obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

terça-feira, 29 de julho de 2014

Sobre o "Fim do Brasil" da empiricus.com.br


Uma empresa chamada Empiricus Research colocou um anúncio patrocinado no Facebook. Assim, essa análise bem pessimista sobre o futuro do Brasil tem se difundido. (Nota: um outro texto que também reclamava do governo Dilma é o Santander)

O texto (disponível em http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil-5/) diz que pode haver uma grande crise econômica que faria o Brasil voltar à "pré-história", se referindo à época antes do Plano Real. O texto teme que a economia desande pois estão sendo tomadas medidas que não teriam sido tomadas desde a existência do Plano Real.

Convenhamos que o Plano Real nem é tão velho assim e por isso o exagero de chamar o período anterior como pré-histórico, e por ser recente apenas os governos FHC, Lula e Dilma conviveram com a moeda chamada Real (R$). De forma que não acho razoável falar em qualquer tradição que defina o que dá certo com o Real ou não, ainda mais que em 2008 houve a crise mundial que mudou muita coisa no andamento da economia. Então se o Real passou por poucas mexidas por ter passado por poucos governos, então também não é razoável falar que mudanças recentes farão o Real desandar a ponto de voltar ao período antes do Real, para a tal "pré-história".

Não sei qual a idade de quem escreveu o texto, pois é exagero de chamar o período antes do Real de pré-histórico, dizendo que antes do Real não havia investimentos, não havia nada. Se pudéssemos perguntar para os governos anteriores ao Real eles confirmarão que é exagero falar dessa forma. Da mesma forma que por mais que tenham falhado em controlar a inflação, dirão que é sem sentido a afirmação de que "inflação é como uma gravidez, inevitavelmente cresce". Imagino que os governantes da época diriam que se fosse asssim teriam desistido antes mesmo de começarem os trabalhos de conter a inflação, e então que eles foram heróis só por terem lidado com aquela realidade.

Algo contraditório é que apesar de ignorar o período anterior aos 20 anos do Real, diz que a crise na Inglaterra nos anos 70 começou quando os trabalhistas vieram com uma agenda social-democrata querendo distribuir renda através de maior controle das empresas e que a inflação disparou quando tentou-se controlar os preços. Liberais são contra o controle de preços pois o controle iria contra os preços "naturais". De forma que se o governo determina que comida não pode ser cara para que todos possam comprá-la, há sentido em falar que isso prejudica a economia pois ou os produtores de comida vão engolindo o prejuízo e vão falir, ou vão diminuir os salários de seus empregados para não terem prejuízo, ou dar calote aos fornecedores de matéria-prima, utensílios, etc. De forma que o prejuízo dos produtores, a diminuição de salários, calote nos fornecedores, etc realmente prejudicam a economia, e isso foi causado pelo controle de preços, por causa de preços "artificiais", não-"naturais". É como tentar  beneficiar o povo dando de um lado, mas tirando do outro. Produtores de comida vão descontar nos empregados ou fornecedores, e estes vão diminuir o consumo ou dar mais calotes, e assim a comida barata de um lado se transformou em consequências negativas do outro. Mas daí, fazer como o texto e falar sem mais nem menos em inflação de 5.000.000.000.000.000% é exagero puro.

O texto é de interesse do próprio Empiricus, e isso fica muito claro no final em que o texto vai dando que passos os brasileiros devem tomar e para tidos eles é dito que Empiricus pode ajudar com uma consultoria.
Eis o ponto fraco desse texto: sendo o objetivo fazer propaganda deles, eles só mencionam os problemas que levam ao produto deles. É como um vendedor de lanternas dizendo que no apocalipse é bom ter uma lanterna, não te faz pensar que no apocalipse pode faltar pilhas.

 
Por exemplo, diz ele que os EUA vão aumentar juros e que isso terá impacto catastrófico. Recomendação deles? Investimentos fora do Brasil para o qual eles dão consultoria. Ora, mas se EUA aumentam juros, o mundo todo sente o impacto e lá fora o investimento é tão inseguro ou pior que investir no Brasil.
Eles dizem que quando a crise chegar, o dólar vai aumentar. Mas acham que o aumento do dolar estará ligado aos investidores saindo do Brasil pois lá fora é melhor. 


Uma exceção à essa história de que culpar o Brasil (como sempre) é quando eles dizem que dólar vai aumentar pois os EUA vão aumentar juros, o que por sua vez tem relação com 2008. Os EUA injetaram muito dinheiro no sistema financeiro para segurar a crise (tal como mostrado no filme "Too big to Fail")

Como houve essa injeção de dinheiro (perto de US$ 1 trilhão), agora seria hora do governo dos EUA tentarem recuperar o que injetaram. Aumentar juros para os EUA se dará com o mesmo argumento porque Brasil deixou seus juros altos: segurar a economia, fazer com que o investidor pense que manter o dinheiro aplicado dentro do país (nesse caso EUA) seja mais vantajoso que investir do lado de fora. Assim os EUA chupam dólares do mundo para si (atraindo sua moeda de volta para casa), aí de fato o dólar pode disparar no mundo todo, pois com dólares indo em direção aos EUA, e assim escasseando nos demais países e o que se torna raro sobe de preço pela lei da oferta e procura. 

Note que isso independe das supostas medidas-terríveis que o Brasil está adotando. Nesse sentido a análise do Empiricus é ultrapassada não só por creditar alta do dólar ao clássico "é tudo culpa do governo brasileiro", como também não prevêem cenários para a decadência do dólar. Provavelmente não escreveram essa possibilidade no texto pois a consultoria deles não traça cenários com dólar decadente. 

Mas vejam só: se os EUA vão aumentar juros para chupar dólares , por outro lado isso quer dizer que aumentará a tendência do dólar ir perdendo posto de moeda mundial. Moedas européia e chinesa parece que estão entrando na disputa e nesse sentido o acordo recente do BRIC formar seu próprio fundo na verdade torna Brasil mais seguro e não menos seguro frente ao que está para acontecer no cenário mundial.

Cabe lembrar que em termos geopolíticos EUA vem perdendo espaço: recentemente no caso do abate do avião na Ucrânia, saiu o texto "Aula de (anti-) jornalismo: assim o New York Times manipula", que diz:

"Ou seja: a manchete de capa — aquela que a esmagadora maioria do público realmente lê – não é apenas imprecisa. Ela diz o oposto do texto que deveria resumir. Não é a Rússia quem está isolada: são os Estados Unidos. Nem os europeus, seus aliados mais próximos, estão, no momento, dispostos a seguir Washington nas sanções contra Moscou."

E numa outra questão recente, os EUA foram o único país a votar contra as investigações do massacre de Israel na Palestina.

Assim, a hegemonia dos EUA está diminuindo, já passaram pela crise, já estão ficando isolados em questões internacionais, e pode ser que futuramente o dólar fique decadente, cenário com que a Empiricus não trabalha.

Pós-copa e possíbilidade de crise (se tiver bolha imobiliária)


Para os próximos meses, alguns dados da Empiricus podem até dar sinais de acerto, como queda do preço dos imóveis, mas isso eu credito à especulação imobiliária por causa da Copa e não vejo como isso estaria relacionado com o apocalipse que eles anunciam. Hotéis por exemplo meses antes da Copa para dias dos jogos tiveram de reduzir seus preços à metade de tanto que especularam com a Copa, e imóveis e outros segmentos também vão sofrer com o pós-Copa, mas para voltar à normalidade, e não para quebrar tudo. Nessa linha o crédito pode diminuir, mas também nada que chegue a afetar tanto a inflação e muito menos o nível de desemprego.

Quanto ao hotéis reduzindo à metade seus preços, isso lembra a bolha imobiliária, sobre a qual num post passado (Brasil (contraditoriamente) se abrindo ao mundo) escrevi:

"Quanto ao Brasil, há risco de bolha imobiliária, como aconteceu nos EUA? Parece que o debate vai no sentido de que não há, ou, que se havia, está murchando (juro que tentei juntar um sim e um não). Eu pessoalmente estou preocupado pois tem apartamentos mais caros que castelos europeus e não só Casas Bahia, mas diversos serviços estão abrindo linhas de crédito (para aposentados, para Minha Casa Minha vida, etc) e levando a economia a depender de pessoas endividadas."

Diz-se que a economia está melhorando pois a Dilma caiu nas pesquisas, eu acho que não tem a ver com Dilma e sim com o pós-Copa. Mas e se houver mesmo uma bolha? Aí ao invés da economia melhorar teremos uma crise. Que talvez se dê nas eleições ou depois e dirão que a crise veio por causa da reeleição de Dilma (se é que será reeleita, claro). Só que a culpa não será do modo como o mercado vê a Dilma e sim por causa do estouro da bolha imobiliária, culpar a Dilma seria tão errado quanto associar a crise dos subprimes americanos com Obama.

O curioso (e talvez irônico) é os protestos contra a Copa terão segurado para que os investimentos não exagerassem na expectativas quando aos eventos, e talvez até tenham evitado que surgisse a bolha e a crise.



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