obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Célio x Pondé: McLanche Feliz

Ontem vi uma notícia que me fez abrir um sorrizinho: o McLanche feliz foi proibido em algumas cidades dos EUA por incentivar a associação entre comida e brinquedo e assim contribui para a obesidade infantil.

O meu sorrizinho se deve à lembranças de um bate-boca virtual que tive com Pondé, colunista da Folha e professor da Puc-sp (aliás felizmente nunca o encontrei nos corredores da universidade).
O Pondé, como sempre, reclamava das pessoas "chatas" que se preocupam com a saúde e dando suas típicas pitadas para dizer que as pessoas chatas preocupadas com as militâncias em geral (seja militância pela saúde, ecologia, cidadania, política, etc) representam o atraso esquerdista e tal. Pois bem, agora que o McLanche Feliz foi proibido em cidades dos EUA, estamos vendo que tal proibição não partiu de um país influenciado pelos "soviéticos" (leia o que ele escreveu sobre "caixotes soviéticos").

Vai ficar longo, mas vou postar aqui a íntegra do debate, desde o artigo que ele publicou na Folha em setembro de 2009, passando por um artigo que fiz em resposta, a nossa troca de farpas (e-mails) e finalizando com a notícia recente da proibição de McLanche Feliz.

Divirtam-se.

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McLanche Infeliz
por Luiz Felipe Pondé
(extraído de http://toma-mais-uma.blogspot.com/2009/09/luiz-felipe-ponde-mclanche-infeliz.html)

"Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança". Benjamin Franklin

Pobre família. Esmagada entre teorias sobre seu fim ou sua transformação em mera empresa que gera jovens consumidores e gestores de carreiras, a família se despedaça sob a bota da instrumentalização da vida. Perdoe-me o leitor por contaminar sua segunda-feira com palavras de horror. Sou obrigado a fazê-lo.

E mais. Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens despencam num abismo de sensibilidades, no fundo indesejadas por suas parceiras. Mães espremidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher, ameaçadas pela solidão de quem aposta demasiadamente nas propagandas de sucesso pessoal, no fundo apavoradas como sempre estiveram pela deformação de seus corpos diante do desejo ávido masculino por mulheres cada vez mais jovens. Homens e mulheres acuados pela imensa montanha de idealizações.

A dependência de especialistas em como educar filhos se torna mais aguda do que a dependência do sexo, do álcool ou do tabaco. Bom o tempo em que tudo que temíamos era a luxúria dos corpos que ardiam na escuridão dos quartos. A insegurança de cada passo mostra seus dentes diante dos filhos que crescem ao sabor de um mundo que se torna cada vez mais exigente e, por isso mesmo, mais cruel. A associação entre demanda de sucesso e crueldade parece escapar aos especialistas na vida bem sucedida.

O fracasso é o pai do humano que se quer humano. Eis o maior de todos os impasses. Alguns praticantes das ciências parecem analfabetos tolos diante desta máxima e, por isso, repetem alegres suas crenças bobas nos instrumentos do progresso. Enganam-se, em sua infância intelectual, quando pensam que nós, céticos desta Babel, amamos o sofrimento, quando na realidade sabemos apenas de sua inevitabilidade como condição da humanização. É uma ciência da inevitabilidade do sofrimento que falta a estas almas superficiais que ainda chafurdam nas crenças do século 18.

Esses chatos, montados em suas análises jurídicas, sociológicas e psicológicas, atormentam a família, que fica perdida em meio a uma ciência moralista que tem como uma de suas taras a intenção de provar a incompetência dos homens e das mulheres na labuta com suas crias. Agora esses chatos decidiram que vão mandar nas compras de sucrilhos e nas idas ao McDonald's.

Tomados pelo furor da lei, esses puritanos querem ensinar padre-nosso ao vigário, assumindo que os pais precisam de tutela na hora de comprar comida para seus filhos. Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos. Daqui a pouco, vão proibir mulheres bonitas nas propagandas e as gotas de cerveja que escorrem por suas saias curtas. Riscarão do mapa carros que desfilam homens charmosos. Uma verdadeira pedagogia do horror como higiene do bem.

O problema com este higienismo é que ele pensa combater em nome da liberdade, mas, na realidade, restringe ainda mais a liberdade, esmagando-a em nome desta senhora horrorosa que se chama "cidadania". Esta senhora, que tende ao desequilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa, e dela guarda seu gosto pela humilhação. Deve, portanto, permanecer sob "medicação", porque detesta o homem comum e sua miséria cotidiana que carrega nossa identidade mais íntima. Sob a égide da defesa do bem comum, ela, quando investida da condição de rainha louca da casa, amplia o sentido dessa "coisa pública" elevando-a a categoria de uma geometria moral da intolerância.

Deixe-nos em paz com nossos filhos mal educados, com maus hábitos alimentícios, viciados em televisão e computador, aos berros para ganhar o McLanche Feliz. A negação da liberdade vem acompanhada da afirmação do que é a liberdade certa. Liberdade sempre pressupõe o desgosto e uma certa desordem indesejável. Daqui a pouco, vão dizer que não podemos comprar chocolates com personagens infantis (como se o gosto do chocolate para uma criança fosse "apenas o gosto do chocolate").

Em seguida, obrigarão nossas crianças a ler livros com meninas beijando meninas e histórias onde Jesus era africano. Criarão aulas onde meninos aprendam a colocar camisinha em bananas com a boca, afinal a igualdade entre os sexos deve passar pelo esmagamento da privacidade suja dos preconceitos, como se a vida fosse possível sem sombras, sob o calor sufocante da luz.

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Colunistas querem reconstruir o muro de Berlin (sobre "McLanche Infeliz" de Luiz Felipe Pondé)
por Célio Ishikawa - escrito em 7/9/2009)
(mandado para listas de e-mails com cópia para alguns outros colunistas da Folha, a meu ver atingidos pelo que Pondé escreveu: Jairo Bouer, sexólogo da Folhateen, Vange Leonel, que escreve sobre GLS na Revista da Folha)

(OBS: agora eu só acrescentaria que se os "caixotes soviéticos" forem tão bonitos como os cartões postais soviéticos, eu ia querer colecionar!)

Não gosto dos colunistas conservadores que a Folha contratou. Fico aliviado que pelo menos são apenas colunistas e não editores, pois por eles, Jairo Bouer, Rosely Sayão, Vange Leonel seriam expulsos da Folha. Isso levando em conta apenas o conservadorismo, pois se levássemos em conta o aspecto direitista, íamos ter de comentar também os editoriais e a "família" ou rede de amigos colunistas que estabeleceram com outros jornais e revistas. Mas fiquemos nos colunistas: Pereira Coutinho acha orientação sexual uma bobagem, lembro dele argumentando que é como ensinar um sapo a nadar! Já o Pondé, pela explanação de hoje (7/9/9) excluiria as dicas sobre saúde e pelo trecho "obrigarão nosssas crinças a ler livros com meninas beijando meninas" concluo que excluiria também a colunista lésbica da Revista da Folha.

Mas o que me arrepia mesmo é que eles parecem querer reconstruir o muro de Berlin! São anti-comunistas do pior tipo, ou seja, vêem comunistas até não tem. Aí eles jogam do outro lado do muro até quem não é comunista. Ferreira gullar por exemplo disse que a lei soltando doentes mentais dos hospícios foi aprovada por um congresso dominado por discursos anti-burgueses! Faça-me o favor! Desde quando só pelo fato do Lula ser presidente o congresso fica tomado de discursos anti-burgueses?

E o Pondé hoje? Protesta contra os que denunciam a publicidade infantil no McLanche Feliz, dizendo que desse jeito vai ficar: "Nada de bonequinhos, nada de brindes, apenas embalagens feias como caixotes soviéticos." Caixotes soviéticos? Como eram os caixotes soviéticos? Ele já viu algum caixote soviético?

Não quero que o colunista vá correndo à internet ver como eram os caixotes soviéticos, pois entendi muito bem o que ele quis dizer: seriam caixas de papelão puro, sem graça. Sei que ele fala em termos conceituais, ainda que esse conceito do que seriam produtos socialistas não corresponda à realidade.

Pois o muro de Berlin que eles querem reconstruir também é conceitual: do outro lado, o totalitalismo, o controle, uma dinâmica econômica tão ridícula (de anedotas de economistas) que não duraria 1 ou 5 anos. Nada disso precisa corresponder à realidade. Essa gente ficaria surpresa ao ver colecionadores de cartões postais soviéticos, ou de ver filmes como "Adeus Lênin" em que se nota que existiam produtos do outro lado, e com marcas e rótulos coloridos! Pena que "Adeus Lenin" é filme estrangeiro, pois se fosse nacional (como "Bicho de Sete Cabeças", visto e exibido pelos especialistas anti-manicomiais) eles poderiam alegar que não vão ver uma propaganda subversiva pois os cineastas fazem filmes sociológicos com dinheiro estatal e haveria uma aliança entre governistas, cineastas e especialistas contra a "pobre família" (termo usado por Pondé).

E assim vão jogando do outro lado as pes soas, até a cidadania! Segundo Pondé: "senhora horrorosa que se chama 'cidadania'. Esta senhora, que tende ao desiquilíbrio quando se faz cheia de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa"!

Engraçado que a cidadania é uma mulher, uma das que oprimem os "Pais atormentados por mudanças que desqualificam seu lugar de homens"? As mães? Ele cita também, mas como "Mães esprimidas pelas obrigações advindas da emancipação de sua condição de mulher". Quer dizer: um conservadorismo estarrecedor que viu no feminismo uma perturbação da ordem da família, uma ameaça comunista. Ops, mas isso se, SE o comunismo é sinônimo de ameaça. Achar que são sinônimos é cair no truque literário deles. Que os leitores não caiam nesse truque, pois o que eles imaginam é um mundo paranóico de tramóias inexistentes. Eles desconfiam que a lei contra o fumo em São Paulo é um plano stalinista, se o governador fosse do PT eles teriam certeza!

Lembro que quando o muro de Berlin caiu, alguns diziam em uma era de reconciliações e superações das tramóias ideológicas. Tá certo que muitos diziam isso para dizer que o capitalismo era o vencedor absoluto e fim da história, o que não aprovo, mas era muito interessante e positivo a história de abandonar as tramóias. Anunciavam a globalização, a possibilidade de uma aldeia global, conferências mundiais para discutir o clima (havia otimismo na ECO-92, e não um ridículo apontamento de traços subversivos nos ecologistas). Estava no colegial e lembro até que alguns manuais de vestibular apontavam que a área de humanas ia ganhar destaque pois as pessoas veriam que após tantos avanços tecnológicos, entraria na ordem do dia a atenção ao campo social e ambiental. Agora não, segundo a Veja, a área de humanas acalenta teorias inúteis para formar professores e funcionários públicos que querem perpetuar o ciclo de reprodução da categoria!

Quem diria que teria saudades daquela época após a queda do muro de Berlin? Quem diria que agora estejam querendo reconstruir - pelo menos conceitualmente- esse muro?


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resposta de Pondé  1
(escrito em 7/9/2009 - com cópia para Jairo Bouer, Vange Leonel. Não sei por serem colegas da Folha, nem o Jairo nem Vange participaram da troca de mensagens)

Ola Celio
Vc se enganou, não 'queremos' (seja lá o que vc quer dizer com este plural e este grupo de pessoas que vc pensa existir) reconstuir nenhum muro de Berlim. Qto a 'conservadores' que demitiriam pessoas, acho que vc se engana de novo. Primeiro pq temo seu uso da palavra 'conservador', provavelmente com ela vc queira desqualificar a discussão e sim, talvez, questionar o direito da Folha em ter colunistas com os quais vc não concorda. Abraço, obrigado, Pondé

Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo

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resposta de Célio 1
(escrito em 8/9/2009. Continuei mandando cópia para uma lista de e-mails e para Jairo e Vange. Aliás deixava bem visível, pois achei que seria mais honesto que usar cópia oculta)

(OBS: ah, sim citei o filme "But I´m a Cheerleader", que havia assistido dentro da Puc numa sessão promovida por um coletivo de mulheres lesbicas da Puc-sp - Pondé ficaria chocado com isso não acham? A sessão foi no CACS e foi muito legal)

Olá Pondé.

Confesso que chega a ser meio engraçada a sua resposta.

Após você usar palavras como "soviéticos" e narrar como se houvesse um autoritarismo em ascenção, sou eu que desqualifico a discussão ao usar a palavra "conservadores"?

Após você reclamar tanto dos especialistas em saúde (e também da sexualidade, no caso de Pereira Coutinho), é a minha reclamação que talvez questione o direito da Folha de ter colunistas com os quais não concordo? Eu questionar esse direito fica parecendo que sou contra a liberdade de expressão e talvez me imprima uma marca autoritária do outro lado, não é mesmo?

E no final das contas, serei eu o paranóico e por isso escrevi no plural imaginando um  grupo de pessoas que eu penso existir?

Acho que não estarei enganado que quando nas escola passarem filmes como "But I´m a Cheerleader", você dirá que se tornou real o seu temor (como você disse: "obrigarão nossas crianças a ler livros didáticos com meninas beijando meninas")

Pelo jeito você é muito hábil com as palavras para formar seus argumentos, mas eu também sei de alguns desses truques.

Célio Ishikawa

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resposta de Pondé 2
(escrito em 8/9/2009. Ele reclama das minhas cópias para vários destinatários)

(E reparem como ele deslocou a discussão para a liberdade de expressão, me colocando como se eu fosse contra a liberdade dele!) 

Caro Celio
Grande esta lista de emails que vc copia, não?
Enquanto eu ainda tiver a liberdade que vc nao quer que eu tenha, vou continuar a escrever o que vc nao quer que eu escreva, abraço
Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo


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resposta de Célio 2
(escrito em 10/9/2009)

Caro Pondé

Acha que sou contra seu direito? Então parafraseando o que você escreveu sobre a "senhora cidadania":

Esse senhor horroroso chamado "direito de expressão" que tende ao desequilíbrio quando se faz cheio de vontades, nasceu sob o sangue da revolução francesa.


OBS: Não sei o que quis dizer com as minhas cópias, mas como vi que dessa vez você não mandou cópias para seus colegas da Folha, também não o farei, se isso estiver lhe causando algum problema. Mas do lado de cá, lhe garanto que eles não incomodarão. Mas se estiver se referindo à  percussão pública, não divulgarei suas respostas se assim o desejar. Quanto às minhas respostas, não há problema se quiser mostrá-las publicamente.

Célio Ishikawa

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resposta final de Pondé
(escrito em 19/9/2009. Ele não mais argumenta mas pelo menos mantém a educação)

Obrigado caro Celio, abraço, Pondé
Luiz Felipe Pondé
Colunista Ilustrada Folha de S Paulo

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Notícia de 15/12/2010 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/845990-cidades-dos-eua-proibem-venda-de-mc-lanche-feliz.shtml

Cidades dos EUA proíbem venda de "MC Lanche Feliz"
por Folha Online

(15/12/2010 10:54)


Mario Anzuoni/Reuters
Lanches do McDonald's com personagens do filme "Shrek"
Nada de brinquedo depois da comida. Esse é o recado que algumas prefeituras norte-americanas começam a mandar e que tem como destino preferencial o McDonald's e seu McLanche Feliz.

A cidade de San Francisco, na Califórnia, é o caso mais conhecido. No mês passado, os vereadores locais aprovaram lei que impede a venda de alimentos associada a brinquedos em casos em que a refeição não atenda certos parâmetros nutritivos. Ou seja, se um alimento supera os limites estabelecidos de gordura, açúcar e calorias, não pode vender junto um brinquedo. Em abril, a também californiana Santa Clara tomou decisão semelhante, e outras devem seguir o caminho, com o avanço da obesidade nos EUA.

O presidente-executivo do McDonald's, Jim Skinner, atacou, em entrevista ao "Financial Times", a decisão de San Francisco, que só vai entrar em vigor no final de 2011.

Para o dirigente, a nova regra "retira a decisão pessoal de famílias que são mais do que capazes de tomar suas próprias decisões".

No Brasil, a Justiça Federal negou em julho do ano passado liminar do Ministério Público Federal que queria proibir promoções do Bob's, do McDonald's e do Burger King, que dão brinquedos a quem compra lanche.

Para Marcio Schusterschitz, autor da ação, a decisão americana não deve influenciar o processo no Brasil -havia outro processo tramitando na Justiça do Estado de São Paulo, mas o STJ decidiu recentemente que o caso é de competência federal.

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