obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Abaixo o Bolsa-Família! Quero ganhar também! Quero Renda Básica!... E o comunismo que defendo

Para fechar (por hora) a série sobre essa conjuntura maluca em que existem os defensores da ditadura para afastar o PT, vou focar numa das principais acusações contra o PT: o Bolsa-Família.

Dizem que o Bolsa-Família é como a compra de votos, que cria vagabundos, etc.

Já se argumentou que o Bolsa-Família não foi criação do PT (confirmada pelo próprio site do PSDB), que não gera dependência (afirmação do diretor do Banco Mundial) e que tem gente que abre mão quando se alcança a meta da independência. Aliás do 1° link, que leva à proposta do Aécio de transformar a Bolsa-Família em política de Estado, eu não gostei muito da reação do governo que adiou a votação pois transparece que as disputas eleitorais estão em jogo.

Mas... eu não estou aqui para defender o Bolsa-Família! Na minha avaliação o Bolsa-Família está sendo prejudicado por causa de todos esses boatos que querem derrotar o PT (por mais que exista desde o PSDB). Dizem que a Pax Romana ruiu pois o clima ficou muito ruim, com intrigas de poder. Por mais que o Bolsa-Família seja diferente do "Pão e Circo" dos romanos (convenhamos que é minimamente mais seletivo e mais produtivo do que apenas entreter a massa de pobres), não vejo com bons olhos todos esses boatos de que se cria vagabundos, etc. Infelizmente os pobres são sofredores e os boatos afetam eles, e muitos acabam achando que "não é o lugar", e esse sentimento de inferioridade acaba produzindo baixa-estima em alguns e estes acabam abrindo mão de oportunidades (Enfim, é diferente da imagem que se propaga como se os pobres fossem abusados que aproveitam coisas como a política de cotas e cuspissem na cara de quem ficou fora).

Mas a solução que proponho não é a extinção de benefícios. Acho que a solução é estender esses benefício a todos, uma ideia que inclusive já está aprovado (por unanimidade!) no Senado. Trata-se de um sonho antigo do senador Suplicy, mas que não seria aplicado de imediato, e devia haver um período de transição, sendo um dos instrumentos de transição a eliminação primeiro da miséria. Suplicy tenta convencer a Dilma da importância desse projeto, que é bem fundamentada teoricamente (ver Wikipedia).


Está havendo tanta polêmica quanto ao Bolsa-Família que penso se não seria melhor já partir para a próxima etapa, a do Renda Básica. Ao invés de cortar um benefício, estender a todos.

Tenho um ponto de vista teórico um pouco diferente do link acima que leva à Wikipedia. Adam Smith (pai do capitalismo) dizia que existe o valor de uso e o valor de troca. Diamantes podem ser pequenos mas ter um enorme valor de troca, e o ar, indispensável aos seres vivos, não ter valor de troca, apesar de ter valor de uso gigantesco.

Penso que o capitalismo tem destruído muitos recursos naturais, e talvez no futuro até o ar seja mercadoria. Ou seja, altera até o exemplo de Adam Smith. E se ao invés de caminharmos para esse futuro sombrio (guerra por água já é mais ou menos prevista), que tal tentar o caminho inverso? Fazer de uma pequena quantidade de dinheiro algo básico e vital como o ar?

Quem já passou pela pobreza, ou por condição de imigrante, ou alguma outra condição precária, sabe que o abiente influencia muito as pessoas. No filme Pregnancy Project é mostrado que quando todos começam a cochichar que grávidas na adolescência tem poucas perspectivas de futuro, as próprias grávidas começam a acreditar que não tem muito futuro. Estou preocupado que essa campanha da mídia está promovendo leva os mais pobres (justamente os mais fragilizados) a acreditarem que por receberem Bolsa-Família, por disputarem cotas, etc eles são incapazes, ou até mesmo bandidos. Infelizmente palavras podem influenciar as pessoas. Tem também casos de meninas que foram estupradas e de tanto ouvirem comentários de que talvez elas fossem culpadas pelo estupro, acabaram mudando a vida delas para se adequarem ao que as pessoas pensavam delas, até pela desorientação e crise de identidade.

É curioso que isso lembra as profecias que se auto-realizam. Os capitalistas dizem que isso pode acontecer no sistema financeiro, e por isso não se deve espalhar más notícias à toa: se acionistas ou empregados acreditam no boato de que a empresa não tem muito futuro, a falta de motivação acaba tornando isso realidade.

O socialismo (ou melhor, transição) que defendo 

 

Às vezes, o melhor quando surge uma dificuldade não é retroceder, mas acelerar os passos para ir para frente.

Se há ameaças para o Bolsa-Família, talvez seja melhor ir para a próxima etapa, que é a Renda Básica. Claro, não implementar assim, simplesmente em resposta à campanha negativa da mídia, melhor estudar melhor a experiência do Alasca, por exemplo.

Vi que não sou só eu que penso assim, vide Alasca, pré-sal e Renda Mínima.

Dizem que "comunistas" querem maior intervenção estatal até virar um Estado stalinista. (Não sei por que acreditam que admiradores de Rosa Luxemburgo, Trotsky, Rosdolsky, etc admirariam Stalin se esses autores foram perseguidos pelo stalinismo). Mas é de se lembrar que Comunismo deveria ser entendido como uma etapa além do Socialismo, em que o Estado será extinto.

Acho que a esquerda mesmo esquece por vezes disso, de como o caminho é desafiador, é necessário ser criatividade.

E quanto ao racionamento de água... 

 

O Estado de São Paulo está passando por dificuldades na captação de água, dizem que racionamento é eminente. É um problema que não se pode ignorar (embora, haja gente desse governo que tente ignorar o problema da contaminação do solo da USP Leste dizendo ser intriga da oposição). Um tempo se dizia que quem reduzisse o consumo ganharia descontos, mas ao invés disso pode haver multa para quem consumir mais.

Aliás acho que se o governador fosse do PT e não do PSDB, comparariam esse racionamento ao racionamento soviético... de qualquer forma temos um problema que envolve o Estado, consumo coletivo e individual da água. Ainda bem que não compararam a URSS, pois isso só afastaria da solução, pois não é simplesmente dizendo que é coisa da oposição (como acima, quanto à USP) que o problema se resolve. Tampouco adianta dizer que isso de economizar água é um papo muito ambientalista e comunista.

Estado não deveria ser encarado como quem toma decisões que só enchem o saco da iniciativa privada.

Se houvesse incentivos para quem implementasse melhorias nas residências para reduzir o consumo, por exemplo com desconto nos produtos necessários para tal seria um meio mais eficiente do que pedir para reduzir o consumo temporariamente. Seria melhor do que os cidadãos culparem uns aos outros pelos consumo e ficarem esperando que seu ideal de vida não seja alterado (como se ser anti-comunista, fosse um passo para um dia alcançar aquele estilo de vida em que se é rico o suficiente para não ter de prestar contas a ninguém).

Refletindo agora, os melhores debatedores tanto do capitalismo quanto do socialismo/comunismo são aqueles que enxergam as peças como um todo ao invés de só defenderem o pedaço da propriedade privada, o pedaço dos direitos que o Estado garante, o pedaço do indivíduo, o pedaço do coletivo, etc.

O Comunismo encarado como etapa posterior do Socialismo significa que após a desigualdade diminuir, após empoderar as pessoas, elas vão viver com suas próprias pernas pois a meta é extinguir o Estado. E se é para no final favorecer o indivíduo de qualquer forma, pelo bem do coletivo, temos de ser criativos e enxergar além do individualismo (tanto do rico que se acha exclusivo, quanto do pobre que agora está melhor mas almeja o consumismo), além de defender o coletivo chamado Mercado ou o coletivo chamado Estado. Tanto o Mercado quanto o Estado podem acabar causando a massificação e coisificação de pessoas (o outro ser humano é uma coisa, um dócil serviçal ou  um ameaçador concorrente). Enxergar o Bolsa-Família como algo que todos poderiam ganhar ou enxergar o problema da água como soma do consumo de indivíduos são pequenos exemplos que deixo para dizer que a meta de qualquer forma é o ser humano.

Brasil (contraditoriamente) se abrindo ao mundo

O movimento é muito confuso, principalmente para quem adota o ponto de vista da esquerda radical (bem, já comentamos isso no post anterior).

Eu estava lendo o texto "Ascenção da classe C à Bolsa de Valores."(tente acessar esse link, se não conseguir procure por Convibra - Congresso Virtual Brasileiro de Administração, o texto da autoria de  Jeany Jesus dos Santos).

Acontece que o texto acima é muito otimista dom o Brasil na questão por exemplo do PIB, e por isso mesmo seria taxado de pró-governo e consequentemente pró-comunista. Ora essa, não tem o menor sentido pois como o próprio texto diz, esses investimentos da classe C na Bolsa significam aumento de propriedade privada, e não me refiro apenas ao aumento de riquezas que as pessoas da classe C possuem, mas ao aumento de investimentos que é direcionada aos investimentos privados da Bolsa.

Mas, na outra ponta, tava assistindo o documentário Inside Job no Vimeo (que fala da crise econômica mundial de 2008) e lá encontrei o seguinte comentário (que aqui tentei traduzir).

"Esse é um olhar bastante Asa Esquerda (Left Winged) quase comunista do que as regulações devem fazer num mercado livre. Eu achei hilário como esse filme brada contra os bancos. Verifiquei que PESSOAS/CONSUMIDORES é eu pegaram dinheiro emprestado concordando com termos e obrigações que eles concordaram em pagar! Em que lugar do mundo (expressão "How on earth" pode ter conotação "em que diachos de mundo") consumidores pegam empréstimos que não podem pagar? Bancos são negócios e quando oficiais eleitos (eleitos pelas pessoas, não pelos bancos, se você não sabe) passam leis que deixam bancos emprestarem dinheiro mais facilmente, por que no mundo (novamente "why on earth") os bancos mesmos deveriam se regular? A incompetência e irresponsabilidade dos pegadores de empréstimos é que deveria ser denunciada, gente. Espero que todos percebam isso. Bancos não têm culpa aqui. Eles só jogaram como foi permitido. A desregulação dos consumidores e congressistas (feitos na maior parte por Dodd Frank e a adminsitração Clinton) têm muito mais senão toda a culpa. Esse filme é um pedaço da propaganda da asa esquerda."

Assim, Inside job seria um filme esquerdista e quase comunista! Acho incrível opiniões como essas!

A pessoa desse comentário não deve ter assistido o filme direito, pois apesar do comentarista colocar como se os bancos não tivessem culpa e só tivessem feito o permitido (e ele acha um absurdo cobrar dos próprios bancos auto-regulação, como se bancos cachorros descontrolados que se mordem alguém é culpa da focinheira que falhou), o filme mostra que muitos dos políticos que aprovaram essas leis tinham estreitas ligações com banqueiros, e eram até mesmo ex-banqueiros.

E os empréstimos faziam parte dos produtos que os bancos vendiam aos clientes, e esses bancos apesar de dizerem que esses investimentos eram seguros, eles mesmos faziam aplicações de maneira que se não desse certo, eles ganhavam dinheiro. Cenas do filme mostra uma espécie de CPI indagando como eles passaram esses produtos aos clientes se eles mesmos entre eles chamavam de "crap" (porcaria). Para tornar as coisas piores, entre os clientes estavam fundos de aposentadoria, que por estarem mexendo com o futuro de trabalhadores não podem fazer aplicações arriscadas, mas como as avaliadoras davam nota "triplo A", o dinheiro foi aplicado e depois perdido. Pior que nessa "CPI" essas empresas de avaliação aparecem dizendo que eram apenas "opiniões" e não poderiam ser responsabilizadas por fracassos!

Isso de culpar as "PESSOAS/CONSUMIDORAS" pela crise, baseando-se de uma ideia moralista de que quem pegou emprestado deve devolver é muito perigosa, como escreveu um Nobel de Economia.

E porque essa ideia moralista é anti-esquerdista? Entre os que pegaram empréstimos não havia ricos? Sim, mas a crítica moralista parece se referir a classe baixa/média que pegou empréstimos.

Bom lembrar que empréstimos podem aparecer em forma de empréstimos mesmo, por exemplo ajuda para comprar eletrodomésticos, ou em forma de pacotes de investimentos dos bancos. Nessa segunda forma você investe esperando rentabilidade, e pacotes com derivativos incluíam apostar se o banco ia ter lucro com cartões de crédito, etc. Repare que então os pacotes com siglas complicadas como CDOs incluíam apostar se pessoas usariam corretamente cartões de créditos, se a loja de eletrodomésticos teria lucro, que por sua vez se relaciona com apostar se conseguiu linha de crédito dado pela loja de eletrodomésticos vai mesmo pagar todas as prestações para ficar com o eletrodoméstico.

O que quero dizer com a observação acima é que a direita fala como se a culpa fosse daqueles "pé-rapados que vão para Casas Bahia", mas na verdade incluem também uma classe média  até que razoavelmente sofisticada (média-alta), daqueles que comentam uns com outros que fez novos investimentos no banco. E não é culpa dessas pessoas, os bancos fazem pacotes de derivativos difíceis das pessoas entenderem. Derivativos em si são difíceis de entender, veja 2 ou 3 primeiros minutos do vídeo abaixo:


Bem, duvido um bocado que alguém da classe média-alta esteja lendo esse blog, mas pelo jeito é isso mesmo: a desigualdade de renda é tão grande que quem tem perfil arrojado e investe em bolsa também faz parte do mesmo balaio dos clientes tipo "Casas Bahia". Eu mesmo fiquei chocado outro dia ao descobrir que no ramo de tecnologia empresa com faturamento de 2 milhões é considerada pequena ou média. (sim, eu e você somos pobres...)

Voltando ao texto lá do alto, quanto à ascenção da classe C, o que vemos que muito longe de algo comunista, a entrada dos mais de baixo na Bolsa de Valores é muito capitalista. Certa vez vi uma edição muito antiga de Reader´s Digest (tipo, de 50 ou 60 anos atrás) que comentava que o capitalismo estava entrando num país novo. Não lembro qual era o país, era algum lugar tropical. Se dizia que as pessoas daquele lugar eram muito pacíficas e que antes estavam apenas interessadas em viver a vida delas. Mas que elas estavam se interessando em deixarem de serem preguiçosas e conseguir mais coisas do que aquele meio de vida proporcionava. Esse é o espírito do capitalismo: incutir nas pessoas a ganância e necessidades cada vez maiores.

Seria fazer um resumo curto demais, mas a crise de 2008 tem a ver com convencer as pessoas que eram donas de suas casas e colocar as casas como investimento. Disseram a elas que seria vantajoso para todos: elas poderiam continuar a morar nas casas, e elas não perderiam-nas pois o investimento seria seguro. Ao mesmo tempo, o banco lucraria com o volume maior de investimentos e daria uma parte do resultado aos moradores das casas. Quando veio a crise, pessoas tiveram de sair das casas que foram construídas por seus avós.

Os filmes Inside Job de Ferguson e Capitalismo - uma história de amor de Moore mostram como as pessoas foram enganadas pelo sistema financeiro.

Quanto ao Brasil, há risco de bolha imobiliária, como aconteceu nos EUA? Parece que o debate vai no sentido de que não há, ou, que se havia, está murchando (juro que tentei juntar um sim e um não). Eu pessoalmente estou preocupado pois tem apartamentos mais caros que castelos europeus e não só Casas Bahia, mas diversos serviços estão abrindo linhas de crédito (para aposentados, para Minha Casa Minha vida, etc) e levando a economia a depender de pessoas endividadas. 

Pensando bem, tudo isso é bem paradoxal: a direita diz no comentário do Vimeo que a culpa da crise foi dos pobres Provavelmente a pessoa não gosta do Obama e acha que ObamaCare é comunista, embora EUA não possuam nem licença-maternidade. Aliás lembram do incidente de tiros perto da Casa Branca naqueles meses de tensão se ia rolar a dívida americana em 2013? Atiraram numa mulher que estava desempregada pois perdeu o emprego após se descobrir grávida, leia esse artigo do Fem Materna.

Resumindo, estou estupefado como vêem comunismo em todas essas coisas capitalistas. Se os mais pobres estão melhorando de vida com Dilma, Obama, não percebem que isso ao invés de afastar do imaginário dos valores ociedentais-europeus, está mais é aproximando do sistema de seguridade dos europeus? (Mas com a crise na Europa, eles estão perdendo aqueles direitos, e assim do lado de cá, quando a vida melhora, se reclama que são tentativas de cubanizar o Brasil e que apesar dos impostos altos, não vivemos como na Europa. Só que é uma Europa imaginária que não passa pela crise...)

(mas talvez eu não devesse parar de ligar para essas críticas. Já escrevi anteriormente como "comunismo" é histeria da mídia. Mas há exemplos ainda mais bizarros, como o Homem-Aranha negro ser acusado de ter cara do Obama e ameaçar os valores americanos!)

Quanto à isso de reclamarem da Classe C, ver também "Elite do país se acha 'made in USA'" e "Ricos perdem exclusividade e relcamam de classe emergente".

sábado, 5 de abril de 2014

sobre PT e avidez pelo poder. E "comunismo" é modismo da mídia

Dizem que o PT é "comunista" e por isso é ávido por poder. Esse argumento é usado para dizer inclusive que é melhor que a ditadura volte para tirar o PT da cena, e quando o terreno estiver limpo. (que perigo esse pensamento!)

No post anterior pincelamos que o efeito pode ser o oposto (já que mesmo defensores de tal ideia admitem que a ditadura de 64 durou muito mais do que o prometido), dessa vez vamos comentar sobre a avidez do poder por parte do PT.

Alguns dados


- no período final da ditadura, movimentos populares queriam a volta da democracia. Vem então o Colégio Eleitoral (aquele que elegeu Tancredo mas quem assumiu foi Sarney). MDB aceita, mas o PT não. Se havia pressão popular que estava conseguindo derrubar a ditadura, porque não usaram a "avidez pelo poder" para já subirem embalados pelo povo?

- OK, mas de qualquer forma, tivemos Sarney, e Colloristas dizendo que eleição era uma conquista, coisa de 1°mundo, e que o povo devia aproveitar para eleger um bonitão (dizem que uma das propagandas de Collor parecia até comercial de shampú!). Durante a campanha eleitoral, Collor disse que Lula tinha uma filha ilegítima, mas então petistas descobriram que Collor estava envolvido num caso de estupro. Dizem que imploraram para Lula usar essa informação como resposta para Collor, mas Lula não quis usar para não baixar o nível.

- Collor se revelou super corrupto (com nível de corrupção que chegava a assassinatos, vide PC Farias, o que é bem diferente de dizer que PT também mata pessoas por fome, ou ainda, a delirante versão de que pessoas estão sendo assassinadas pelos médicos cubanos). no episódio do impeachment, os que iam saindo da base de apoio do Collor, juntamente com a mídia, diziam que a saída deve se dar dentro das normas da institucionalidade, inclusive ao invés de chamar novas eleições, deveriam apenas deixar que o vice, Itamar, assumisse. PT aceitou. 

Isso hoje em dia soa estranho (para não dizer impensável) quando se diz que se um projeto de governo não dá certo deve haver uma ruptura radical como o golpe militar, nem novas eleições e muito menos vice assumir! O vice seria xingado no mínimo de gente da mesma quadrilha!

-  Finalmente o PT subiu à presidência a meu ver, isso de "governo de todos" foi uma "marca" ou  "slogan" mais fruto da mídia que do próprio PT (desculpem o pessoal de marketing que bolou "Brasil - Pais de Todos"). A meu ver, o empresariado se sentiu acuado e por isso disseminou essa ideia de que deve ser uma união de forças e não de luta de classes. Atualmente dizem que PT obviamente significava "comunismo" (ah, e anos atrás eram um pouco mais amenos e falavam em "república sindical"). É bem curioso: a mídia dizendo que  o PT é comunista cresce na mesma proporção que o PT vai deixando para trás a imagem alimentada pelos velhos militantes mais "comunistas"...

Atualmente é incrível relembrar como em 2003 o PSTU pedia para o MST romper com o governo pois a composição do CDES era 50% para cada lado (trabalhadores e empresários) (!!!!).

Quando havia metade para cada lado, os "velhos comunistas" ("velhos" para a mídia, é claro) reclamavam que era muito alto a porcentagem de empresários, e a medida que o governo foi deixando cada vez mais de ser considerado de esquerda pelos esquerdistas, curiosamente, foi "subindo" de patamar: passou a ser "república sindical" quando sindicalistas iam saindo de espaços (como CDES), e passou a ser domínio de comunistas quando ninguém sério consegue ver traços de comunismo no PT(nem a FIESP!)

- Mas o governo ia seguindo, apesar de que vira-e-mexe surgiam "crises institucionais" com o STF, mesmo quando elas não tinham fundamento. Mas enfim, crise institucional significa que as instituições estão brigando, certo? E se estão brigando cada um tem poder para brigar, não? É muito estranho que após o STF condenar mensaleiros, agora, só porque João Paulo Cunha foi absolvido, estão dizendo que todo o governo é dominado pelo PT e que eles está tudo dominado desde que o Lula assumiu!

- As coisas continuam sendo votadas (e não decretadas como numa ditadura) e inclusive em casos como a PEC 37 ("PEC da Impunidade"), em que as pessoas tinham certeza que o PT era a favor da PEC por "ser o partido mais corrupto", não só a proposta de "impunidade" foi rejeitada, como curiosamente, os petistas não votaram a favor da "impunidade", os favoráveis eram de partidos da oposição, muitos do PSDB!

- Isso de dizer que já vivemos numa ditadura nos moldes cubanos e venezuelanos, não faz sentido porque o PT acumula uma história, que como vimos, não é de ficar dominando.

Dizer que ditadura por ditadura tanto faz, para começar a Venezuela não vive numa ditadura. O que aconteceu lá são coisas do tipo o Chávez ter mudado a constituição logo após chegar ao poder. Analistas internacionais chamaram isso de democratismo ou abuso da democracia: aproveitar a popularidade para fazer mudar as regras do jogo (contudo, mesmo mudando a cosntituição, não é que aboliu-se a oposição, etc). Só que outros, ao invés de "democratismo" resolveram usar um termo que pegasse mais na língua da oposição: "ditadura". Faz sentido? Bem, os militares brasileiros aproveitaram a popularidade das Marchas da Família com Deus para tomarem o poder. E mudaram muito mais regras que Chavéz. O problema é que não dá para chamar eles de usarem "democratismo" pois simplesmente não chegaram lá por voto!

País "Comunista" é a última moda da mídia (já fomos República Sindical, Grampolândia, etc)

País comunista, como assim? Segundo o que diz a mídia atual, comunista é um ser perigoso, e as pessoas tem de ficar atentas, ao menor sinal, é melhor suspeitar, isolar. Por exemplo, se for ambientalista demais, suspeite! Ensina Reinaldo de Azevedo. Contudo, se é necessário suspeitar ao menor sinal, como se explica que na posse de Lula em 2003 a mídia não alertou desse perigo? Como se explica que é no décimo ou décimo-primeiro ano do PT que alertam para o perigo comunista, sendo que antes disso o perigo era de vivermos na República Sindical, ou ainda Grampolândia?

Mas quer saber? Isso quer dizer que isso de "comunismo" é apenas a última moda histérica da mídia. As pessoas não deviam levar isso a sério, inclusive pois é uma das apelações mais perigosas, por alguns motivos:

- já tô vendo gente por aí dizendo que não se deve confiar na mídia, ou seja, a mídia está alimentando algo que pode fugir de controle e aí nem ela conseguirá reverter a moda que ela mesma disseminou.

- Antes direcionava-se a solução para PSDB, mas agora dizem que a solução é Golpe Militar, é bizarríssimo ver gente democrata dizer que apesar de ser democrata prefere militares a Dilma! Não faz sentido!

- Estão atacando a "esquerda caviar" (há patrulha ideológica, vide em cima da Letícia Spiller - que bizarro) é engraçado que esse ressentimento contra quem (aparentemente) está melhor de vida (pois come caviar) é escolhida como uma tática que dá certo, pois houve episódios da história em que isso foi usado. Como a clássica guerra de classes ou o fascismo, que botava culpa nos judeus (pois judeus seriam ricos, mesquinhos que sobram juros, etc). Quando essa tendência contra "esquerda caviar" fugir de controle, evidentemente ao invés de luta de classes, vai seguir uma tendência fascista (militarista já é...). E assim como o fascismo vitimava judeus, mesmo os judeus não-ricos, vai vitimar esquerda mesmo aquela sem caviar. Gente achando que pode-se passar a mão em mulheres de esquerda já tem (caso real que aconteceu na UFF) (veja também o incentivador desses atos, o caso do blog que defende "estupro corretivo"!!!) .

Citando Reinaldo de Azevedo (quem diria que um dia faria isso!), o perigo é de se perder uma cultura rica por causa dessa raiva. Azevedo lamenta a rica cultura da Rússia czarista que se perdeu, da mesma forma, essa histeria anti-comunista tá incentivando a raiva de quem não é caviar contra os caviares. Gente dizendo que ramos inteiros do conhecimento são ínúteis, como a área de humanas, vi outro dia uma pessoa dizendo que não acredita em psicologia, pois não é ciência. Tava na cara que era comentário de gente que não teve poder aquisitivo para cursar ensino superior (pois gente que estuda engenharia etc não daria um comentário crasso desses). Era um comentário que ia na mesma linha daqueles que perguntam porque universidade não pode cortar cursos para só ter 2 ou 3 cursos "úteis" (sem entender que 2 ou 3 cursos no máximo forma uma faculdade integrada mas nunca uma universidade). Enfim, uma raiva irracional está sendo disseminada.

Aliás da Grampolândia...

Isso daí era da época em que o empresário Daniel Dantas estava sendo investigado, e francamente, Dantas pagava jornalistas para conseguir apoio (só para variar, ao invés de texto veja essa série de quadrinhos). Isso explica a porque a moda de 5 anos atrás era discutir a "Grampolândia".

Brasil era um país ruim pois pessoas poderiam estar grampeadas. A moda agora é dizer que grampos não são problema se são os militares fazendo escutas para caçar comunistas. Daí Grampos tudo bem, assim como todos os outros métodos truculentos e de violação da privacidade (puxa vida, e pensar que na época da moda "Grampolândia", se achava absurdo simplesmente algemar alguém!)

Essa contradição é mais uma prova que todos esses rótulos são modismo.

E veja só... VEJA em 2003 (preocupado com a segurança pessoal do presidente!!!)

 (repare na legenda acima a preocupação com Lula)

A grosso modo a mídia em 2003 propagandeou que PT deveria ser um governo para todos (Veja, Estadão e Folha davam dicas ao governo dizendo para não ouvir a ala radical do PT), depois houve várias fases, República Sindical, Governo Lulla (2 Ls, assim como "Collor"), Grampolândia, etc até chegar na atual era Comunista.

Pesquisando, encontrei algo tão histórico quanto PSTU reclamando da composição 50% para cada lado que botei acima, o texto da Veja quando Lula tomou posse!

Trechos:

"A primeira semana de janeiro de 2003 já está inscrita na história brasileira. É histórica a chegada ao poder do ex-operário que, durante o discurso de posse, resumiu em poucas palavras sua extraordinária biografia de retirante nordestino a presidente da República. É histórica a gigantesca e vibrante manifestação popular que saudou, cantou, gritou e chorou na cerimônia de posse de Lula em Brasília. Antes, já era histórica a votação de Lula, eleito com quase 53 milhões de votos, ou 62% dos votos úteis, a mais significativa votação da era democrática brasileira e também uma das mais expressivas do mundo."

"O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, num discurso banhado por elogios ao antecessor, Pedro Malan, aproveitou para dizer a que veio sem usar meias palavras. Anunciou que vai propor a autonomia operacional do Banco Central, medida perseguida e saudada pelo mercado, mas que causa engulhos a uma boa fatia da militância petista."

Veja dando dicas para não ouvir a ala radical do PT, dizendo que o caminho bom era PT seguir o caminho que o PSDB já traçou.

Mais à frente, Zé Dirceu seria elogiado por proferir um discurso esquerdista estratégico para controlar a ala esquerda radical.

"(...) José Dirceu, novo ministro-chefe da Casa Civil. Lembrou a ascensão da esquerda ao poder, homenageou antigos companheiros, apresentou-se como representante da geração de 1968, não esqueceu os tombados na luta contra a ditadura militar e prometeu uma "verdadeira revolução social", pois, disse ele, "para que o Brasil ocupe seu lugar no mundo é preciso que nosso povo ocupe seu lugar no Brasil". Sua mensagem não significa uma repentina inflexão à esquerda. Dirceu fez um discurso para a platéia, mas tornou-se conhecido no PT como o dirigente que enquadrou as alas radicais do partido e trouxe a bandeira vermelha para uma posição de centro-esquerda para ganhar eleições, e não perdê-las."

Veja recomenda que Lula, com Berzoini e outros aproveitem a popularidade para implementar medidas necessárias mas impopulares, claro, para agradar o mercado, com reforma da previdência, reforma tributária, etc. Chávez aproveitou a popularidade da posse para mudar a Constituição. Veja acha que a nossa Constituição atrapalha por garantir direitos sociais demais, se fosse para mudar para agradar o mercado, provavelmente Veja apoiaria com louvor, da mesma forma que ela tentou popularizar um vídeo do ACM chamando militares.


(acima, a campanha "Veja- o Brasil que queremos" é de 2008, e o vídeo do ACM é de 2006, numa matéria que analiso melhor neste post recentemente atualizado)

O texto termina assim:

"(...) Lula deveria forçar-se um pouco a evitar o excesso de contato físico com desconhecidos. Se não por discrição, que seja pelo menos no interesse do país."

Ao mesmo tempo que Veja se preocupa com a segurança do presidente, era também um recado altamente simbólico, para que o Lula se afastasse dos anseios do povo.

ditadura defendida pelo centro: notas sobre enganos e enganações

Esse é um assunto que dá muito pano para manga, até tava rascunhando um texto com citações e tal, mas vi que ia ficar muito comprido, então vou colocar os pontos principais.


Bom, tem gente que quando vê uma discussão faz ponderações (com a pose de ponderados), e o que se vê é que alguns dizem que em alguns casos ditadura é melhor que o estado em que vivemos. (como se fossem pessoas que entram numa discussão carro x bicicleta, e dizem de "em alguns casos carro é necessário apesar de bicicleta ser importante ecologicamente").

Mas isso de "ditadura em alguns casos ser boa/necessária" não faz sentido, e até mesmo quem diz "o problema de 64 é que a ditadura deveria durar só uns anos para limpar o terreno, o problema é que se corromperam e quiseram ficar mais no poder" sabe que o risco é muito grande! (E isso porque estamos resumindo muito o risco, é toda uma estrutura e vai muito além de alguns quererem permanencer pela ganância de poder.)

Se formos nas motivações que originam essas falas, muitas versam sobre o suposto descontrole petista e ameaça comunista. Várias delas podem ser desmontadas, como o suposto interesse comunista no porto de Cuba ("artigo Fiesp e o capitalismo em Cuba").

Outros equívocos:
- acusam o "pessoal de direitos humanos", mas ao associar isso a comunismo, acabam levando a conclusões totalmente equivocadas e fantasiosas, como a de que o próximo passo fosse torturar os cidadãos de bem (até parece que quem é contra tortura de bandidos iria torturar pessoas que não são bandidas!), ou que esse pessoal na verdade não fosse de direitos humanos e sim comunistas que estariam querendo confundir as pessoas, para futuramente atacá-las!

Ora essa, as pessoas podem ser a favor de direitos humanos, contra os maus-tratos nas prisões, mas elas não estão querendo defender a impunidade dos bandidos, e muito menos ajudar os bandidos a atacar pessoas, e é delírio total achar que futuramente se quer atacar as pessoas sem a ajuda de bandidos!

- Outro equívoco é que as baixarias da TV fariam parte dessa permissividade. Aí eu vejo que a confusão chegou a níveis trágicos... ou tragicômicos:

Se repararem bem, as baixarias são mostradas em programas abertos e não por ditatoriais programas estatais. E mais, que no horário do telejornal, os engravatados falam como se vivêssemos num país com esculhambação, e um par de horas mais tarde, são os humoristas que reclamam do politicamente correto do "pessoal dos direitos humanos"!

Daí que o resultado é que opositores são taxados de censores ao mesmo tempo de permissivos, é muito contraditório! Denúncias de ataque a gays, mulheres, negros, etc são vistos como tentativas de censura, ao mesmo tempo que as pessoas reclamam de músicas e shows altamente machistas e apelativas, como parte da tentativa comunista de desestabilizar a família!

Eu teria um monte de exemplos para ilustrar o que escrevi no par de parágrados acima, mas fiquei tão desanimado que só vou comentar que tem gente "anti-comunista" que não vê problema no Gentilli fazendo piada que evidentemente destróí valores da família (pense na família dessa mulher, pense nos bebês que não contam com o leite dela!), mas o problema são mulheres amamentando em público e não a alta erotização da Tv pois isso é alegria do povo e alegria do povo é o que comunista não quer!

Só que se a ditadura voltar como tão pedindo, vão censurar essas apelações, os humoristas, etc e parte das pessoas vai tentar se resignar dizendo que é melhor assim pois estarão voltando aos valores do passado.

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Acima foram exemplos básicos de enganos, agora vamos às enganações.

O Partido Militar reindivica o número 99 para mostrar que eles são o mais à direita, mas outros defendem a direita sendo do centro, nem que conciliem discurso inflado com posição estratégica do centro.

Como assim? Veja esse bizarro abaixo-assinado pedindo Bolsonaro como presidencíavel! Não sei porque precisam de abaixo-assinado se quem tá pedindo e o alvo são do mesmo lado, direita (petição de opositores pedindo para tal pessoa sair do cargo fazem muito mais sentido, é um lado contra o outro). Não sei porque usam abaixo-assinado que é um instrumento democrático e de pressão popular (como outro dia questionaram: "esse pessoal que defende a ditadura pode-se valer de instrumentos democráticos para pedir o fim da democracia?"). Mas acima de tudo, estranho mesmo é que é um abaixo-assinado pedindo para combater o PT sendo enviado ao PP que está na base aliada do PT!



É isso que me chamo de enganação, já repararam que todo esse papo de volta da ditadura ocorre em ano eleitoral? Pois é, talvez seja uma tática dos centro só para fortalecer uma tendência política dentro do congresso para assim fortalecer a oposição. Uma tática da mídia (com seus colunistas direitosos) para desestabilizar os apoios eleitorais.

O risco disso é de fortalecer uma tendência extrema-direita paranóica, já vejo por aí nos comentários da internet gente que apesar de ter aprendido o anti-petismo com a mídia, estão dizendo que a mídia é cúmplice "comunista" a qualquer notícia que soe levemente boa para o governo. Enfim, o risco é de formar monstros que fogem do controle de seus próprios criadores.

O pior é que essa tendência (com suas similaridades e diferenças) existe nos EUA e Europa, e eles estão à beira da crise econômica que pode se espalhar mundialmente. Na virada de 2013-2014 os conversadores que chamam Obama de "comunista" quase impediram a rolagem da dívida americana, e nos dias do impasse o serviço público daquele país chegou a ser paralisado. E atualmente na Europa, a ideia moralista (mas desamparada pela economia) de que cada um deve arcar com as consequências de suas dívidas ameaça o euro (vide artigo escrito por Nobel de Economia).

Tem gente que reclama que Brasil está numa desgraça completa, e que teria havido milagre econômico durante a ditadura. Contudo, se os conservadores dos EUA e Europa vencerem, vai haver uma crise tão grande que as pessoas forçasamente vão se relembrar do Lula falando que Brasil pegou só uma "marolinha" durante a crise econômica mundial de 2008.