo subir”. E quem sabe ter a honra de segurar uma pasta com os documentos oficiais enquanto Haddad se equilibra no corredor? Ou conversar sobre a agenda da Prefeitura espremido no busão?
Parece loucura, mas a cena pode tornar-se real. Fernando Haddad pediu um estudo para sua assessoria militar sobre a possibilidade de ir e voltar de ônibus todos os dias. O prefeito mora no Paraíso, zona sul, e a sede da Prefeitura fica no Viaduto do Chá, centro.
Atualmente, Haddad faz o percurso de carro e demora cerca de dez minutos. De ônibus, existem cinco linhas na qual ele poderia fazer o trajeto, que iria demorar cerca de 30 minutos, contando a caminhada até o ponto e a espera.
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Após onda de protestos, tarifa não terá reajuste em 2014
O principal empecilho para o Prefeito é a questão da segurança. Segundo nota oficial da Prefeitura, o uso do transporte coletivo em horário e local regular pode ser usado para abordagens e protestos, causando transtornos à agenda oficial. Outra preocupação, é incomodar a vizinhança.
Tarifa congelada
Depois da jornada de protestos de junho contra o aumento da tarifa no transporte público, a gestão de Fernando Haddad anunciou que o preço da passagem continuará congelado em R$ 3 para 2014.

A tarifa será mantida graças à elevação dos gastos com subsídios ao transporte em 2014. A subvenção (diferença entre receita e despesas do setor) chegará a R$ 1,65 bilhão, 150% maior do que em 2013.
O valor para a pasta de transportes deverá subir de R$ 2,5 bilhões para R$ 4,2 bilhões. Esse aumento terá ajuda de repasse federal com R$ 1,5 bilhão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

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Estadão:

Prefeito reduz uso de helicóptero

10 de agosto de 2013 | 2h 10


O Estado de S.Paulo
O uso de helicóptero na Prefeitura de São Paulo está em declínio. No primeiro semestre, o prefeito Fernando Haddad (PT) fez 62 voos, um total de 18,8 horas. No mesmo período do ano passado, Gilberto Kassab (PSD) usou 219 vezes o equipamento, em 68,3 horas. Comparando as horas de voo, queda é de 72%.
A economia é favorecida não só pela preocupação com gastos como também pelo estilo de governo de cada um. Enquanto Kassab tinha agenda externa, Haddad prefere organizar encontros na Prefeitura.
A diferença nos gastos é grande. Em uma época de corte de 20% nos contratos, o atual prefeito praticamente só utilizou o Helicóptero Águia, da Polícia Militar. Pelo convênio, a administração pode voar até quatro vezes por semana sem custo. Fora da parceria, Haddad fez 5 voos - 1h20. Já o ex-prefeito Kassab fez 77 voos - 18,9 horas fora do convênio com o Águia.
Em 2012, Kassab gastou R$ 274 mil. Por meio de sua assessoria, o ex-prefeito afirma que o uso da aeronave foi proporcional à necessidade de deslocamentos para cumprir a agenda diária. A Prefeitura não informou o valor gasto neste ano./ A.R. e D.Z.

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Catraca Livre:




Em Londres, prefeito e vereadores ganham vale-transporte e não têm direito a carro oficial

Redação em

Em Londres, ao invés de receber um carro oficial ao assumir o cargo, o prefeito e os vereadores da cidade ganham um vale-transporte. O tíquete é anual e vale para ônibus, trens e metrô.
Também é comum ver o prefeito da cidade, Boris Johnson, utilizar a bicicleta como meio de transporte nos dias de trabalho.
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Prefeito de Londres costuma ir de bicicleta ao trabalho
Até o reembolso das despesas de táxi passa por fiscalização. As autoridades só podem usar essa modalidade de transporte ao provarem que não existe uma opção mais barata. As prestações de contas desse serviço podem ser acessadas pela internet.
Enquanto isso, no Brasil
Em São Paulo, os veículos usados pela Câmara Municipal são alugados e tem gasto anual de cerca de R$ 1,78 milhão. A casa tem 55 vereadores. Já a Prefeitura de São Paulo gasta R$ 3,1 milhões por mês.
Na Assembleia Legislativa, os gastos chegam a R$ 223 mil mensais com os carros oficiais. 92 deputados usam o benefício.
Já na Câmara dos Deputados, na Capital Federal, R$ 6.334 milhões serão usados para a condução de veículos oficiais e R$ 583.864 mil serão usados para manutenção dos automóveis. O gasto é anual e a Câmara tem 513 deputados.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

de que lado Célio está?

(escrito e divulgado originamente no dia 14/8/13)
"mas afinal de que lado Célio está? Ele diz que não está do lado do foro do Eixo, mas mete pau no Arbex e pontua críticas à esquerda tradicional"

Bom, o lado que defendo é o do artista, simplesmente. O que mais temo é qua os ataques ao FdE ganhem contornos anti-artistas. Por isso que estou aproveitando um tópico de email: Abaixo da minha mensagem,o artista Junior Pimenta comenta que a questão do FdE é a ponta do iceberg da questão sobre a remuneração decente. Daí que proponho o teste: abaixo da assinatura digital de Pimenta, tem links, um dos links leva à reticências, e aí se vê que esse projeto tem apoio do governo do Ceará. O teste é: o que você achou? Se a reação for "Uai, ele critica o FdE mas também recebe verba do governo...", aí mostra que você não tá entendendo direito os artistas. O problema não são artistas, nem os coletivos de artistas e nem redes, o problema é o modelo de rede adotado pelo FdE. no caso, se Pimenta fosse filiado ao FdE, apreceria o logo do FdE e uma parte da verba do governo do Ceará estaria indo para o FdE.

Pensando na história da esquerda vejo os artistas como acadêmicos..., ou ainda como quilombolas. Explico: desde que começaram as manifestações, tem rolado disputas de espaços, e uma certa confusão sobre o que significar falar isso ou aquilo. Daí, que para se diferenciar dos nacionalistas, uma menina declarou: "brasileira coisa nenhuma, sou indígena, quilombola!". Historicamente essa fala é interessantíssima de ser analisada. Atualmente a esquerda se identifica com quilombolas, gays, etc, mas na década de 70 não era assim. Os comunistas diziam que as pautas das minorias atrapalhavam, pois interessava mais pensar na revolução geral, daí que a revista Lampião da Esquina(para público gay) não era bem vista nem pela direita, nem pela esquerda (essa história está na entrevista com João Silvério Trevisan). Quilombolas, então? A esquerda se dizia internacionalista, e portanto a pauta quilombola era pior que a nacionalista, específico dentro do específico, atrapalhava o internacionalismo e a reorganização geral da sociedade. Enfim, as minorias não eram bem defendas pela esquerda da época, daí que vemos hoje coisas como Fidel admitindo que perseguiu gays no passado.

Mas voltando mais no tempo, se vê que no começo a esquerda tinha problemas com a academia também. Marx estudou economia por fora da academia, pois as universidades eram controladas diretamente pelos governos e Marx nunca foi admitido como professor. Daí que em Marx/Engels é possível encontrar textos anti-academia. Demorou muito para o marxismo entrar na universidade, e havia um "muro" separando acadêmicos dos movimentos sociais. Daí que os primeiros contatos eram vistos com desconfiança por ambos os lados. "Por que os acadêmicos querem se aproximar do movimento? Será que não é para se aproveitar de nós? O que eles vão trazer de contribuição? Será que a contribuição deles não será apenas algo útil deles para eles mesmos, se exibierem entre eles?" Essas deviam ser algumas das perguntas. Vejamos: uma pessoa da academia pode se aproximar de sem-terra, por exemplo, e produzir uma tese, o movimento pode achar que embora o acadêmico diga que a tese em si é sua contribuição, a tese só serviu para o acadêmico ganhar prestígio entre os acadêmcios, e que nesse caso houve um "aproveitamento", o movmento foi usado como "trampolim". Hoje em dia a esquerda já tá tão acostumada com acadêmicos, que não vê problemas quando eles falam numa linguagem tão difícil que só é compreensível por seus pares, como se simplesmente se declarar um acadêmico de esquerda bastasse e fosse elogioso

Já os artistas, eu acho que não estão sendo ainda tão bem compreendidos. É mais fácil o artista ser acusado de se aproximar dos movimentos por interesses próprios do que os acadêmicos. "Mas para que serve essa arte?" é uma pergunta mais comum do que "Para que serve essa tese?" Aproveitando: menos comum ainda é perguntar ao jornalista: "para que serve essa reportagem?". Do ponto de vista de um sem-teto por exemplo, jornalistas, acadêmicos e artistas são pessoas que passaram um tempo vivendo junto - alguns até gerando prejuízos, como comer a própria comida do acampamento, outros fazendo pequenos trabalhos voluntários (e eu diria que os jornalistas são os que acabam comendo a comida, e os artistas os que fazem pequenos trabalhos voluntários, mas não vou generarizar) - e no final podem acabar sendo vistos como aqueles que subiram na carreira (jornalística, acadêmica, artística) se aproveitando dos outros, ganhando até verbas (como bolsas de estudo e editais).

Espero que a crítica ao FdE não ganhe contornos anti-artistas e que da mesma forma como incorporaram as minorias e os acadêmicos, no futuro não haja questionamentos do tipo "ah, mas os artistas se inseriram nos movimentos para se sustentarem de verbas de editais, é o ganha-pão deles, é a lógica capitalista" (lembrando que proporcionalmente poucos trabalhadores são acusados de ganharem o pão e assim alimentarem o capitalismo, a própria condição de trabalhador muitas vezes é endeusada ao invés de condenada. "ah, mas o operariado é nota 10, ele é quem gera valor, artista não", bem, mas a mesma crítica poderia ser feita aos acadêmicos!). Lendo os relatos tanto de quem saiu do FdE, quanto de quem permancece dentro, o que vejo são pessoas tentando ganhar a vida de alguma forma. E nesse meio, editais e patrocínios são rotina, e não é possível a esquerda querer que eles vivam de forma 100% doadores de si, como muitas vezes é utopicamente pregado mas é inviável. 

 OBS: Vai acontecer o 2° seminário "há machismo dentro da esquerda?", discutindo sobre reprodução de opressões, reparem que mulheres existem há muito tempo e esquerda idem, mas mesmo assim o seminário tem ares de discutir coisa inédita. Daí que não posso deixar de obervar um dos defeitos da esquerda: se hoje em dia, as minorias são acolhidas, incorporadas, e o mesmo aconteceu com os acadêmicos, o que não vemos são admissão de erros. Vemos pouco alguém dizer que errou, o que vemos são pessoas dizendo "outros erraram, mas eu tava certo, eu era dissedência na época". Talvez seja por isso que vemos toda hora surgirem grupos novos de esquerda: ao invés de erros, parece até aquela história do darwinismo de sobreviverem os que tavam certos desde o começo, e esse grupo é que evoluiu angariando mais adeptos... Daí que os que aceitam agora as minorias falam como se sempre tivesse sido assim na esquerda e penso que isso atrapalha justamente pensar em incorporar outros de fora, pensar em admitir erros. Arbex (coitado, tô metendo o pau de novo) por exemplo ao invés de pensar em incorporar novos elementos da contracultura, opõe contracultura x velha luta de classes. "Não sou brasileira, sou indígena, quilombola!" entonada para resgatar a velha opisição direita nacionalista x esquerda, mas como se desde sempre esquerda e quilombolas estivessem nessa luta contra a direita... é realmente um caso curioso! (e até sugeriria para um antropólogo de esquerda colocar como tema de estudo, que por sua vez poucos o criticarão pois o acadêmico será visto como um cara que estuda a esquerda o que por si só seria elogioso, ou como um simples cara que tá ganhando a vida honestamente)

 Enviadas: Sábado, 10 de Agosto de 2013 18:35
Assunto: Re:O Fora do Eixo é uma organização voltada a si própria - por Arthur Taguti



Flávia,

Essa questão do Fora do Eixo, é a ponta a iceberg, é algo que deve ser repensado... Existe um grande risco 
nesse processos de financiamento da cultura, onde na maioria das vezes, tem pessoas â frente, que não tem conhecimento,
nem interesse em cultura, e pensa apenas em números. E onde o dinheiro, vêm de isenção fiscal, na sua grande maioria.

O setor de marketing, pensa em quantidade... E acredito que não apenas as instituições privadas fazem isso ( com isenção
fiscal) como também o próprio governo em alguns casos. Vejo que é papel do governo apoiar principalmente iniciativas, que não
conseguem se inserir no campo mercadológico. Acredito num modelo, onde você possa atuar de maneira profissional onde todos 
os envolvidos sejam pagos.

A algum tempo que só participo de projetos ganhando pro-labore, ou quando ninguém está ganhando nada, e se eu estiver 
interessado também entro sem ganhar. Penso, que essa postura de cobrar respeito, tem que partir da gente também, das nossas 
posições enquanto artistas.

Abraços e vamos em contato...



Enviadas: Sábado, 10 de Agosto de 2013 12:59
Assunto: O Fora do Eixo é uma organização voltada a si própria - por Arthur Taguti

  Enviado por luisnassif, sex, 09/08/2013 - 21:00
Por ArthurTaguti
Olha, o que me impressionou na entrevista de Capilé/Torturra, bem como na réplica de integrantes do FdE a Beatriz Seigner, é o uso obsessivo da metalinguagem. Enquanto Beatriz parece uma amante da arte e aborda questões culturais em todo o seu texto, as respostas, em sua maioria, centraram-se no FdE em si: nós, nós, nós, nós, nós, nós.
Um trecho do já viral texto dela é bem revelador. Ela diz: "e o meu choque ao discutir com o Pablo Capilé foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos, (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas”, e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso)".
Assim, não é por nada não. Mas como é que alguém que pensa que uma "bisoiada" no Wikipedia ou no primeiro link digitado no Google pode substituir escritores que desvelaram a alma humana, escreveram sobre temas universais como inveja, medo, cobiça, amor, ódio, culpa, como Machado de Assis, Shakespeare, Oscar Wilde, Dostoievski, e etc., pode se apresentar como um Mecenas da Cultura?
Como é que pode alguém se apresentar como Mecenas, se considera filme "perda de tempo"? Será que a sociedade digital tornará obsoleta as lentes analógicas de Akira Kurosawa, Federico Fellini, Charles Chaplin, Gláuber Rocha? Será que o apego ao "novo" o torna insensível a todas as emoções humanas que a arte desperta?
Como é que MinC e diversas Secretarias Estaduais e Municipais empregam milhões e milhões, para fomentar a cultura, em uma organização manejada por alguém que não reconhece a atemporalidade e universalidade da arte genuína (como os livros e os filmes clássicos)? Alguém que pensa que a linguagem vista em "Crime e Castigo" ou "Memórias Póstumas de Brás Cubas", ou até o culto a vida e ao amor em "Memórias de minhas putas tristes" pode se tornar obsoleta, como se fosse um gadget ultrapassado?
Por isto que chega-se a inevitável conclusão que o FdE é uma organização voltada a si própria. E não é ojerizando o novo não. Já disse muito aqui que sou fã do pessoal do MPL, que deve ter seus defeitos (como qualquer outro movimento social), mas tem um discurso político claro, uma estrutura organizacional que nenhum ex-integrante - até agora - contestou com tanta contundência a ponto de se tornal viral nas redes sociais.
Assim, vendo por este prisma, já não me espanto mais com o desrespeito aos artistas, que não são remunerados mesmo sendo o Coletivo muito competente em captar recursos públicos e privados, e aos próprios empregados, que se dedicam 24/7, sem carteira assinada, sem previdência social, sem FGTS, e ainda, segundo Laís Bellini, ficam sujeitos a todo tipo de assédio moral, lavagem cerebral e perseguição.
Isto porque o objetivo maior do FdE parece ser a promoção da organização e dos seus dirigentes. Aí entramos naquela discussão que os fins justificam os meios. Atua-se como camaleão, metade estrutura empresarial bem articulada para captar milionários incentivos, metade socialismo utópico (sem o socialismo) para explorar empregados, não pagar cachê a artistas e ganhar a opinião pública (inclusive com crowdfunding), sendo tudo moralmente permitido se for para a realização do objetivo maior, promover esta estrutura que eles crêem revolucionária.
Não é a toa o discurso messiânico e autoconglatulatório. Tanto que a resposta do Torturra é reveladora disto: "estou deprimido", "vocês não entendem o que fazemos", pedindo até uma tolerância ao calote, tudo em prol do sucesso deste modelo "novo".
Assim, com o poder público empregando recursos a quem não cultua livros nem filmes, a consequência é o que estamos vendo aí, a instrumentalização do discurso de promoção a cultura, levando a sua desvalorização, pois se torna meio, moeda de troca, para fins outros que não culturais.
Olha, eu gostava muito de assistir o Mídia Ninja, curti para caramba o baile que eles deram no Roda Viva, quando discutiram a velha mídia, mas, como dizem, nem tudo o que reluz é ouro, e infelizmente o único novo que continuo admirando é o MPL.