obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

video da Lais Bellini

Lais Bellini. Video upado pelo Fora do Eixo TV em 25/11/11. Talvez sirva apenas curiosidade para se conhecer o rosto e a voz dessa ex-panticipante do FdE cujo relato ficou famoso. Mas... não sei se é o jeito dela mesmo, mas a maneira dela desviar o olhar parece indicar uma insegurança no que fala.

OBS: o relato dela e da Beatriz chegaram a aparecer na Veja, dentro da coluna do Reinaldo Azevedo, vide http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/fora-do-eixo-a-seita-totalitaria-2-ex-interna-relata-o-dia-a-dia-da-casa-dos-horrores-em-que-pablo-capile-e-rei-e-profeta-amizades-monitoradas-vida-afetiva-e-sexual-patrulhada-tecnica-de/
e http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/fora-do-eixo-a-seita-totalitaria-1-mais-uma-vitima-torna-publico-o-seu-depoimento-ou-a-diferenca-de-capile-digo-nao-me-sigam/
 Reinaldo fez uma série de artigos sobre o Fora do Eixo.

A Veja ataca outros veículos, principalmente se vem do campo popular ou da esquerda. Desse onto de vista, não é novidade ela querer atacar a Mídia Ninja.

Acho que a tática da Veja é de condenar toda forma de militância, não só na área política mas mesmo a da área cultural, em todas as áreas na verdade. Uma vez numa matéria sobre super-heróis a Veja aproveitou para condenar a "militância" dos fãs fanáticos, dizendo coisas como "pare de levar filmes e gibis a sério, cresça, arrume uma namorada e arranje algo útil para fazer" A equipe do Universo HQ respondeu http://universohq.blogspot.com.br/2006/07/cultura-nerd-edio-desta-semana-da_10.html

Aliás como a Veja entrou na discussão, tem gente que ficou meio dividido e na dúvida (Pois em muitas coisas, se a Veja tá criticando, as pessoas esclarecidas devem fazer o contrário e apoiar), e como se não bastasse, a UJS (União da Juventude Socialista, juventude do PcdoB que está na direção da UNE) resolveu apoiar o Fora do Eixo (argumentando que a mídia tá atacando o FdE e por isso devem ser apoiados) e até escreveu "Somos todos Fora do Eixo". Aí as pessoas (principalmente militantes do meio estudantil) também pensou coisas como "se a UJS tá apoiando, coisa boa não deve ser"! É possível ver essa dúvida de apoiar ou não por exemplo no texto da Adital.

Mas voltando à Veja, para mim eles simplesmente condenam qualquer forma de militância e isso é o principal. Se tem gente escrevendo a respeito, mesmo sem remuneração (como é o presente caso), isso também a Veja seria contra (talvez ela nos chame de "praga de militantes blogueiros querendo saber a verdade, arrenjem algo útil a fazer"!).

(Quando 2 blogueiras começaram a travar uma discussão, contra e favor do FdE, ressaltando que deveriam se posicionar a favor/contra sem cair na armadilha de ter como exemplo a Veja ser contra o FdE, bem, nessa hora achei a situação meio irônica pois provavelmente as 2 seriam condenadas pela Veja de qualquer forma!)

 Para descontrair, tem um vídeo muito engraçado de um cachorro com essa dúvida:


uma resposta ao "Lulismo Fora do Eixo"

(Na lista de emails foi postado o "Lulismo fora do eixo" - http://www.advivo.com.br/node/1465495  de Arbex. Essa é minha resposta. Escrito e divulgado originalmente no dia 11/8/13).

Para reforçar: "Lulismo fora do eixo" foi escrito 2 anos atrás, na época da Marcha da Liberdade.

Portanto é meio ultrapassada ao criticar o protesto pacifista, ligando (a meu ver, de forma pouco ligada) pacifismo ao "Lulinha paz e amor". A meu ver Arbex chega à errônea conclusão de que FdE é lulista e a juventude "atual" junto com o FdE é casada com as políticas pouco revolucionárias do Lula.

Daí Arbex defende a esquerda tradicional acusando a juventude atual de pacifista. (e defende a esquerda tradicional também como alternativa ao PT.)

E por que é ultrapassada? Porque as marchas atuais além da face pacifista tem a face do "vandalismo".

Se o pacifismo era atribuído ao FdE, o vandalismo é atribuído ao Black Bloc.

Quem escreveu contra o Black Bloc foi PSTU, que disse que o vandalismo é contra-revolucionário por incentivar a repressão policial e também que o vandalismo mostra o quanto o povo é desorganizado. LER-QI, e agora o PCO estão escrevendo contra a posição do PSTU.

PCO diz:
"Um argumento particularmente cretino – uma palavra que Marx usava saborosamente contra a esquerda pequeno-burguesa da sua época – é o de que o suposto vandalismo é obra de pequenas minorias, dando a entender que seria apoiado e legítimo se fosse de uma maioria. Nesse caso, não seria melhor propor a expansão do vandalismo ao invés de condená-lo? (...) se a ação dos 'vândalos' é desorganizada, deve ser organizada.
Se a ação dos 'vândalos' é sem objetividade, deve ser fornecido um objetivo claro a ela.
Se a ação dos 'vândalos' é minoritária é preciso torná-la geral.
E não combatê-la."

(Eu achei a posição do PCO acima bastante ingênua, eles frequentemente escrevem como fosse simplesmente uma questão da ideologia do PCO contaminar mais gente que teríamos a revolução. Aproveitando: detesto o PCO, só citei por estar mais à mão)

Nenhum dos 3 (PSTU, LER-QI, PCO) diz que vai se juntar ao Black Bloc. Os 3 se colocam como esquerda tradicional, os 3 querem ser alternativa ao PT.

(aproveitando também: nada contra a esquerda tradicional, Arbex tá mais para PSOL. Tudo bem, pois entre os partidos citados, só tive problema com PCO. Dos outros tenho amigos inseridos neles. E que bom vê-los pensando em alternativas por dentro dos estudos tradicionais da esquerda, até porque eu também sou marxista!)

Enfim, tanto o pacifismo do FdE quanto o vandalismo do Black Bloc são criticados pensando-se em alternativas ao PT. Por outro lado, é provável que nem o pacifismo nem o vandalismo se sintam representados nem pelo FdE, nem pelo Black Bloc... embora eu não esteja defendendo o apartidarismo, acho que não quer dizer que criticando os aspectos deles os partidos angariarão militantes na mesma proporção.

Na verdade acho que a anarquia (eu não disse anarquismo) das mobilizações vai continuar, embora também seja louvável que paralelamente à isso esteja sendo pensada a expressão partidária e eleitoral disso. Digo "paralelamente" pois pensar em arregimentar toda essa agitação em uma expressão político-partidária é besteira e inviável de antemão (o que tem seu lado bom também de manter a diferença entre partido e povo).

Quanto ao FdE, disse que eles têm de ser entendidos no contexto da arte e seus membros e ex-membros entendidos enquanto artistas. Mas eu, enquanto artista não me juntaria ao FdE. Na verdade quando saiu o artigo "Lulismo Fora do Eixo" na Caros Amigos, o que ouvia os artistas comentarem é que Arbex criticou de forma muito genérica alguns pontos e não criticou onde interessa ser criticado. Por exemplo apontar contradição entre novas mídias e luta de classes é a parte genérica, fora de foco (Arbex diz que é erro pensar que a mobilização nasceu da internet, nasceu da miséria e da velha luta de classes). Ou ligar pós-fordismo, contracultura (incluindo os hippies, como ele frisa) ao petismo é outra coisa no mínimo fora de foco, passível até de ser considerada errônea. Já um ponto que os artistas sentiram falta e seria interessante de ser criticado é a crescente vontade das empresas aglutinarem aspectos da contracultura (e até os de esquerda acham divertidos algumas peças publicitárias e compartilham no facebook elogiando) e os grupos como FdE meio que servirem de assessores ou intermediários entre publicidade, arte e ativismo, daí que tinha aquela proposta do FdE da Marcha da Liberdade ter patrocínio não-escancarado da Coca-cola. (Só para dar uma alfinetada, e todos verem como essa discussão existe e é atual: quantos, mesmo da esquerda tradicional, não usaram a hashtag ‪#‎vempararua‬? E "Vem para rua" vem de que anúncio publicitário mesmo?...)

Eu acho que algumas coisas devem ser incorporadas e não combatidas. Assim como os anarquistas/anti-partidários aceitaram a ajuda dos advogados de partidos quando foram presos nas manifestações, não vejo porque os partidários devem rejeitar a Midia Ninja. Se compartilhar significa compactuar com trabalho escravo? Bem, acho que os que se sentem escravizados não continuam lá e pronto (e nisso que vejo semelhanças com a CAros Amigos). Se Mídia Ninja gosta de estampar o carimbo deles, bem o jeito é aceitar que tem muita gente ávida para informar, indiquem um novo canal onde possam fazê-lo (já que tá rolando campanhas para não compartilhar coisas da Caros Amigos, Anonymous e Midia Ninja, qual a alternativa? Já vou avisando que o povo não vai aceitar o "usem o canal do nosso partido".).

OBS: quanto à canais de mídia, acho válido citar que no facebook, Vivacqua comentou: "... continuo chamando a atenção para o CMI - Centro de Midia Independente, que na virada do milenio foram quem realmente criaram esse campo livre de expressão na comunicação justa. Midia Ninja, não faz mais do que deveria fazer, e que bom que está fazendo direito." E Honorato comentou: "Também me parece importante fazer referência ao CMI, na medida em que tendo história e memória a coisa fica mais forte, mas a comparação tem alimentado muita disputa pelo pioneirismo do "campo livre", o que pra mim entra numa sintonia equivocada. De resto só queria comentar que a "quebra de narrativas" me parece, sim, um dado concreto e recente, do que os Ninjas têm sido protagonistas (e nada disso é uma "decorrência lógica" do CMI). Apenas acho discutível ou contraditório, ainda me atendo à entrevista do Torturra, a sugestão de uma espécie de prerrogativa da realidade, associada ao lugar que os Ninjas têm ocupado."

FdE pode ser visto como um rival, embora eles digam que é estreiteza de visão serem vistos como partidos, acho que podem ser encarados como partido rival, afinal não são simplesmente a expressão do campo livre de expressão (eles dizem ser, mas notem que todo partido diz que seus informes são também exrepssão do campo livre de expressão). Negam que há coação entre seus membros e que se os membros se submetem ao sobretrabalho, é porque aceitaram essas condições por uma causa maior (todo partido diz o mesmo sobre seus militantes). Quanto ao dinheiro, eles dizem que as verbas públicas realmente foram para os projetos e que os patrocínios e doações recebidas não adulteral seus ideias (os partidos dizem o mesmo). Favor não confundam financiamento de governos com editais, os editais de cultura tem regras criteriosas, e o simples fato de projetos culturais receberem verbas de editais não configura falcatrua nenhuma. Senão vocês descem ao nível da Veja (para a Veja todo gasto que do governo do PT é falcatrua, sem distinção entre o que foi lícito e ilícito!).

Por fim, tenho algumas sugestões de links:

A FAVOR:

Sergio Amadeu - https://www.facebook.com/sergioamadeu/posts/10153094845610274 "1)O fora do eixo nunca foi paradigma de ação política de esquerda. Trata-se de um grupo de ação cultural que se tornou político, mas não tem raízes na esquerda, mas nos movimentos de rede (...) 10) Precisamos organizar um campo de esquerda. Gostaria que os diversos movimentos de rede pudessem integrá-lo. Quero unidade de ação contra o capital. Trabalho pela liberdade na internet com a esquerda do PDT, com o PT, com o PSOL, com o MST, com autonomistas, anarquistas, com o PCdoB e tantos outras organizações.

Rafael Vilela - https://www.facebook.com/piravilela/posts/684090298272627 - que diz que foi repórter da Midia Ninja enviado ao Egito, ou seja correu risco de vida pelo FdE.

Aderbal Ashogum Moreira - https://www.facebook.com/photo.php?fbid=642001229143524&set=a.195723437104641.50322.100000009586758&type=1 - "(...) me chamou a atenção aquela organização que se parecia com uma comunidade de terreiro, todos trabalhavam em tudo (...) .Fora do Eixo somos todos que estão a margem desta merda toda que esta ai posta."

CONTRA:

Shannon Garland - http://lagringasudaca.com/post/57814963701/olhar-de-alguem-de-fora-no-fora-do-eixo - entre outras declarações interesantes, "(...) sim, eu já vi, tem pessoas mais altas no processo vigilando as mais novas—indivíduos e coletivos. Eu vi, como Laís falou, claramente o desejo das pessoas poderem subir na rede,"

Isabelle Gusmão -https://www.facebook.com/speakenglishI/posts/4609374290775 - "Nós exijíamos o pagamento dos cachês, e quando tocamos no assunto eles disseram que se penssavamos assim, estavamos nos tornando uma casa de shows comum, que não tinha nenhuma responsabilidade com a demanda cultural da cidadade. Foi aí que tive um lapso de raiva, tristeza, e dor muita dor. Porque vi, como pessoas tão supostamente revestidas com um discurso cheio de frases de efeito pode te fazer mal, pessoas sem índole"

A esquerda é melhor que o Fora do Eixo?

(série sobre Fora do Eixo, a partir das repercussões do caso Beatriz Seigner - resumo aqui)
(originalmente escrito e divulgado -emails, facebook - no dia 9/8/13)

 A intenção é fazer uma crítica construtiva mostrando as contradições. E também humanizar a visão sobre como os artistas vivem.

Fiz e refiz o título do artigo, mas acho que não tá bom... a minha intenção é de pontuar críticas construtivas.... mas receio que para alguns soem mais críticas que construtivas e se afastem de mim. Pensei várias vezes em me abster da discussão, o que não queria é que os meus amigos de esquerda se afastassem de mim (são de várias organizações, até conflitantes entre si, mas os admiro), mas por hoje, vou escrever como um artista que vê a esquerda discutir o FdE e chamarei a atenção para algumas contradições.

Por coincidência o relato da Beatriz vem ao mesmo tempo que a UNE volta a ter monopólio sobre as carteirinhas que servirão para serem utilizadas sobre 40% dos ingressos. Vi que a oposição da UNE está dizendo que é um retrocesso no acesso à cultura como direito, etc. Mas eu comentei que por outro lado, a carteirinha estudantil estava servindo majoritariamente para acesso à cultura alienante e até elitizada (ingressos a shows que custam mais de R$ 300) e que desse ponto de vista, não se perdeu muito. Não estava cara a cara com ela, foram comentários no facebook, mas senti que ela não gostou muito do meu ponto de vista.

O que a cineasta Beatriz criticando o FdE e a carterinha da UNE têm a ver? Ora, simples, o cinema! O que quero dizer é que não adianta por um lado aplaudir artistas sendo reprimidos e do outro defender uma carteirinha para a juventude ver um cinema hollywoodiano. Se for assim, é o mesmo que pegar a crítica da cineasta para atacar um concorrente e a cineasta que se dane. Essa é a postura de Reinaldo Azevedo e seus seguidores (o relato dela foi parar no site da Veja) que pelos comentários é possível ver que por eles, a crítica serviu para desmascarar a Mídia Ninja e por eles não existiria financiamento à arte, nem à mídia (contraditório, pois a própria Veja recebe verbas de publicidade estatal) e não defenderiam sequer o cinema nacional.

"Ah, mas a UNE promove o Bienal da Cultura!". Sim, mas em dose homeopática em comparação ao montão de gente que vai ver cultura alienada com a carteirinha. Mas bem lembrado, isso me lembra que anos atrás, uma artista reclamava que não foi paga pela participação na Bienal da Cultura da UNE. Talvez a oposição da UNE esteja sorrindo "ah, uma coisa em comum entre a majoritária da UNE e a FdE: não pagam os artistas!...." Bem, vou ter de pedir para tirar o sorriso, pois eu tava repassando a denúncia para ver se o caso ganhava alguma solução por via da publicização. Mandei para uma lista onde tinha um diretor da UNE. Eu questionei: "fulano, se você é direitor da UNE não pode fazer algo?" Ele respondeu que não faz parte da majoritária, e sim da oposição da UNE, que cultura não é com ele e que assim não faria nada! Foi até seco e sequer repassou a denúncia... sei lá, ele poderia ter repassado para os companheiros também de oposição para denunciar como tática da majoritária... mas não, simplesmente o assunto morreu na caixa de mensagens dele. Isso até me faz pensar se na verdade o relato da Beatriz não teria sido espalhada mais por ser um caso notório (e político) do que por um caso de injustiça. A injustiça que a diretora de cinema viu foi publicizada, e a injustiça de uma encarregada de organizar o Bienal morreu o assunto na caixa de mensagens do diretor da minoritária da UNE... (essa é uma parte que quero que me entendam como crítica construtiva! O que quero dizer é: publicizem a injustiça e se possível tentem resolver os casos. Nem estou dizendo que foi má-vontade pois não conheço o funcionamento das diretoras da UNE. Vou explicitar isso para não antipatizarem comigo à toa pois tem mais coisa à frente!)

O artigo "Lulismo fora do eixo" de José Arbex Jr. só consegue mostrar conexão temporal entre lulismo e FdE: Lula se tornou presidente, dali a pouco FdE apareceu... que conexão fraca! (isso até me lembra de um quadrinho que fiz: "você nasceu no mesmo país de Lula e mesmo assim nega ter jantado com ele?"). Estão achando mais conexões entre FdE e PT? Mas também entre FdE e Marina e até FdE e PSDB? Ótimo, ótimo, são dados recentes e de qualquer forma vocês estão melhores que o Arbex. Mas o artigo dele não é só sobre isso, ele diz haver conexão também entre "Lulinha paz e amor" e a mensagem pacifista das marchas atuais. Se bem que ele se refere à Marcha da Liberdade que aconteceu há uns anos, mas de qualquer forma, Arbex e outros ficam achando que as marchas atuais chamadas com internet e redes sociais atrapalham o ressurjimento de marchas parecendo aquelas de pinturas da revolução francesa. Sinto muito, mas nesse ponto tenho de concordar com outros autores que dizem que a esquerda tradicional está com dificuldade de lidar com as novas tecnologias, decepção com partidos políticos, etc. Até porque as marchas atuais não são apenas de face pacífica, a outra face, violenta - a do Black Block - também está sendo criticada (tem críticas do PSTU e da LER-QI criticando o PSTU. Imagino que LER-QI não se junta à violência do Black Bloc mas diz ser uma expressão popular a ser compreendida, e ao mesmo tempo denuncia o pacifismo à qual se juntou o PSTU; e o PSTU deve estar fazendo o inverso, dizendo que não se junta aos pacifistas mas o pacifismo é expressão popular e como LER-QI se junta ao Black Bloc).

Tá, talvez tenha pegado um pouco pesado no parágrafo anterior, eu por mim diria que no fundo não adianta tentarmos adivinhar os caminhos do povo, e que é válido tentar guiá-los para algum caminho desde que essa guia não sirva para improdutivamente um grupo ficar alimentando rivalidade desmobilizadora em relação ao outro.

Mas voltando ao Arbex, o artigo dele saiu na Caros Amigos! Daí entra outra contradição pois a Caros Amigos esse ano que tem gente saindo de dentro, reclamando de trabalho escravo, etc. Enfim, dizem que há trabalho voluntário/escravo no Mídia Ninja/FdE, mas Caros Amigos foi um projeto que por anos e anos a esquerda dizia para os trabalhadores lá dentro que era melhor eles aguentarem, é por um bem maior, etc. Inclusive, os relatos tristes da ex-FdE Laís Bellini ( https://www.facebook.com/lcbellini/posts/702021409824865) me fizeram pensar que o que se falava dentro da Caros não devia ser diferente. Aliás, um dos espaços usados para escrever sobre o FdE é o site PassaPalavra, e provavelmente os autores estão postando lá sem pensar em como os funcionários do site se viram, etc. Eu não conheço como funciona esse site, se quem trabalha está feliz, muito bem, mas quero dizer que tem muitos projetos por aí com trabalho mal-remunerado ou voluntariado, então não deviam encarar o caso do FdE como um alienígena.

Também sei de pessoas que saíram de partidos, na saída estavam muito decepcionados e tristes, e nisso também vejo semelhança com os relatos de quem saiu do FdE. "Ah, mas FdE não é partido", pois é, seria aceitável o trabalho pouco remunerado/voluntário/escravo se fosse de um partido, ou movimento social, ou de um jornal de esquerda? (um importante adendo: esses defeitos tolerados são vistos não só na esquerda. Acontece cosia semelhante em grupos de direita, em ONGs, entidades religiosas, etc. Cada um doa sua dedicação para o que achar melhor.) Afinal o que é o FdE?

Dizem que o FdE é uma mistura de partido, agência publicitária, seita, coletivo de artistas, etc, etc. Sendo que partiram da área cultural/artísitca, a pergunta a seguir é: a esquerda está mesmo enxergando os artistas?

Encaro que denunciar o FdE como receptor de patrocínios de entidade privadas e de verbas públicas, não sei se a esquerda percebe, mas o fato em si não quer dizer muita coisa. Além de ser algo comum, há contradição em exigir que o governo financie a cultura mas reclamar que tem mais artistas recebendo verbas. "Ah, mas porque tantos artistas que aparecem em locais públicos?", bom, então você entra em outra contradição que é reclamar que tem artistas que ficam em seus ateliês, e não gostar dos artistas que fazem da rua seu suporte artístico."Ah, mas uma coisa é intervenção artística urbana, outra é artista com posição política", bom, contradição de reclamar que artista não se politiza... "Ah, mas Frida Kahlo era politizada mas separava...", bom, aí que entra a coisa moderna de arte sem suporte, performances, e outras discussões que SÃO VÁLIDAS ARTISTICAMENTE.

Vocês podem não concordar com eles, mas os que acham que FdE estão se inserindo onde não deviam estão errados, FdE pode fazer o que quiser, a questão é se isso é bem recebido ou não. Tem artista que diz que quer mostrar a podridão do mundo e o fim da arte, aí vende aos milionários animais apodrecendo. Eu por mim diria que o artista foi irônico e aparentemente os milionários não entenderam e foram enganados, mas tudo bem, isso é permitido e é arte. Um coletivo de artistas colocou pães nas árvores na praça e uns mendigos perguntaram se podiam pegar para comer e um deles disse que ia pegar, mas que se sentia humilhado, mesmo que a artista explicasse que não é para humilhar que deixou os pães nas árvores para serem pegos, isso também é permitido. Merchands financiam pixadores que enfeiam muros alheios, e não que o merchand tivesse quererndo destruir a propriedade privada de concorrentes, é uma reflexão, uma atitude, é arte!

Já houve intervenções artíticas que mudou a realidade? Bem, eu diria que sim, como no caso dos artistas terem ido à ocupação Prestes Maia (tem imagens e relatos na internet, eu também participei por um período). "Ah, mas isso só gera registros e discussões entre artistas e estudiosos da arte, do que isso adianta?" Bem, sinto informar que muitos dos debates que a esquerda faz também só gera papo entre os entendidos e acadêmicos, os intelectuais de esquerda quando criticam, se sentem os tais, mas no final seus escritos vão ficar guardados pela academia, e eu poderia perguntar do que isso adianta.

"Mas o ponto é: vai haver revolução com a arte?" Bem, talvez... não sei se é, mas talvez a revolução seja a grande obra artística que o FdE almeje, não sei, tem de perguntar a eles. Se querem fazer parte da história, se querem ser a história. "Revolução é o objetivo dos movimentos e partidos, essa é a diferença com FdE", infelizmente nesses tempos, não é possível dizer dessa forma. "Ah, mas FdE cria entraves!", bem os movimentos e partidos estão toda hora acusando uns aos outros de serem entraves!

Opa, vai parecer que estou defendendo o FdE, não é isso. Essa coisa grande que se tornou FdE, mistura disso e aquilo... numa palavra eu diria que é medonho! Sei que medonho é um adjetivo vago, mas essa é a palavra que me ocorre, principalmente lendo os relatos de ex-FdEs. A questão central é: podemos criticar o FdE, mas eu digo que eles têm de ser entendidos no contexto da arte, e os que saíram também têm de ser entendidos enquanto artistas! Quero chamar a atenção para as especificidades da vida deles, para que a compreensão fique mais próxima, mais humana! Não é por serem uma seita que seus membros se submeteream àquelas condições de trabalho, isso se vê em muitas organizações (partidos, ONGs, Igrejas...). O problema não é o fato de receberem patrocínios e verbas (jornais da Veja à Caros Amigos também recebem), nem de ganharem bolsas para estudar e ajuda para palestrarem (como os intelectuais/pensadores de qualquer ideologia). Onde está o problema então?

Pois é, aí olho novamente para a esquerda e pergunto: será que o problema simplesmente não estava na disputa de espaços, coisa que a esquerda faz entre si há tempos? Coisa pela qual, inclusive os inescrupulosos dizem: "opa, publiciza o que a cineasta e os artistas estão dizendo, mas depois o cinema e a arte que se danem!".

Pode ser que que seja apenas disputa de espaço? Eu vejo muitos sinais, e inclusive não acho que isso seja muito saudável de se fazer em pleno período de mobilizações populares. Mas a verdade é que vi pessoas divulgando a Midia Ninja após os compartilhamentos de materiais contra os Anonymous! Quer dizer: a Midia Ninja ganhou espaço justamente porque tava rolando uma picuinha, acho isso muito irônico! (Apesar de parte da crítica contra Anonymous ser válida, a meu ver foi picuinha a discussão sobre usar ou não máscara, ou o significado da máscara de Guy Fawkes. Quanto à "mascarados não me representam", é engraçado que um amigo que postou a frase agora adota como avatar a figura de um mascarado do ELZN! E quanto à Guy Fawkes, acho improdutivo ficar vasculhando a origem. É como ficar vasculhando o significado da figura do palhaço - vocês sabiam que as roupas largas, bochechas e nariz vermelhos, na sua origem era para rir dos pobres? -, ou ainda, da origem da tão cultuada Mafalda de Quino. Enfim, para mim o uso da máscara é apenas expressão, assim como na Revolução do Chá nos EUA os manifestantes se vestiram de índios para atacar os navios ingleses e provavelmente não pensaram a fundo no significado da figura do índio - talvez o racismo americano fosse menos forte se tivessem pensado a fundo, e não apenas encarado apenas como símbolo contra o poderio britânico - que o monarquista Guy Fawkes também combateu).

Reforçando para finalizar: reflitam se a crítica ao FdE não é picuinha (sendo que a Midia Ninja ascendeu a partir da picuinha contra Anonymous), entendam o contexto da arte, o modo de vida (e motivações) dos artistas, e façam coisas úteis no contexto atual de mobilizações (Se a Caros Amigos e Midia Ninja são escravistas, que mídia é boa?)

Capas a registrar

(+atualização de abril 2014)
(+atualização de dezembro 2014)
(+atualização de janeiro 2015)

Essa foto (via facebook) não pode deixar de ser registrada:


O assunto mais importante da semana do dia 11/8/13 era "a revolução dos músculos"?!

o texto que acompanha a foto:
"O editorial de Veja desta semana, do jornalista Eurípedes Alcântara, é um monumento ao cinismo. Nele, o diretor da revista afirma: "Há indícios, mas não provas". No texto, diz que "ao escândalo Siemens no Brasil faltam evidências sólidas" e diz que "tanto quanto as autoridades, os repórteres de Veja as estão buscando" (pausa para gargalhada). Antes dele, Merval Pereira havia lamentado a corrupção no PSDB e Reinaldo Azevedo afirmou que a teoria do domínio do fato não poderia ser aplicada a tucanos como Andrea Matarazzo. Essa cautela, evidentemente, jamais existiu em relação aos adversários políticos dessa mesma imprensa, que eram criminalizados ainda enquanto réus. O que demonstra que a ética se transformou, no Brasil, em instrumento de guerra política e comercial.

Leia mais: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/111257/Caso-Siemens-desmoraliza-de-vez-a-mídia-engajada.htm
"


 Comaprar capas pode ser divertido. Por exemplo, na crise econômica, a Veja fez capa com Tio Sam, e na semana seguinte, a Carta Capital mandou a resposta. 

ATUALIZAÇÃO ABRIL 2014

E na 1° semana de abril, Veja novamente se destaca!

Engraçado que enquanto até mesmo a Superinteressante, outra publicação da editora Abril (MESMA DA VEJA) abordou o golpe:
A equipe da Super preparou matérias como essa: "10 mitos sobre a ditadura no Brasil (ou Por que você não deve querer que ela volte)", ou seja, de um gosto meio "petralha" para a Veja. 

Aliás, um episódio curioso que pode nos dizer muito sobre a Veja: em 2006, a Veja fez uma matéria de capa sobre o Youtube (uma novidade na época), e esse é um dos vídeos que a matéria colocava como exemplo do que as pessoas vêem no Youtube:

A matéria parecia da área de entretenimento, mas obscuros vídeos com pouquíssimas visualizações ilustravam o fenômeno Youtube. Se não me engano, a própria matéria dizia que o vídeo acima tinha umas 300 visualizações (300 visualizações numa matéria sobre Youtube!). Bem que alguém comentou: "mas quem assistiu isso? Os estagiários da Veja?"

Não era a Veja fazendo uma reportagem sobre o que as pessoas assistem no Youtube, era a Veja querendo promover a visibilidade de vídeos com conotação política. E como se não bastasse essa sujeira, nesse vídeo o falecido ACM conclamava as forças armadas! Então a que conclusão podemos chegar sobre esse recente episódio das Capas em Abril/2014?...

ATUALIZAÇÃO DEZEMBRO 2014

ver também "As mais vergonhosas capas da Veja durante o regime militar" do site História Ilustrada


ATUALIZAÇÃO JANEIRO 2015

Estão puxando o saco do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que não agradou às esquerdas.

Note como colocam em lados opostos "poder" e "saber", com o subtítulo "Com eles juntos, temos uma chance de atravessar o tempestuoso 2015, se duelarem, o Brasil perde".

Ou seja, para eles, a Dilma é burra, mas como o "saber" está ao ali para manter a economia capitalista funcionando, então tudo bem.

O que acho curioso é que os ministros da fazenda são protegidos. O Palocci que chegou a ser tão odiado como mensaleiro, no começo do governo Lula era elogiado, como quando ele apareceu na capa de junho de 2004.
Então é um comportamento interessante, é como se no começo dos governos do PT, tentassem bajular os ministros da fazenda apra que continuem o capitalismo, apesar de (estranhamente) dizerem que Brasil, tal como Argentina, estejam sob governos "comunistas", o que rende bobagens como as escritas pelo colunista Rodrigo Constantino:
Ou seja, pode ser que em breve esse tão elogiado Levy também será visto como "socialista"...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

retrospectiva 2012: Conflitos dentro da democracia

Talvez a democracia seja conflituosa e nunca nenhum lado estará plenamente satisfeito. Se democracia é disputa entre ideias, então pode ser que haja algo errado se um lado estiver satisfeito: pode ser que isso signifique que um lado passou por cima de outro e o outro não consegue se expressar. Se isso ocorre, é provável que feriu-se a democracia, mesmo que se diga que ela foi aperfeiçoada ou restaurada... Ou melhor, talvez democracia seja uma coisa a ser vista sob várias concepções, dê uma olhada na imagem abaixo (peguei do facebook):
Assim, uma concepção de igualdade fere a outra. E daí que democracia provavelmente tem disso também: umca concepção é uma afronta às outras.

Uma coisa que acreditava quando criança e acho que não existe mais dentro de mim é a imagem de que democracia seria um lugar onde você vai fazer alguma coisa, volta para casa, liga a TV e diz relaxado "mais um dia com democracia, que felicidade!" e relaxa tanto que dorme. Atualmente acho que não: viver numa democracia é você acabar envolvido com questões, debates, e elas estarão sendo discutidas no caminho quando você sair/voltar para casa, quando liga a TV, e algumas dessas discussões serão tão cabeludas que farão perder o sono.

Ficar relaxado dentro da democracia, só com distanciamento, com o não-envolvimento em determinados debates que você achar que não vale a pena. (Antes tentava me inteirar de tudo, agora estou distante de discussões que não acho mais que têm a ver diretamente comigo.)

Mas - atenção! - o problema é que tentam te fazer acreditar que chegará o dia em que você relaxará dentro da democracia mais ou menos da forma que descrevi acima. E mais, te fazem acreditar que só tá faltando algum detalhe para que isso aconteça. Que detalhe é esse? Normalmente é um comentário do tipo "se tal grupo não existisse, viveríamos tão melhor...". Quem faz esse tipo de comentário? Bom, serei justo: o lado capitalista nos faz pensar que sem o barulho da esquerda, viveríamos em paz e riríamos como idiotas ou seríamos ricos despreocupados como em seriados de TV (escolha o seu gênero: comédia, drama, etc). Mas o lado socialista também tem muito disso, principalmente quando se fala que com a derrota dos capitalistas viveríamos tranquilamente sem nos estressarmos com debates de militância. Ora, atualmente acredito que nos estressaríamos sim, pois combater outras concepções de esquerda às vezes é tão chato ou mais do que combater a direita. E se não houver conflitos no socialismo, pode ser uma repetição de erros: a opressora uniformização de opiniões de "temos de nos manter unidos", "quem pensa diferente está colaborando com o imperialismo" como se viu no stalinismo é um perigo. Se socialismo é uma etapa para o comunismo (supressão do Estado), não tem como o socialismo não ser cheio de conflitos por causa da pluralidade de concepções.


OK, então não sei se você vai tentar relaxar num sofá capitalista ou socialista, mas só sei que alguns momentos você pode querer relaxar e isso será ótimo. Não é relaxante saber por exemplo que o seu candidato ganhou e você dorme aquela noite tranquilo pensando como será bom o ano que vem? Bom, né, Ótimo. Se é um direito seu? Bem, é um direito seu votar para que seu candidato tenha chance, não é um direito seu que seu candidato tenha garantido a vitória. E se você pensar bem, se esse estado de relaxamento for permanete e não algumas vezes por ano, tem alguma coisa errada. Você ficaria assim nesse estado permanente de relaxamento se você vivesse no reino do rei Arthur, mas aquele reino é monarquia, e não democracia!

Esse é um artigo para levantar essas considerações (como a inexistência de um relaxamento permanente na democracia), mas não pretendo exatamente que seja um "artigo-democrático-para-denunciar-o-que-não-é-democracia", não, não é que eu pretenda defender coisas não-democráticas, mas é que democracia é como aquela figura lá de cima: apoiando uma das concepções, vão te acusar de estar sendo contra a igualdade, mesmo que sua intenção seja corrigir distorções.

É complicado? Sim. Por isso que vira e mexe aparecem uns querendo dar uma resolução tipo "cortar o nó gorgio" da democracia: ou seja, passar uma espada que desfaz o nó (aliás um mito que vale a pena conhecer: nó gorgio na wikipedia). Entenda a espada como um ato de cunho violento ("cunho" violento - ressalte-se - não necessariamente envolve sangue). Como eu disse, hoje minha intenção não é exatamente defender a democracia e sim dizer que há concepções. Não estou aqui para defender que nunca se resolva o nó gorgio com a espada, e vocês entenderão o porque seguindo a leitura:
(a figura acima do nó foi retirada de um divertido conto, confira em http://profirmeza.blogspot.com.br/2009/10/quem-cortou-o-no-gordio-jo-soares.html)


ALGUNS ASSUNTOS EM RETROSPECTIVA 2012

MENSALÃO E EXCEÇÕES
Bem, o que me motivou a escrever hoje foi o Descurvo: O Brasil e a crise na justiça, que trata do julgamento do Mensalão e outros detalhes do cenário. Reparem que o mensalão é um um dos assuntos que a mídia tenta fazer o cidadão pensar que a democracia brasileira vai muito bem, mas seria ótimo se os mensaleiros sumissem. Ou seja, supostamente para a democracia ficar melhor, toma-se medidas anti-democráticas, em que a igualdade não vale para todos (PSDB não está sendo investigado com tanto rigor, nem o banqueiro Daniel Dantas)
(ah, em 2013 voltarei a fazer quadrinhos)

Existe todo um debate, em que se discute se é ou não Estado de Exceção, Golpe Branco ou simplesmente justiça. Para não alongar muito, é de fato muito esquisito isso da AP470 (vide Descurvo), assim como achei esquisito há meses atrás quando estavam dando uma nova interpretação para o que seria "corrupção ativa", que além de se referir a aceitar suborno, passou a se referir também à quem suborna (numa explicação rápida e talvez não tão precisa, mas vai lá...), e que isso de dar nova interpretação no meio do processo me cheirava muito mal, pois um dos princípios do Direito é que leis novas só valem para casos futuros e não para os em andamento (por isso na verdade não foi apropriado quando aprovaram a lei de crimes hediondos - que incluí sequestro e aplicaram nos sequestradores de Abílio Diniz: se a lei não estava em vigor quando eles foram presos, não era para a nova lei ter contribuído para aumetnar a pena deles. Da mesma forma que quem foi preso por bater na mulher antes da Lei Maria da Penha vai responder por agredir uma pessoa, mas não especificamente a mulher dentro de relações conjugais, como na redação da nova lei).

Há quem diga que é um exagero falar em Estado de Exceção ou em golpe Branco, mas eu acho importante de se observar o que acontece, afinal, pode ser que o PT não seja mais um partido com mente operária, mas acho um erro fazer como faz alguns partidos da esquerda de considerar que PT, PSDB, DEM, etc são tudo farinha do mesmo saco. Para mim, são simtomas do sistema rejeitando um partido que originalmente era bastante operário e se isso não é motivo para passar a apoia-los, pelo menos é de se observar como algo sintomático. Acho que o PT estava sendo rejeitado desde muito antes, talvez desde aquela época que recebeu o número de registro "13", passando por momentos episódios como quando após as eleições de 1989, mudaram as regras eleitorais e restringiram as imagens de comícios nas propagandas eleitorais com a desculpa de que comícios requeriam dinheiro e tais cenas favoreciam os partidos mais endinheirados mas o mais prejudicado mesmo era um partido bem menos rico que os demais!

(é certo que não é por ser que esquerda que se apoia o PT. Afinal sua história complicada, sua aceitação às regras do jogo, fez com que muitos ícones da esquerda cortassem relações com o partido. Se eu estivesse no lugar do PT, teria denunciado as regras do jogo e não aceitado nem que a numeraão do registro fosse 13. Felizmente eu não tava lá - rsrs-. Mas o fato é que a meu ver o PT dar mesada à opósição foi uma coisa dpo fundo do poço de tentar ser aceito para progar sua governabilidade. Eu no lugar deles, teria filmado a oposição aceitando suborno e botaria a boca no trombone, fazendo tanto barulho que a oposição iria escolher dissolver o partido  - mas iam me acusar de chavista, revanchista, ditador-contra-a-oposição, golpista-que-calou-a-oposição-do-congresso, ou coisa pior - talvez nesse caso também vocês digam que felizmente eu não tava lá... Mas o fato é que fico pensando que o PT não vai reagir, tentar virar o jogo, e muito menos de maneira mais revolucionária, e não tenho certteza se é bom não!)

E já que estamos falando de decepções e indecências, peço licença para fazer uma síntese que pode parecer esdrúxula, mas é o que sinto de verdade. Estão vendo a moça acima? Muitos podem ter falado mal dela como a ex-assessora de uma senadora do PT que aproveitou o clima de escândalo para exibir seu corpo e ganhar $$$ com isso. E até chegar a ser assessora, imagino que ela militou dentro do PT, conseguiu destaque entre movimentos sociais, ganhou confiança do partido e do povo - entre eleitores e militantes, devem ter feito vaquinhas para que ela fosse aos congressos e encontros internos, etc. Enfim, provavelmente acusaram-na de traição do significado do movimento quando a viram nua na Playboy, afinal os sacrifícios coletivos não foram feitos para ela se valer do corpo bonito que tem. Contudo, esse tipo de acusação para mim é o que cabe perfeitamente ao PT. Ou é até pior: é como se após várias campanhas, vaquinhas, jantares beneficentes, etc descobrissemos que a nossa companheira que  ajudamos a chegar lá confessasse que dormiu com fulano e ciclano como forma de acalmar a oposição, ser aceita,  melhorar os relacionamentos, a "governabilidade". E mal a gente se sente enojado com os relacionamentos das esferas superiores, ainda ouve a justificativa de que todo mundo faz isso lá em cima (e devem fazer literalmente mesmo, lembram que até um esquema de prostituição de luxo foi descoberto lá em Brasília?). Então é isso: os argumentos de que esquemas de Caixa 2 todos fazem? Acredito. PT não é o mais corrupto? Sim, concordo que não deve ser o mais corrupto, corruptos de verdade encobertam até cadáveres muito bem (vide corpo do PC Farias atribuído a "crime passional"). Mas daí apoiar o que o PT fez... aí é outra história! Foi sim uma decepção muito grande!

VOLTANDO À RETROSPECTIVA... MÍDIA, STF, TENSIONAMENTOS NA DEMOCRACIA
Nessa (complicada) conjuntura, saem opiniões como a do site Brasil 247: "PT tem a obrigação moral de reagir ao STF". Veja uns trechos:

"O STF, nessas circunstâncias, resolveu trilhar o caminho de suas piores tradições. Seus integrantes, majoritariamente, alinharam-se aos exemplos fornecidos pela extradição de Olga Benário para a Alemanha nazista, pela cassação do registro comunista em 1945 e pelo reconhecimento do golpe militar de 1964. Como nesses outros casos, rasgaram a Constituição para servir ao ódio de classe contra forças que, mesmo timidamente, ameaçam o jugo secular das oligarquias pátrias.
Garantias internacionais, como a possibilidade do duplo grau de jurisdição, foram desconsideradas desde o primeiro instante. Provas e testemunhos a favor dos réus terminaram desprezados em abundância e sem pudor, enquanto simples indícios ou ilações eram tratados como inapeláveis elementos comprobatórios. Uma teoria presidiu o julgamento, a do domínio funcional dos fatos, aplicada ao gosto do objetivo inquisitorial. Através dessa doutrina, réus poderiam ser condenados pelo papel que exerciam, sem que estivesse cabalmente demonstrados ação ou mando.
O que interessava, afinal, era forjar a narrativa de que o PT e o governo construíram maioria parlamentar através da compra de votos e do desvio de dinheiro público, sob a responsabilidade direta de seus mais graduados líderes. As contra-provas que rechaçam supostos fatos criminosos e sua autoria, fartamente apresentadas pela defesa, simplesmente foram ignoradas em um julgamento por encomenda."

(vejam que diferente de mim, o autor acima chama os fatos criminosos de "supostos", mas temos em comum o fato de ver no caso uma reação contra um partido operário - no meu caso, não acho mais tão operário, mas vá la...)

Mas como se daria a reação? O STF pelo jeito não é  flor-que-se-cheire (vide aqui), mas como reagir então? Provavelmante não se daria pelas vias que eu sugeri  - pois o PT tem medo de ser chamado de revanchista-chavista-ditatorial, etc - embora é melhor não ficarem totalmente passivos pois dessas coisas estão sendo chamados de qualquer jeito.

Voltando à introdução sobre democracia lá encima, é o tensionamento da democracia. Temos uma situação em que a mídia praticamente prega o linchamento de uns em favor do aperfeiçoamento da democracia (é a ideia de que alguns abusam da democracia, por exemplos do direito à fala,  e por isso devem ser calados), e a coisa está tensa e tem gente que defende a reação, talvez dando uma dura na oposição-midia-judiciário para que Lula/Dilma continuem com sua governança, que - segundo defensores - é o melhor para o povo como nunca antes ninguém viu.

Esse tensionamento é uma das coisas mais interessantes mesmo. Como eu disse, ninguém está satisfeito, todos reindivicam que se mude algum detalhe para que a democracia volte a ser aquela em que possam relaxar.

Tem os que não aceitam que a democracia seja esse conflito-imbróglio, e querem que alguém resolva o nó-gorgio com uma espada. Deve ser por isso que nesses tempos, se fala em volta da Arena! E por parte da esquerda tem gente querendo sanções à mídia golpista e intervenção do governo no STF, isso tem e vi nesse evento que assisti:
(para falar a verdade achei um pouco chato pois todos falaram praticamente a mesma coisa... com muita gente da UJS na plateia aplaudindo "Golpistas! Mexeu com Lula mexeu comigo!" e outra coisa é que apesar de um dos temas ser a mídia, não se abordou coisas do link que colocarei a seguir:)

OS 2 LADOS (!) QUERENDO CORTAR O NÓ GORGIO MIDIÁTICO
Confiram esse link: ONU recebe relatos de violação da liberdade de expressão no Brasil: se trata da esquerda reclamando que são tolhidos na liberdade de expressão. Entre os pontos relevantes (que não foram abordados no cartaz acima) é que de fato jornalistas/blogueiros independentes são perseguidos pela grande imprensa.

Por outro lado, a direita também vive reclamando que Dilma teria intenção de tolher a liberdade de expressão (na verdade confundem com liberdade de imprensa, ou melhor, regulamentação do tamanho/ responsabilidade dos veículos de imprensa), vide Saudades de 1964 (matéria da Carta Capital em versão encurtada. Um amigo indicou que dá apra ler a versão completa aqui).

Enfim, um tensionamento até engraçado: os dois lados reclamando que falta liberdade de imprensa, sendo que um acusa a ideologia do outro de tolher a liberdade.

É aquilo da democracia e o o porquê de não ser minha intenção hoje ser-democrático-e-denunciar-os-que-não-são: eu sinceramente acho que se acabar com a Veja não é uma má ideia (por isso que disse que o corte de nó górgio tem cunho violento, mas não significa sangue. Aliás note-se que não envolveria sangue nenhum punir por vias instituicionais e legais - pela Justiça, sem atacar pessoa mas a instituição veículo de imprensa e com os direitos básicaos da justiça como contraditório e defesa. Quando fecharam os feículos da esquerda nas ditaduras, quando perseguiram jornalistas, essas possibilidades não foram observadas e houve sangue).

(é bem curioso mesmo como os 2 lados dizem que a evolução das ideias do outro levará ao autoritarismo, ou ainda, que esse autoritarismo já está acontecendo e será pior no futuro. Bom, não estou aqui para dar 100% de garantia que um lado não fará isso mas o outro sim. Esse é um dos artigos onde não vejo como ficar em cima do muro. Meu lado é esquerda e se confiam em mim, acho que a direita é mais perigosa!)


E NA PUC-SP...
Para finalizar essa retrospectiva, o tensionamernto entre concepções de democracia está acontecendo nesse momento na Puc-sp. A disputa está na justiça e é bem complicada, até os últimos momentos de 2012 houve vitórias e reveses.

Acho curioso e irônico que no entender do grão-chanceler Dom Odilo, democracia significa respeito às regras, e a regra é que é ele quem tem o poder de escolher a partir da lista tríplice. Segundo ele, quando a comunidade rejeita a escolha dele, está indo contra as regras e portanto contra a democracia. Por isso ele chama os grevistas de "autocráticos"(!), ou seja, pessoal que estaria querendo impor sua vontade aos demais.

Então democracia é respeito às regras? Bem, mas se respeita regras para quê? Talvez para dar igualdade para os candidatos competirem. Este é o melhor argumento do porquê as regras devem ser respeitadas. Mas então faria sentido chamar de democracia o respeito à regra de um homem escolher?

Ademais, o Dom Odilo diz que a etapa democrática foi respeitada pois a comunidade foi ouvida na escolha da composição da lista tríplice (o que também faria mais sentido se houvesse uns 4 candidatos e tivesse de compor a lista de 3, mas nesse caso só tinha 3 candidatos mesmo e a comunidade só foi ordenando quem era preferência). Contudo, diz ele que escolheu Anna Cintra e se nega a dizer por que não outros. Diz ele que teve suas razões e ele não tem obrigação de revelar. Mas isso não faz perder o sentido do voto, em que as pessoas vêem publicamente as qualidades dos candidatos e por isso escolhem? Do jeito que está após receber os votos (exposição pública dos candidatos), por uma interferência com intenções ocultas, a última colocada é eleita... então para que votar?

Aliás para ele a interferência é a decisão da comunidade (Consun) e da Justiça sobre uma atribuição da Fundação mantenedora. Mas ele mesmo não considera que sua ação é que é uma intervenção!

E por parte da Anna, é curioso como o documento que ela assinou dizendo que não assumiria se fosse a 1° colocada, ela disse que era uma armação (!). Armação de quem? dos seus possíveis eleitores? Ela não deve explicações a quem votou nela por ela ter assinado o documento? (se não queria, por que assinou? Medo de que naquele momento ela perdesse votos? Como aqueles políticos por aí que dizem que não tinham como não prometer quando o eleitor pede que a rua/pracinha/etc melhorem?). É mais que merecido que Consun tenha anulado a lista tríplice por zêlo ao patrimônio moral da instituição!

Falando nisso, tem toda a razão o argumento da Justiça que tinha afastado Anna porque ela poderia interferir no Consun onde ela mesma é objeto de análise. A tentativa de realizar um Consun no dia 11 com a pretensa nova equipe da reitoria, um dia antes do dia 12 onde a candidatura de Anna seria analisada, isso mostra que havia intenção de com a nova equipe substituindo membros da gestão passada, se votasse e consolidasse a reitoria nova.

Todos devem reparar também que na guerra midiática que tá rolando em volta do tema. Vejam como é tudo rápido, na velocidade da internet (facebook). Isso é prova de que se tenta convencer as pessoas de que a concepção de democracia de Dom Odilo está certa e a outra, errada.

EM SUMA...
Hugo (do Descurvo) disse "É um cenário desalentador e fascinante ao mesmo tempo." Sim, é mesmo! Enquanto tem uns tensos com a direita, outros estão tensos com a esquerda. Nenhum lado está tranquilo e nenhum lado aceitaria muito bem se dissermos "mas que bom, apesar de tudo a democracia vai ganhar de qualquer forma"! Engraçado, será que esse acirramento de concepções de democracia significa que os lados estão tendo espaço para falar e no termômetro democrático isso é bom? É uma hipótese, pena que as coisas sejam tão tensas mesmo: uma imples discussão sobre rever a lei da anistia para punir os torturadores, mostra tensão e ambos os lados falam do "perigo" do outro lado tomar conta do debate...
(tá vendo no canto o incrível título "ressurge a democracia?)

Sendo que até o golpe de 1964 foi visto como "democracia" (confira editorial do O Globo em 1964), esse auge(?) da democracia não é tranquilo e de qualquer forma merece atenção para enxergar os limites e perigos. Instituições estão aí (incluindo a mídia, nunca confundí-los com vontade do povo!) e estão trabalhando, há choques e nós que estão se enrolando. Eu diria que alguns nós poderiam ser cortados mas eu só s[o uma opinião no meio da democracia...


(Ufa, o artigo ficou grandão, muto maior que imaginava! Mas também com isso compensa o fato do blog não ter tido nenhum post em 2011 (!!) e só ganhar algo no finalzinho de 2012 né! Bem, infelizmente quem lê pode ficar coma impressão de que sou uma pessoa atualizada, que lê muita coisa, mas nesse último ano não tem sido assim... entre outros problemas porque minha conexão com internet não tem sido muito constante e por causa de significativas mudanças na minha vida - hoje resolvi reviver a sensação de escrever já que estou de folga! Mas tenho orgulho do que já postei nesse cantinho da internet!)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Célio x Pondé: McLanche Feliz

Ontem vi uma notícia que me fez abrir um sorrizinho: o McLanche feliz foi proibido em algumas cidades dos EUA por incentivar a associação entre comida e brinquedo e assim contribui para a obesidade infantil.

O meu sorrizinho se deve à lembranças de um bate-boca virtual que tive com Pondé, colunista da Folha e professor da Puc-sp (aliás felizmente nunca o encontrei nos corredores da universidade).
O Pondé, como sempre, reclamava das pessoas "chatas" que se preocupam com a saúde e dando suas típicas pitadas para dizer que as pessoas chatas preocupadas com as militâncias em geral (seja militância pela saúde, ecologia, cidadania, política, etc) representam o atraso esquerdista e tal. Pois bem, agora que o McLanche Feliz foi proibido em cidades dos EUA, estamos vendo que tal proibição não partiu de um país influenciado pelos "soviéticos" (leia o que ele escreveu sobre "caixotes soviéticos").

Vai ficar longo, mas vou postar aqui a íntegra do debate, desde o artigo que ele publicou na Folha em setembro de 2009, passando por um artigo que fiz em resposta, a nossa troca de farpas (e-mails) e finalizando com a notícia recente da proibição de McLanche Feliz.

Divirtam-se.

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McLanche Infeliz
por Luiz Felipe Pondé
(extraído de http://toma-mais-uma.blogspot.com/2009/09/luiz-felipe-ponde-mclanche-infeliz.html)

"Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança". Benjamin Franklin

Pobre família. Esmagada entre teorias sobre seu fim ou sua transformação em mera empresa que gera jovens consumidores e gestores de carreiras, a família se despedaça sob a bota da instrumentalização da vida. Perdoe-me o leitor por contaminar sua segunda-feira com palavras de horror. Sou obrigado a fazê-lo.

E mais. Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens despencam num abismo de sensibilidades, no fundo indesejadas por suas parceiras. Mães espremidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher, ameaçadas pela solidão de quem aposta demasiadamente nas propagandas de sucesso pessoal, no fundo apavoradas como sempre estiveram pela deformação de seus corpos diante do desejo ávido masculino por mulheres cada vez mais jovens. Homens e mulheres acuados pela imensa montanha de idealizações.

A dependência de especialistas em como educar filhos se torna mais aguda do que a dependência do sexo, do álcool ou do tabaco. Bom o tempo em que tudo que temíamos era a luxúria dos corpos que ardiam na escuridão dos quartos. A insegurança de cada passo mostra seus dentes diante dos filhos que crescem ao sabor de um mundo que se torna cada vez mais exigente e, por isso mesmo, mais cruel. A associação entre demanda de sucesso e crueldade parece escapar aos especialistas na vida bem sucedida.

O fracasso é o pai do humano que se quer humano. Eis o maior de todos os impasses. Alguns praticantes das ciências parecem analfabetos tolos diante desta máxima e, por isso, repetem alegres suas crenças bobas nos instrumentos do progresso. Enganam-se, em sua infância intelectual, quando pensam que nós, céticos desta Babel, amamos o sofrimento, quando na realidade sabemos apenas de sua inevitabilidade como condição da humanização. É uma ciência da inevitabilidade do sofrimento que falta a estas almas superficiais que ainda chafurdam nas crenças do século 18.

Esses chatos, montados em suas análises jurídicas, sociológicas e psicológicas, atormentam a família, que fica perdida em meio a uma ciência moralista que tem como uma de suas taras a intenção de provar a incompetência dos homens e das mulheres na labuta com suas crias. Agora esses chatos decidiram que vão mandar nas compras de sucrilhos e nas idas ao McDonald's.

Tomados pelo furor da lei, esses puritanos querem ensinar padre-nosso ao vigário, assumindo que os pais precisam de tutela na hora de comprar comida para seus filhos. Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos. Daqui a pouco, vão proibir mulheres bonitas nas propagandas e as gotas de cerveja que escorrem por suas saias curtas. Riscarão do mapa carros que desfilam homens charmosos. Uma verdadeira pedagogia do horror como higiene do bem.

O problema com este higienismo é que ele pensa combater em nome da liberdade, mas, na realidade, restringe ainda mais a liberdade, esmagando-a em nome desta senhora horrorosa que se chama "cidadania". Esta senhora, que tende ao desequilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa, e dela guarda seu gosto pela humilhação. Deve, portanto, permanecer sob "medicação", porque detesta o homem comum e sua miséria cotidiana que carrega nossa identidade mais íntima. Sob a égide da defesa do bem comum, ela, quando investida da condição de rainha louca da casa, amplia o sentido dessa "coisa pública" elevando-a a categoria de uma geometria moral da intolerância.

Deixe-nos em paz com nossos filhos mal educados, com maus hábitos alimentícios, viciados em televisão e computador, aos berros para ganhar o McLanche Feliz. A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável. Daqui a pouco, vão dizer que não podemos comprar chocolates com personagens infantis (como se o gosto do chocolate para uma criança fosse "apenas o gosto do chocolate").

Em seguida, obrigarão nossas crianças a ler livros com meninas beijando meninas e histórias onde Jesus era africano. Criarão aulas onde meninos aprendam a colocar camisinha em bananas com a boca, afinal a igualdade entre os sexos deve passar pelo esmagamento da privacidade suja dos preconceitos, como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.

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Colunistas querem reconstruir o muro de Berlin (sobre "McLanche Infeliz" de Luiz Felipe Pondé)
por Célio Ishikawa - escrito em 7/9/2009)
(mandado para listas de e-mails com cópia para alguns outros colunistas da Folha, a meu ver atingidos pelo que Pondé escreveu: Jairo Bouer, sexólogo da Folhateen, Vange Leonel, que escreve sobre GLS na Revista da Folha)

(OBS: agora eu só acrescentaria que se os "caixotes soviéticos" forem tão bonitos como os cartões postais soviéticos, eu ia querer colecionar!)

Não gosto dos colunistas conservadores que a Folha contratou. Fico aliviado que pelo menos são apenas colunistas e não editores, pois por eles, Jairo Bouer, Rosely Sayão, Vange Leonel seriam expulsos da Folha. Isso levando em conta apenas o conservadorismo, pois se levássemos em conta o aspecto direitista, íamos ter de comentar também os editoriais e a "família" ou rede de amigos colunistas que estabeleceram com outros jornais e revistas. Mas fiquemos nos colunistas: Pereira Coutinho acha orientação sexual uma bobagem, lembro dele argumentando que é como ensinar um sapo a nadar! Já o Pondé, pela explanação de hoje (7/9/9) excluiria as dicas sobre saúde e pelo trecho "obrigarão nosssas crinças a ler livros com meninas beijando meninas" concluo que excluiria também a colunista lésbica da Revista da Folha.

Mas o que me arrepia mesmo é que eles parecem querer reconstruir o muro de Berlin! São anti-comunistas do pior tipo, ou seja, vêem comunistas até não tem. Aí eles jogam do outro lado do muro até quem não é comunista. Ferreira gullar por exemplo disse que a lei soltando doentes mentais dos hospícios foi aprovada por um congresso dominado por discursos anti-burgueses! Faça-me o favor! Desde quando só pelo fato do Lula ser presidente o congresso fica tomado de discursos anti-burgueses?

E o Pondé hoje? Protesta contra os que denunciam a publicidade infantil no McLanche Feliz, dizendo que desse jeito vai ficar: "Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos." Caixotes soviéticos? Como eram os caixotes soviéticos? Ele já viu algum caixote soviético?

Não quero que o colunista vá correndo à internet ver como eram os caixotes soviéticos, pois entendi muito bem o que ele quis dizer: seriam caixas de papelão puro, sem graça. Sei que ele fala em termos conceituais, ainda que esse conceito do que seriam produtos socialistas não corresponda à realidade.

Pois o muro de Berlin que eles querem reconstruir também é conceitual: do outro lado, o totalitalismo, o controle, uma dinâmica econômica tão ridícula (de anedotas de economistas) que não duraria 1 ou 5 anos. Nada disso precisa corresponder à realidade. Essa gente ficaria surpresa ao ver colecionadores de cartões postais soviéticos, ou de ver filmes como "Adeus Lênin" em que se nota que existiam produtos do outro lado, e com marcas e rótulos coloridos! Pena que "Adeus Lenin" é filme estrangeiro, pois se fosse nacional (como "Bicho de Sete Cabeças", visto e exibido pelos especialistas anti-manicomiais) eles poderiam alegar que não vão ver uma propaganda subversiva pois os cineastas fazem filmes sociológicos com dinheiro estatal e haveria uma aliança entre governistas, cineastas e especialistas contra a "pobre família" (termo usado por Pondé).

E assim vão jogando do outro lado as pes soas, até a cidadania! Segundo Pondé: "senhora horrorosa que se chama 'cidadania'. Esta senhora, que tende ao desiquilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa"!

Engraçado que a cidadania é uma mulher, uma das que oprimem os "Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens"? As mães? Ele cita também, mas como "Mães esprimidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher". Quer dizer: um conservadorismo estarrecedor que viu no feminismo uma perturbação da ordem da família, uma ameaça comunista. Ops, mas isso se, SE o comunismo é sinônimo de ameaça. Achar que são sinônimos é cair no truque literário deles. Que os leitores não caiam nesse truque, pois o que eles imaginam é um mundo paranóico de tramóias inexistentes. Eles desconfiam que a lei contra o fumo em São Paulo é um plano stalinista, se o governador fosse do PT eles teriam certeza!

Lembro que quando o muro de Berlin caiu, alguns diziam em uma era de reconciliações e superações das tramóias ideológicas. Tá certo que muitos diziam isso para dizer que o capitalismo era o vencedor absoluto e fim da história, o que não aprovo, mas era muito interessante e positivo a história de abandonar as tramóias. Anunciavam a globalização, a possibilidade de uma aldeia global, conferências mundiais para discutir o clima (havia otimismo na ECO-92, e não um ridículo apontamento de traços subversivos nos ecologistas). Estava no colegial e lembro até que alguns manuais de vestibular apontavam que a área de humanas ia ganhar destaque pois as pessoas veriam que após tantos avanços tecnológicos, entraria na ordem do dia a atenção ao campo social e ambiental. Agora não, segundo a Veja, a área de humanas acalenta teorias inúteis para formar professores e funcionários públicos que querem perpetuar o ciclo de reprodução da categoria!

Quem diria que teria saudades daquela época após a queda do muro de Berlin? Quem diria que agora estejam querendo reconstruir - pelo menos conceitualmente- esse muro?


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resposta de Pondé  1
(escrito em 7/9/2009 - com cópia para Jairo Bouer, Vange Leonel. Não sei por serem colegas da Folha, nem o Jairo nem Vange participaram da troca de mensagens)

Ola Celio
Vc se enganou, não 'queremos' (seja lá o que vc quer dizer com este plural e este grupo de pessoas que vc pensa existir) reconstuir nenhum muro de Berlim. Qto a 'conservadores' que demitiriam pessoas, acho que vc se engana de novo. Primeiro pq temo seu uso da palavra 'conservador', provavelmente com ela vc queira desqualificar a discussão e sim, talvez, questionar o direito da Folha em ter colunistas com os quais vc não concorda. Abraço, obrigado, Pondé

Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo

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resposta de Célio 1
(escrito em 8/9/2009. Continuei mandando cópia para uma lista de e-mails e para Jairo e Vange. Aliás deixava bem visível, pois achei que seria mais honesto que usar cópia oculta)

(OBS: ah, sim citei o filme "But I´m a Cheerleader", que havia assistido dentro da Puc numa sessão promovida por um coletivo de mulheres lesbicas da Puc-sp - Pondé ficaria chocado com isso não acham? A sessão foi no CACS e foi muito legal)

Olá Pondé.

Confesso que chega a ser meio engraçada a sua resposta.

Após você usar palavras como "soviéticos" e narrar como se houvesse um autoritarismo em ascenção, sou eu que desqualifico a discussão ao usar a palavra "conservadores"?

Após você reclamar tanto dos especialistas em saúde (e também da sexualidade, no caso de Pereira Coutinho), é a minha reclamação que talvez questione o direito da Folha de ter colunistas com os quais não concordo? Eu questionar esse direito fica parecendo que sou contra a liberdade de expressão e talvez me imprima uma marca autoritária do outro lado, não é mesmo?

E no final das contas, serei eu o paranóico e por isso escrevi no plural imaginando um  grupo de pessoas que eu penso existir?

Acho que não estarei enganado que quando nas escola passarem filmes como "But I´m a Cheerleader", você dirá que se tornou real o seu temor (como você disse: "obrigarão nossas crianças a ler livros didáticos com meninas beijando meninas")

Pelo jeito você é muito hábil com as palavras para formar seus argumentos, mas eu também sei de alguns desses truques.

Célio Ishikawa

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resposta de Pondé 2
(escrito em 8/9/2009. Ele reclama das minhas cópias para vários destinatários)

(E reparem como ele deslocou a discussão para a liberdade de expressão, me colocando como se eu fosse contra a liberdade dele!) 

Caro Celio
Grande esta lista de emails que vc copia, não?
Enquanto eu ainda tiver a liberdade que vc nao quer que eu tenha, vou continuar a escrever o que vc nao quer que eu escreva, abraço
Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo


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resposta de Célio 2
(escrito em 10/9/2009)

Caro Pondé

Acha que sou contra seu direito? Então parafraseando o que você escreveu sobre a "senhora cidadania":

Esse senhor horroroso chamado "direito de expressão" que tende ao desequilíbrio quando se faz cheio de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa.


OBS: Não sei o que quis dizer com as minhas cópias, mas como vi que dessa vez você não mandou cópias para seus colegas da Folha, também não o farei, se isso estiver lhe causando algum problema. Mas do lado de cá, lhe garanto que eles não incomodarão. Mas se estiver se referindo à  percussão pública, não divulgarei suas respostas se assim o desejar. Quanto às minhas respostas, não há problema se quiser mostrá-las publicamente.

Célio Ishikawa

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resposta final de Pondé
(escrito em 19/9/2009. Ele não mais argumenta mas pelo menos mantém a educação)

Obrigado caro Celio, abraço, Pondé
Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo

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Notícia de 15/12/2010 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/845990-cidades-dos-eua-proibem-venda-de-mc-lanche-feliz.shtml

Cidades dos EUA proíbem venda de "MC Lanche Feliz"
por Folha Online

(15/12/2010 10:54)


Mario Anzuoni/Reuters
Lanches do McDonald's com personagens do filme "Shrek"
Nada de brinquedo depois da comida. Esse é o recado que algumas prefeituras norte-americanas começam a mandar e que tem como destino preferencial o McDonald's e seu McLanche Feliz.

A cidade de San Francisco, na Califórnia, é o caso mais conhecido. No mês passado, os vereadores locais aprovaram lei que impede a venda de alimentos associada a brinquedos em casos em que a refeição não atenda certos parâmetros nutritivos. Ou seja, se um alimento supera os limites estabelecidos de gordura, açúcar e calorias, não pode vender junto um brinquedo. Em abril, a também californiana Santa Clara tomou decisão semelhante, e outras devem seguir o caminho, com o avanço da obesidade nos EUA.

O presidente-executivo do McDonald's, Jim Skinner, atacou, em entrevista ao "Financial Times", a decisão de San Francisco, que só vai entrar em vigor no final de 2011.

Para o dirigente, a nova regra "retira a decisão pessoal de famílias que são mais do que capazes de tomar suas próprias decisões".

No Brasil, a Justiça Federal negou em julho do ano passado liminar do Ministério Público Federal que queria proibir promoções do Bob's, do McDonald's e do Burger King, que dão brinquedos a quem compra lanche.

Para Marcio Schusterschitz, autor da ação, a decisão americana não deve influenciar o processo no Brasil -havia outro processo tramitando na Justiça do Estado de São Paulo, mas o STJ decidiu recentemente que o caso é de competência federal.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Colunistas querem reconstruir o muro de Berlin (sobre "McLanche Infeliz" de Luiz Felipe Pondé)

Ontem vi uma notícia que me fez abrir um sorrizinho: o McLanche feliz foi proibido em algumas cidades dos EUA por incentivar a associação entre comida e brinquedo e assim contribui para a obesidade infantil.

O meu sorrizinho se deve à lembranças de um bate-boca virtual que tive com Pondé, colunista da Folha e professor da Puc-sp (aliás felizmente nunca o encontrei nos corredores da universidade).
O Pondé, como sempre, reclamava das pessoas "chatas" que se preocupam com a saúde e dando suas típicas pitadas para dizer que as pessoas chatas preocupadas com as militâncias em geral (seja militância pela saúde, ecologia, cidadania, política, etc) representam o atraso esquerdista e tal. Pois bem, agora que o McLanche Feliz foi proibido em cidades dos EUA, estamos vendo que tal proibição não partiu de um país influenciado pelos "soviéticos" (leia o que ele escreveu sobre "caixotes soviéticos").

Vai ficar longo, mas vou postar aqui a íntegra do debate, desde o artigo que ele publicou na Folha em setembro de 2009, passando por um artigo que fiz em resposta, a nossa troca de farpas (e-mails) e finalizando com a notícia recente da proibição de McLanche Feliz.

Divirtam-se.

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McLanche Infeliz
por Luiz Felipe Pondé
(extraído de http://toma-mais-uma.blogspot.com/2009/09/luiz-felipe-ponde-mclanche-infeliz.html)

"Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança". Benjamin Franklin

Pobre família. Esmagada entre teorias sobre seu fim ou sua transformação em mera empresa que gera jovens consumidores e gestores de carreiras, a família se despedaça sob a bota da instrumentalização da vida. Perdoe-me o leitor por contaminar sua segunda-feira com palavras de horror. Sou obrigado a fazê-lo.

E mais. Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens despencam num abismo de sensibilidades, no fundo indesejadas por suas parceiras. Mães espremidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher, ameaçadas pela solidão de quem aposta demasiadamente nas propagandas de sucesso pessoal, no fundo apavoradas como sempre estiveram pela deformação de seus corpos diante do desejo ávido masculino por mulheres cada vez mais jovens. Homens e mulheres acuados pela imensa montanha de idealizações.

A dependência de especialistas em como educar filhos se torna mais aguda do que a dependência do sexo, do álcool ou do tabaco. Bom o tempo em que tudo que temíamos era a luxúria dos corpos que ardiam na escuridão dos quartos. A insegurança de cada passo mostra seus dentes diante dos filhos que crescem ao sabor de um mundo que se torna cada vez mais exigente e, por isso mesmo, mais cruel. A associação entre demanda de sucesso e crueldade parece escapar aos especialistas na vida bem sucedida.

O fracasso é o pai do humano que se quer humano. Eis o maior de todos os impasses. Alguns praticantes das ciências parecem analfabetos tolos diante desta máxima e, por isso, repetem alegres suas crenças bobas nos instrumentos do progresso. Enganam-se, em sua infância intelectual, quando pensam que nós, céticos desta Babel, amamos o sofrimento, quando na realidade sabemos apenas de sua inevitabilidade como condição da humanização. É uma ciência da inevitabilidade do sofrimento que falta a estas almas superficiais que ainda chafurdam nas crenças do século 18.

Esses chatos, montados em suas análises jurídicas, sociológicas e psicológicas, atormentam a família, que fica perdida em meio a uma ciência moralista que tem como uma de suas taras a intenção de provar a incompetência dos homens e das mulheres na labuta com suas crias. Agora esses chatos decidiram que vão mandar nas compras de sucrilhos e nas idas ao McDonald's.

Tomados pelo furor da lei, esses puritanos querem ensinar padre-nosso ao vigário, assumindo que os pais precisam de tutela na hora de comprar comida para seus filhos. Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos. Daqui a pouco, vão proibir mulheres bonitas nas propagandas e as gotas de cerveja que escorrem por suas saias curtas. Riscarão do mapa carros que desfilam homens charmosos. Uma verdadeira pedagogia do horror como higiene do bem.

O problema com este higienismo é que ele pensa combater em nome da liberdade, mas, na realidade, restringe ainda mais a liberdade, esmagando-a em nome desta senhora horrorosa que se chama "cidadania". Esta senhora, que tende ao desequilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa, e dela guarda seu gosto pela humilhação. Deve, portanto, permanecer sob "medicação", porque detesta o homem comum e sua miséria cotidiana que carrega nossa identidade mais íntima. Sob a égide da defesa do bem comum, ela, quando investida da condição de rainha louca da casa, amplia o sentido dessa "coisa pública" elevando-a a categoria de uma geometria moral da intolerância.

Deixe-nos em paz com nossos filhos mal educados, com maus hábitos alimentícios, viciados em televisão e computador, aos berros para ganhar o McLanche Feliz. A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável. Daqui a pouco, vão dizer que não podemos comprar chocolates com personagens infantis (como se o gosto do chocolate para uma criança fosse "apenas o gosto do chocolate").

Em seguida, obrigarão nossas crianças a ler livros com meninas beijando meninas e histórias onde Jesus era africano. Criarão aulas onde meninos aprendam a colocar camisinha em bananas com a boca, afinal a igualdade entre os sexos deve passar pelo esmagamento da privacidade suja dos preconceitos, como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.

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Colunistas querem reconstruir o muro de Berlin (sobre "McLanche Infeliz" de Luiz Felipe Pondé)
por Célio Ishikawa - escrito em 7/9/2009)
(mandado para listas de e-mails com cópia para alguns outros colunistas da Folha, a meu ver atingidos pelo que Pondé escreveu: Jairo Bouer, sexólogo da Folhateen, Vange Leonel, que escrevia sobre GLS na Revista da Folha)

(OBS: agora eu só acrescentaria que se os "caixotes soviéticos" forem tão bonitos como os cartões postais soviéticos, eu ia querer colecionar!)

Não gosto dos colunistas conservadores que a Folha contratou. Fico aliviado que pelo menos são apenas colunistas e não editores, pois por eles, Jairo Bouer, Rosely Sayão, Vange Leonel seriam expulsos da Folha. Isso levando em conta apenas o conservadorismo, pois se levássemos em conta o aspecto direitista, íamos ter de comentar também os editoriais e a "família" ou rede de amigos colunistas que estabeleceram com outros jornais e revistas. Mas fiquemos nos colunistas: Pereira Coutinho acha orientação sexual uma bobagem, lembro dele argumentando que é como ensinar um sapo a nadar! Já o Pondé, pela explanação de hoje (7/9/9) excluiria as dicas sobre saúde e pelo trecho "obrigarão nosssas crinças a ler livros com meninas beijando meninas" concluo que excluiria também a colunista lésbica da Revista da Folha.

Mas o que me arrepia mesmo é que eles parecem querer reconstruir o muro de Berlin! São anti-comunistas do pior tipo, ou seja, vêem comunistas até não tem. Aí eles jogam do outro lado do muro até quem não é comunista. Ferreira gullar por exemplo disse que a lei soltando doentes mentais dos hospícios foi aprovada por um congresso dominado por discursos anti-burgueses! Faça-me o favor! Desde quando só pelo fato do Lula ser presidente o congresso fica tomado de discursos anti-burgueses?

E o Pondé hoje? Protesta contra os que denunciam a publicidade infantil no McLanche Feliz, dizendo que desse jeito vai ficar: "Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos." Caixotes soviéticos? Como eram os caixotes soviéticos? Ele já viu algum caixote soviético?

Não quero que o colunista vá correndo à internet ver como eram os caixotes soviéticos, pois entendi muito bem o que ele quis dizer: seriam caixas de papelão puro, sem graça. Sei que ele fala em termos conceituais, ainda que esse conceito do que seriam produtos socialistas não corresponda à realidade.

Pois o muro de Berlin que eles querem reconstruir também é conceitual: do outro lado, o totalitalismo, o controle, uma dinâmica econômica tão ridícula (de anedotas de economistas) que não duraria 1 ou 5 anos. Nada disso precisa corresponder à realidade. Essa gente ficaria surpresa ao ver colecionadores de cartões postais soviéticos, ou de ver filmes como "Adeus Lênin" em que se nota que existiam produtos do outro lado, e com marcas e rótulos coloridos! Pena que "Adeus Lenin" é filme estrangeiro, pois se fosse nacional (como "Bicho de Sete Cabeças", visto e exibido pelos especialistas anti-manicomiais) eles poderiam alegar que não vão ver uma propaganda subversiva pois os cineastas fazem filmes sociológicos com dinheiro estatal e haveria uma aliança entre governistas, cineastas e especialistas contra a "pobre família" (termo usado por Pondé).

E assim vão jogando do outro lado as pes soas, até a cidadania! Segundo Pondé: "senhora horrorosa que se chama 'cidadania'. Esta senhora, que tende ao desiquilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa"!

Engraçado que a cidadania é uma mulher, uma das que oprimem os "Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens"? As mães? Ele cita também, mas como "Mães esprimidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher". Quer dizer: um conservadorismo estarrecedor que viu no feminismo uma perturbação da ordem da família, uma ameaça comunista. Ops, mas isso se, SE o comunismo é sinônimo de ameaça. Achar que são sinônimos é cair no truque literário deles. Que os leitores não caiam nesse truque, pois o que eles imaginam é um mundo paranóico de tramóias inexistentes. Eles desconfiam que a lei contra o fumo em São Paulo é um plano stalinista, se o governador fosse do PT eles teriam certeza!

Lembro que quando o muro de Berlin caiu, alguns diziam em uma era de reconciliações e superações das tramóias ideológicas. Tá certo que muitos diziam isso para dizer que o capitalismo era o vencedor absoluto e fim da história, o que não aprovo, mas era muito interessante e positivo a história de abandonar as tramóias. Anunciavam a globalização, a possibilidade de uma aldeia global, conferências mundiais para discutir o clima (havia otimismo na ECO-92, e não um ridículo apontamento de traços subversivos nos ecologistas). Estava no colegial e lembro até que alguns manuais de vestibular apontavam que a área de humanas ia ganhar destaque pois as pessoas veriam que após tantos avanços tecnológicos, entraria na ordem do dia a atenção ao campo social e ambiental. Agora não, segundo a Veja, a área de humanas acalenta teorias inúteis para formar professores e funcionários públicos que querem perpetuar o ciclo de reprodução da categoria!

Quem diria que teria saudades daquela época após a queda do muro de Berlin? Quem diria que agora estejam querendo reconstruir - pelo menos conceitualmente- esse muro?


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resposta de Pondé  1
(escrito em 7/9/2009 - com cópia para Jairo Bouer, Vange Leonel. Não sei se por serem colegas da Folha, nem o Jairo nem Vange participaram da troca de mensagens)

Ola Celio
Vc se enganou, não 'queremos' (seja lá o que vc quer dizer com este plural e este grupo de pessoas que vc pensa existir) reconstuir nenhum muro de Berlim. Qto a 'conservadores' que demitiriam pessoas, acho que vc se engana de novo. Primeiro pq temo seu uso da palavra 'conservador', provavelmente com ela vc queira desqualificar a discussão e sim, talvez, questionar o direito da Folha em ter colunistas com os quais vc não concorda. Abraço, obrigado, Pondé

Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo

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resposta de Célio 1
(escrito em 8/9/2009. Continuei mandando cópia para uma lista de e-mails e para Jairo e Vange. Aliás deixava bem visível, pois achei que seria mais honesto que usar cópia oculta)

(OBS: ah, sim citei o filme "But I´m a Cheerleader", que havia assistido dentro da Puc numa sessão promovida por um coletivo de mulheres lesbicas da Puc-sp - Pondé ficaria chocado com isso não acham? A sessão foi no CACS e foi muito legal)

Olá Pondé.

Confesso que chega a ser meio engraçada a sua resposta.

Após você usar palavras como "soviéticos" e narrar como se houvesse um autoritarismo em ascenção, sou eu que desqualifico a discussão ao usar a palavra "conservadores"?

Após você reclamar tanto dos especialistas em saúde (e também da sexualidade, no caso de Pereira Coutinho), é a minha reclamação que talvez questione o direito da Folha de ter colunistas com os quais não concordo? Eu questionar esse direito fica parecendo que sou contra a liberdade de expressão e talvez me imprima uma marca autoritária do outro lado, não é mesmo?

E no final das contas, serei eu o paranóico e por isso escrevi no plural imaginando um  grupo de pessoas que eu penso existir?

Acho que não estarei enganado que quando nas escola passarem filmes como "But I´m a Cheerleader", você dirá que se tornou real o seu temor (como você disse: "obrigarão nossas crianças a ler livros didáticos com meninas beijando meninas")

Pelo jeito você é muito hábil com as palavras para formar seus argumentos, mas eu também sei de alguns desses truques.

Célio Ishikawa

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resposta de Pondé 2
(escrito em 8/9/2009. Ele reclama das minhas cópias para vários destinatários)

(E reparem como ele deslocou a discussão para a liberdade de expressão, me colocando como se eu fosse contra a liberdade dele!) 

Caro Celio
Grande esta lista de emails que vc copia, não?
Enquanto eu ainda tiver a liberdade que vc nao quer que eu tenha, vou continuar a escrever o que vc nao quer que eu escreva, abraço
Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo


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resposta de Célio 2
(escrito em 10/9/2009)

Caro Pondé

Acha que sou contra seu direito? Então parafraseando o que você escreveu sobre a "senhora cidadania":

Esse senhor horroroso chamado "direito de expressão" que tende ao desequilíbrio quando se faz cheio de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa.


OBS: Não sei o que quis dizer com as minhas cópias, mas como vi que dessa vez você não mandou cópias para seus colegas da Folha, também não o farei, se isso estiver lhe causando algum problema. Mas do lado de cá, lhe garanto que eles não incomodarão. Mas se estiver se referindo à  percussão pública, não divulgarei suas respostas se assim o desejar. Quanto às minhas respostas, não há problema se quiser mostrá-las publicamente.

Célio Ishikawa

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resposta final de Pondé
(escrito em 19/9/2009. Ele não mais argumenta mas pelo menos mantém a educação)

Obrigado caro Celio, abraço, Pondé
Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo

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Notícia de 15/12/2010 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/845990-cidades-dos-eua-proibem-venda-de-mc-lanche-feliz.shtml

Cidades dos EUA proíbem venda de "MC Lanche Feliz"
por Folha Online

(15/12/2010 10:54)


Mario Anzuoni/Reuters


Lanches do McDonald's com personagens do filme "Shrek"
Nada de brinquedo depois da comida. Esse é o recado que algumas prefeituras norte-americanas começam a mandar e que tem como destino preferencial o McDonald's e seu McLanche Feliz.

A cidade de San Francisco, na Califórnia, é o caso mais conhecido. No mês passado, os vereadores locais aprovaram lei que impede a venda de alimentos associada a brinquedos em casos em que a refeição não atenda certos parâmetros nutritivos. Ou seja, se um alimento supera os limites estabelecidos de gordura, açúcar e calorias, não pode vender junto um brinquedo. Em abril, a também californiana Santa Clara tomou decisão semelhante, e outras devem seguir o caminho, com o avanço da obesidade nos EUA.

O presidente-executivo do McDonald's, Jim Skinner, atacou, em entrevista ao "Financial Times", a decisão de San Francisco, que só vai entrar em vigor no final de 2011.

Para o dirigente, a nova regra "retira a decisão pessoal de famílias que são mais do que capazes de tomar suas próprias decisões".

No Brasil, a Justiça Federal negou em julho do ano passado liminar do Ministério Público Federal que queria proibir promoções do Bob's, do McDonald's e do Burger King, que dão brinquedos a quem compra lanche.

Para Marcio Schusterschitz, autor da ação, a decisão americana não deve influenciar o processo no Brasil -havia outro processo tramitando na Justiça do Estado de São Paulo, mas o STJ decidiu recentemente que o caso é de competência federal.