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O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Abaixo o Bolsa-Família! Quero ganhar também! Quero Renda Básica!... E o comunismo que defendo

Para fechar (por hora) a série sobre essa conjuntura maluca em que existem os defensores da ditadura para afastar o PT, vou focar numa das principais acusações contra o PT: o Bolsa-Família.

Dizem que o Bolsa-Família é como a compra de votos, que cria vagabundos, etc.

Já se argumentou que o Bolsa-Família não foi criação do PT (confirmada pelo próprio site do PSDB), que não gera dependência (afirmação do diretor do Banco Mundial) e que tem gente que abre mão quando se alcança a meta da independência. Aliás do 1° link, que leva à proposta do Aécio de transformar a Bolsa-Família em política de Estado, eu não gostei muito da reação do governo que adiou a votação pois transparece que as disputas eleitorais estão em jogo.

Mas... eu não estou aqui para defender o Bolsa-Família! Na minha avaliação o Bolsa-Família está sendo prejudicado por causa de todos esses boatos que querem derrotar o PT (por mais que exista desde o PSDB). Dizem que a Pax Romana ruiu pois o clima ficou muito ruim, com intrigas de poder. Por mais que o Bolsa-Família seja diferente do "Pão e Circo" dos romanos (convenhamos que é minimamente mais seletivo e mais produtivo do que apenas entreter a massa de pobres), não vejo com bons olhos todos esses boatos de que se cria vagabundos, etc. Infelizmente os pobres são sofredores e os boatos afetam eles, e muitos acabam achando que "não é o lugar", e esse sentimento de inferioridade acaba produzindo baixa-estima em alguns e estes acabam abrindo mão de oportunidades (Enfim, é diferente da imagem que se propaga como se os pobres fossem abusados que aproveitam coisas como a política de cotas e cuspissem na cara de quem ficou fora).

Mas a solução que proponho não é a extinção de benefícios. Acho que a solução é estender esses benefício a todos, uma ideia que inclusive já está aprovado (por unanimidade!) no Senado. Trata-se de um sonho antigo do senador Suplicy, mas que não seria aplicado de imediato, e devia haver um período de transição, sendo um dos instrumentos de transição a eliminação primeiro da miséria. Suplicy tenta convencer a Dilma da importância desse projeto, que é bem fundamentada teoricamente (ver Wikipedia).


Está havendo tanta polêmica quanto ao Bolsa-Família que penso se não seria melhor já partir para a próxima etapa, a do Renda Básica. Ao invés de cortar um benefício, estender a todos.

Tenho um ponto de vista teórico um pouco diferente do link acima que leva à Wikipedia. Adam Smith (pai do capitalismo) dizia que existe o valor de uso e o valor de troca. Diamantes podem ser pequenos mas ter um enorme valor de troca, e o ar, indispensável aos seres vivos, não ter valor de troca, apesar de ter valor de uso gigantesco.

Penso que o capitalismo tem destruído muitos recursos naturais, e talvez no futuro até o ar seja mercadoria. Ou seja, altera até o exemplo de Adam Smith. E se ao invés de caminharmos para esse futuro sombrio (guerra por água já é mais ou menos prevista), que tal tentar o caminho inverso? Fazer de uma pequena quantidade de dinheiro algo básico e vital como o ar?

Quem já passou pela pobreza, ou por condição de imigrante, ou alguma outra condição precária, sabe que o abiente influencia muito as pessoas. No filme Pregnancy Project é mostrado que quando todos começam a cochichar que grávidas na adolescência tem poucas perspectivas de futuro, as próprias grávidas começam a acreditar que não tem muito futuro. Estou preocupado que essa campanha da mídia está promovendo leva os mais pobres (justamente os mais fragilizados) a acreditarem que por receberem Bolsa-Família, por disputarem cotas, etc eles são incapazes, ou até mesmo bandidos. Infelizmente palavras podem influenciar as pessoas. Tem também casos de meninas que foram estupradas e de tanto ouvirem comentários de que talvez elas fossem culpadas pelo estupro, acabaram mudando a vida delas para se adequarem ao que as pessoas pensavam delas, até pela desorientação e crise de identidade.

É curioso que isso lembra as profecias que se auto-realizam. Os capitalistas dizem que isso pode acontecer no sistema financeiro, e por isso não se deve espalhar más notícias à toa: se acionistas ou empregados acreditam no boato de que a empresa não tem muito futuro, a falta de motivação acaba tornando isso realidade.

O socialismo (ou melhor, transição) que defendo 

 

Às vezes, o melhor quando surge uma dificuldade não é retroceder, mas acelerar os passos para ir para frente.

Se há ameaças para o Bolsa-Família, talvez seja melhor ir para a próxima etapa, que é a Renda Básica. Claro, não implementar assim, simplesmente em resposta à campanha negativa da mídia, melhor estudar melhor a experiência do Alasca, por exemplo.

Vi que não sou só eu que penso assim, vide Alasca, pré-sal e Renda Mínima.

Dizem que "comunistas" querem maior intervenção estatal até virar um Estado stalinista. (Não sei por que acreditam que admiradores de Rosa Luxemburgo, Trotsky, Rosdolsky, etc admirariam Stalin se esses autores foram perseguidos pelo stalinismo). Mas é de se lembrar que Comunismo deveria ser entendido como uma etapa além do Socialismo, em que o Estado será extinto.

Acho que a esquerda mesmo esquece por vezes disso, de como o caminho é desafiador, é necessário ser criatividade.

E quanto ao racionamento de água... 

 

O Estado de São Paulo está passando por dificuldades na captação de água, dizem que racionamento é eminente. É um problema que não se pode ignorar (embora, haja gente desse governo que tente ignorar o problema da contaminação do solo da USP Leste dizendo ser intriga da oposição). Um tempo se dizia que quem reduzisse o consumo ganharia descontos, mas ao invés disso pode haver multa para quem consumir mais.

Aliás acho que se o governador fosse do PT e não do PSDB, comparariam esse racionamento ao racionamento soviético... de qualquer forma temos um problema que envolve o Estado, consumo coletivo e individual da água. Ainda bem que não compararam a URSS, pois isso só afastaria da solução, pois não é simplesmente dizendo que é coisa da oposição (como acima, quanto à USP) que o problema se resolve. Tampouco adianta dizer que isso de economizar água é um papo muito ambientalista e comunista.

Estado não deveria ser encarado como quem toma decisões que só enchem o saco da iniciativa privada.

Se houvesse incentivos para quem implementasse melhorias nas residências para reduzir o consumo, por exemplo com desconto nos produtos necessários para tal seria um meio mais eficiente do que pedir para reduzir o consumo temporariamente. Seria melhor do que os cidadãos culparem uns aos outros pelos consumo e ficarem esperando que seu ideal de vida não seja alterado (como se ser anti-comunista, fosse um passo para um dia alcançar aquele estilo de vida em que se é rico o suficiente para não ter de prestar contas a ninguém).

Refletindo agora, os melhores debatedores tanto do capitalismo quanto do socialismo/comunismo são aqueles que enxergam as peças como um todo ao invés de só defenderem o pedaço da propriedade privada, o pedaço dos direitos que o Estado garante, o pedaço do indivíduo, o pedaço do coletivo, etc.

O Comunismo encarado como etapa posterior do Socialismo significa que após a desigualdade diminuir, após empoderar as pessoas, elas vão viver com suas próprias pernas pois a meta é extinguir o Estado. E se é para no final favorecer o indivíduo de qualquer forma, pelo bem do coletivo, temos de ser criativos e enxergar além do individualismo (tanto do rico que se acha exclusivo, quanto do pobre que agora está melhor mas almeja o consumismo), além de defender o coletivo chamado Mercado ou o coletivo chamado Estado. Tanto o Mercado quanto o Estado podem acabar causando a massificação e coisificação de pessoas (o outro ser humano é uma coisa, um dócil serviçal ou  um ameaçador concorrente). Enxergar o Bolsa-Família como algo que todos poderiam ganhar ou enxergar o problema da água como soma do consumo de indivíduos são pequenos exemplos que deixo para dizer que a meta de qualquer forma é o ser humano.

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