obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 17 de abril de 2015

LER-QI virou MRT, mas para onde a esquerda está indo?

A novidade dentro da esquerda é que a LER-QI refunda-se como MRT. A principal motivação seria a nova conjuntura atual marcada principalmetne pela pós-crise de 2008, jornadas de junho, e onda de mobilizações de 2014.

Aproveito essa novidade para refletir sobre a esquerda de modo geral, então esse não é um artigo sobre o MRT, mas que apenas usa comentários dessa nova organização, quase como desculpa, para escrever sobre a conjuntura.

Fracasso do PSTU/PSOL?

Uma das primeiras coisas que me chamou no texto do lançamento do MRT foi o seguinte trecho, que explica a necessidade da atuação deles:

"... impotência da esquerda existente, que, apesar de muitos anos atuando em sindicatos (como o PSTU) e no parlamento (como o PSOL), fracassou em constituir para milhões de trabalhadores e jovens uma alternativa revolucionária ao PT e ao reformismo."

Quando PSTU foi mencionado, me veio à mente isso:


É um texto do PSTU (que já postei num post anterior) dizendo que o MST deveria romper com CDES pois metade daquele conselho era formado por empresários. O rompimento seria necessário para o povo perceber que a conciliação de classes não é possível, e os lados são esquerda ou direita.

Daí que 12 anos depois, em 2015 está na boca do povo que conciliação não existe, é ser esquerda ou direita, se vê um acirramento de posições.

E se o acirramento era necessário, o PSTU não fracassou, estamos vivendo tempos em que a polarização está tão grande que mesmo que o PT venha com uma proposta capitalista ou reformista, a direita rejeita dizendo que se vem do PT é coisa da esquerda, coisa de comunista, e que todo ato do PT é "bolivariano" sendo impossível a conciliação.

A posição do MNN

Para o MNN é tão séria a necessidade de mostrar ao povo que o PT é uma alternativa errada que estava indo ao ato do 15 de março (aquele que a direita marcou!!!) e fez uma chamada convidando o PSOL e PSTU a fazerem o mesmo (!!!)

"A 'construção da greve geral' é sempre um objetivo a ser alcançado, sobretudo nos momentos de crise burguesa. A melhor forma de construí-la na conjuntura atual, nos parece, é atuar numa frente única de todos os lutadores contra a corrupção e a carestia de vida, no movimento de massas que está colocado. Assim podem ser desatadas contradições ainda maiores, fazer estourar greves e abrir o processo que efetivamente constrói a greve geral. Ou seja: a construção da greve geral passa pela intervenção direta nas contradições que estão colocadas, em unidade contra o governo."

Quanto ao PSOL, o MNN reclamou que o PSOL acabou deixando para os militantes livres para participar do 13 de março de quisessem:

"(...) PSOL afirmou: “O lugar do povo brasileiro não é nem reforçando as forças conservadoras, nem tampouco apoiando o governo atual e suas medidas”. Entretanto, abriu espaço para um apoio indireto ao PT: “queremos deixar claro para o povo trabalhador brasileiro que o partido não endossará e nem participará de atos cujo eixo seja apenas de defesa do atual governo”. (...) A redação abriu espaço para a defesa do dia 13, o que também transpareceu na seguinte frase: “Consideramos legítimo o sentimento de muitos que julgam ser esta uma estratégia [ir no dia 13] para impedir o crescimento de movimentações conservadoras”. A militância do PSOL acabou sendo, na prática, liberada para escolher o que fazer."
Aliás, segundo o PCO, o MNN nem chegou a ir, o MNN estaria chamando o PSOL/PSTU justamente para não apanharem sozinhos (leia "Além do 'nem...nem', a esquerda que queria ter ido ao ato da direita").
 O PCO esculacha o piscionamento do MNN, com razão (e olha que eu elogiar o PCO é coisa rara, afinal PCO é quem chega a fazer marcha do 1° de maio sozinhos para ficar longe do PT, PSTU, PSOL, etc. Como se os únicos lúcidos fossem o PCO! Então eles apoiarem firmemente o 13 de março convocada pelo PT/CUT foi uma surpresa!).

Durante a ascenção do PT, e principalmente quando o PT se elegeu, quem estava à esquerda do PT alertava para os perigos do caminho petista, que conciliar ricos e pobres tinha um limite, etc. Se produziu muito texto atacando o PT, denunciando a proximidade do PT com o status quo, e muitas vezes se xingou o PT de direita mesmo.

Mas daí ficar tão ingessada nessa posição anti-PT a ponto de confundir tudo e apoiar o ato da direita como o MNN fez é o cúmulo do tragicômico.

Aliás nesses tempos tão confusos, em que na economia por exemplo o PT realmente fica numa gangorra, ora para direita, ora para esquerda (exemplo dessa indefinição é a política econômica com vários pontos que tucanos aprovariam), alguns podem achar que o caminho mais fácil para não ficar confuso é adotar um posicionamento radical. Sim, há menos riscos de ficar confuso, mas é bom refletir se isso não decorre justamente pela simplicidade das ideias! Por exemplo, se você for um pessimista, você estará sempre certo, aconteça o que acontecer, você nunca estará completamente errado. Um pessimista de esquerda, mesmo que o país viva avanços, poderá dizer que avanços não são revolução né?

E aliás, hoje em dia, tem casos que nem sendo radical se previne de ficar confuso:
(quadrinho do blog da Madô )

O custo-benefício

Acho necessário ponderar o custo-benefício: o povo se polarizar é bom? O MNN disse que com a queda do PT, o povo não será mais enganado por quem se diz de esquerda mas age como direita, e assim ficaríamos mais próximos da revolução socialista. Quer dizer: para eles a polarização só traz benefício. Tá na cara a ingenuidade desse pensamento.

E for para irmos por aí, o PSTU não fracassou como MRT coloca, hoje em dia as pessoas nem lembram que existiu o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) que tinha metade empresários e metade trabalhadores, de forma que a polarização chegou, como a maioria dos partidos de esquerda queriam, e do ponto de vista do MNN, o PSTU após conseguir que o povo nem lembre do conciliador CDES, deveria apoiar o Fora Dilma que aí a vitória seria certa!

Capacidade de mobilizar

Embora os dias 13 e 15 de março tenham dividido opiniões (felizmente me parece que entre 12 e 15 de abril havia menos dúvidas), há uma data que não divide tanto: junho de 2013. Mas qual  a diferença da "primavera brasileira" para 13 e 15 de março? A resposta é que em 2013 não havia posicionamento claro nem para direita nem para esquerda.

Mas ela expõe um problema da esquerda: a capacidade de mobilizar, de agregar gente para si. É nesses momentos que fica muito exposto a distância do ideal povo revolucionário e a realidade do povo precisar estar sabendo o que está fazendo, a distância do ideal do povo se conscientizar a partir das contradições do sistema e a conscientização que demanda esforço militante para ser disseminado.

Por que MNN dizia como se fosse tão fácil na queda da Dilma vir a revolução? Porque para eles, a coisa se procede muito fácil. Sendo irônico, o processo de conscientização automática do povo se daria tão facilmente que o povo além de ir para esquerda, conseguiria tecer críticas ao PSTU, PSOL, PCO, etc e passariam a buscar e apoiar o MNN que a maioria (em termos de território nacional) nunca ouviu falar. (como disse no post anterior nas cidades do interior do país as pessoas mal ouviram falar do PSTU!).

Sugestão

Repito minha sugestão para as esquerdas: levar em consideração essas dificuldades de mobilização para tornar mais flexíveis por exemplo os modos de organizações da capital chamar os do interior. Por exemplo, a CUT das capitais consegue chamar sindicatos filiados à CUT do interior, mas aí como organizações que não são ligadas à CUT chamariam pessoas do interior? Vai demorar muito até que PSOL ou PSTU cheguem a mais localidades do interior. De forma que se houver formas de comunicação mais flexíveis, o interior pode acompanhar melhor os debates multi-partidários das capitais (a meu ver, isso pode até ser bom para que certas organizações da capital se desfaçam da arrogância que reproduz a dominação das capitais sobre os interioranos).

Pode parecer que PT/CUT estariam abrindo mão de seu domínio ao aceitar essas flexibilidades (PSOL, PSTU, talvez até o MRT poderem chamar organizações do interior), mas acho que petistas devem ponderar que nesses tempos confusos, vale a pena pensar no custo-benefício: é necessário que em momentos críticos a esquerda consiga debater facilmente em maior abrangência de território possível, e se PT mostra deficiências e limites, pode ser vantajoso abrir mão de apenas Cutistas se comunicarem com a rede CUT para fazer algo mais abrangente. Inclusive, aqui no interior um sindicato filiado à Força ficou com raiva do apoio da Força à terceirização e tapou o logo da Força. Ou seja, já estão aparecendo questões que pedem uma mobilização para além das filiações tradicionais, pois senão demora muito para um sindicato desfiliar-se da Força para se filiar à CUT, ou desfiliar-se da CUT para ir para Conlutas...

Voltando ao Custo-Benefício, provocação: e se CDES voltasse?

Vimos que polarizar por polarizar pode não ser vantajoso. Expûs que a esquerda precisa pensar em capacidades e milites de mobilização.

De forma que tive outra ideia provocadora: Em tempos de enfraquecimento do PT no Congresso (forte bancada do Boi, Bala e Bíblia), e dentro dessa dificuldade de se fazer qualquer coisa sem ser acusado de "comunismo", não seria interessante que o CDES voltasse, para que pelo menos volte a correlação de forças meio a meio? (pois em muitos momentos tenho a impressão que a correlação tá muito mais para empresários...)

A meu ver foi acertada a Dilma propor a regularização dos conselhos populares para o povo participar mais da política. A reação raivosa do Congresso contra a ideia, e  modo rápido como mandaram para a gaveta mostra que na atual conjuntura, o poder é dos congressistas, na maioria, sem interesse em representar, e muito menos dar poder ao povo.

Mas o CDES já existia , portanto o Congresso não pode negar, pelo menos não da mesma forma como fizeram com a proposta dos conselhos populares.

Isso não seria um retrocesso? Não seria um retrocesso o MST voltar a se sentar no CDES? ORa, sei não, do modo como andam as coisas, nesse clima anti-comunista, talvez seja um avanço. É claro que isso traz de novo a discussão que o PSTU fez em 2003, mas daí pergunto novamente se os resultados estão saindo como se queria.

Conclusão

Desde há muito tempo me coloco à esquerda do PT, e julgo que mesmo que mesmo quando apoio certas políticas do PT (ou defendo-o contra a direita), o fato de ser mais à esquerda me permite apontar as coisas de um modo que questiono para onde o PT tá indo, o que se aplica também à própria esquerda, como o presente artigo (é claro que nesse artigo, não que eu esteja à esquerda do MRT, nesse caso estou à direita do MRT mas continuo à esquerda do PT e sinto-me firme nessa posição, quer dizer, tão firme quanto possível nessa conjuntura confusa).

Levantei com propostas provocadoras, a questão do custo-benefício. Então é isso: a minha conclusão é que mais importante que ficar firme numa posição, é saber para onde se está indo.