O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas". É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista... Bem, temos de conviver com os nossos erros né?
Dizem que o PT é "comunista" e por isso é ávido por poder. Esse
argumento é usado para dizer inclusive que é melhor que a ditadura volte
para tirar o PT da cena, e quando o terreno estiver limpo. (que perigo
esse pensamento!)
No post anterior pincelamos que o
efeito pode ser o oposto (já que mesmo defensores de tal ideia admitem
que a ditadura de 64 durou muito mais do que o prometido), dessa vez
vamos comentar sobre a avidez do poder por parte do PT.
Alguns dados
-
no período final da ditadura, movimentos populares queriam a volta da
democracia. Vem então o Colégio Eleitoral (aquele que elegeu Tancredo
mas quem assumiu foi Sarney). MDB aceita, mas o PT não. Se havia pressão
popular que estava conseguindo derrubar a ditadura, porque não usaram a
"avidez pelo poder" para já subirem embalados pelo povo?
-
OK, mas de qualquer forma, tivemos Sarney, e Colloristas dizendo que
eleição era uma conquista, coisa de 1°mundo, e que o povo devia
aproveitar para eleger um bonitão (dizem que uma das propagandas de
Collor parecia até comercial de shampú!). Durante a campanha eleitoral,
Collor disse que Lula tinha uma filha ilegítima, mas então petistas
descobriram que Collor estava envolvido num caso de estupro. Dizem que
imploraram para Lula usar essa informação como resposta para Collor, mas
Lula não quis usar para não baixar o nível.
- Collor
se revelou super corrupto (com nível de corrupção que chegava a
assassinatos, vide PC Farias, o que é bem diferente de dizer que PT
também mata pessoas por fome, ou ainda, a delirante versão de que
pessoas estão sendo assassinadas pelos médicos cubanos). no episódio do
impeachment, os que iam saindo da base de apoio do Collor, juntamente
com a mídia, diziam que a saída deve se dar dentro das normas da
institucionalidade, inclusive ao invés de chamar novas eleições,
deveriam apenas deixar que o vice, Itamar, assumisse. PT aceitou.
Isso
hoje em dia soa estranho (para não dizer impensável) quando se diz que
se um projeto de governo não dá certo deve haver uma ruptura radical
como o golpe militar, nem novas eleições e muito menos vice assumir! O
vice seria xingado no mínimo de gente da mesma quadrilha!
-
Finalmente o PT subiu à presidência a meu ver, isso de "governo de
todos" foi uma "marca" ou "slogan" mais fruto da mídia que do próprio
PT (desculpem o pessoal de marketing que bolou "Brasil - Pais de
Todos"). A meu ver, o empresariado se sentiu acuado e por isso
disseminou essa ideia de que deve ser uma união de forças e não de luta
de classes. Atualmente dizem que PT obviamente significava "comunismo"
(ah, e anos atrás eram um pouco mais amenos e falavam em "república
sindical"). É bem curioso: a mídia dizendo que o PT é comunista cresce
na mesma proporção que o PT vai deixando para trás a imagem alimentada
pelos velhos militantes mais "comunistas"...
Quando havia metade para cada
lado, os "velhos comunistas" ("velhos" para a mídia, é claro) reclamavam que era muito alto a porcentagem
de empresários, e a medida que o governo foi deixando cada vez mais de
ser considerado de esquerda pelos esquerdistas, curiosamente, foi
"subindo" de patamar: passou a ser "república sindical" quando
sindicalistas iam saindo de espaços (como CDES), e passou a ser domínio
de comunistas quando ninguém sério consegue ver traços de comunismo no
PT(nem a FIESP!)
- Mas o governo ia seguindo, apesar de que vira-e-mexe surgiam "crises institucionais" com o STF, mesmo quando elas não tinham fundamento. Mas enfim, crise institucional significa que as instituições estão brigando, certo? E se estão brigando cada um tem poder para brigar, não? É muito estranho que após o STF condenar mensaleiros, agora, só porque João Paulo Cunha foi absolvido, estão dizendo que todo o governo é dominado pelo PT e que eles está tudo dominado desde que o Lula assumiu!
- As coisas continuam sendo votadas (e não decretadas como numa ditadura) e inclusive em casos como a PEC 37 ("PEC da Impunidade"), em que as pessoas tinham certeza que o PT era a favor da PEC por "ser o partido mais corrupto", não só a proposta de "impunidade" foi rejeitada, como curiosamente, os petistas não votaram a favor da "impunidade", os favoráveis eram de partidos da oposição, muitos do PSDB!
- Isso de dizer que já vivemos numa ditadura nos moldes cubanos e venezuelanos, não faz sentido porque o PT acumula uma história, que como vimos, não é de ficar dominando.
Dizer que ditadura por ditadura tanto faz, para começar a Venezuela não vive numa ditadura. O que aconteceu lá são coisas do tipo o Chávez ter mudado a constituição logo após chegar ao poder. Analistas internacionais chamaram isso de democratismo ou abuso da democracia: aproveitar a popularidade para fazer mudar as regras do jogo (contudo, mesmo mudando a cosntituição, não é que aboliu-se a oposição, etc). Só que outros, ao invés de "democratismo" resolveram usar um termo que pegasse mais na língua da oposição: "ditadura". Faz sentido? Bem, os militares brasileiros aproveitaram a popularidade das Marchas da Família com Deus para tomarem o poder. E mudaram muito mais regras que Chavéz. O problema é que não dá para chamar eles de usarem "democratismo" pois simplesmente não chegaram lá por voto!
País "Comunista" é a última moda da mídia (já fomos República Sindical, Grampolândia, etc)
País comunista, como assim? Segundo o que diz a mídia atual, comunista é um ser perigoso, e as pessoas tem de ficar atentas, ao menor sinal, é melhor suspeitar, isolar. Por exemplo, se for ambientalista demais, suspeite! Ensina Reinaldo de Azevedo. Contudo, se é necessário suspeitar ao menor sinal, como se explica que na posse de Lula em 2003 a mídia não alertou desse perigo? Como se explica que é no décimo ou décimo-primeiro ano do PT que alertam para o perigo comunista, sendo que antes disso o perigo era de vivermos na República Sindical, ou ainda Grampolândia?
Mas quer saber? Isso quer dizer que isso de "comunismo" é apenas a última moda histérica da mídia. As pessoas não deviam levar isso a sério, inclusive pois é uma das apelações mais perigosas, por alguns motivos:
- já tô vendo gente por aí dizendo que não se deve confiar na mídia, ou seja, a mídia está alimentando algo que pode fugir de controle e aí nem ela conseguirá reverter a moda que ela mesma disseminou.
- Antes direcionava-se a solução para PSDB, mas agora dizem que a solução é Golpe Militar, é bizarríssimo ver gente democrata dizer que apesar de ser democrata prefere militares a Dilma! Não faz sentido!
- Estão atacando a "esquerda caviar" (há patrulha ideológica, vide em cima da Letícia Spiller - que bizarro) é engraçado que esse ressentimento contra quem (aparentemente) está melhor de vida (pois come caviar) é escolhida como uma tática que dá certo, pois houve episódios da história em que isso foi usado. Como a clássica guerra de classes ou o fascismo, que botava culpa nos judeus (pois judeus seriam ricos, mesquinhos que sobram juros, etc). Quando essa tendência contra "esquerda caviar" fugir de controle, evidentemente ao invés de luta de classes, vai seguir uma tendência fascista (militarista já é...). E assim como o fascismo vitimava judeus, mesmo os judeus não-ricos, vai vitimar esquerda mesmo aquela sem caviar. Gente achando que pode-se passar a mão em mulheres de esquerda já tem (caso real que aconteceu na UFF) (veja também o incentivador desses atos, o caso do blog que defende "estupro corretivo"!!!) .
Citando Reinaldo de Azevedo (quem diria que um dia faria isso!), o perigo é de se perder uma cultura rica por causa dessa raiva. Azevedo lamenta a rica cultura da Rússia czarista que se perdeu, da mesma forma, essa histeria anti-comunista tá incentivando a raiva de quem não é caviar contra os caviares. Gente dizendo que ramos inteiros do conhecimento são ínúteis, como a área de humanas, vi outro dia uma pessoa dizendo que não acredita em psicologia, pois não é ciência. Tava na cara que era comentário de gente que não teve poder aquisitivo para cursar ensino superior (pois gente que estuda engenharia etc não daria um comentário crasso desses). Era um comentário que ia na mesma linha daqueles que perguntam porque universidade não pode cortar cursos para só ter 2 ou 3 cursos "úteis" (sem entender que 2 ou 3 cursos no máximo forma uma faculdade integrada mas nunca uma universidade). Enfim, uma raiva irracional está sendo disseminada.
Aliás da Grampolândia...
Isso daí era da época em que o empresário Daniel Dantas estava sendo investigado, e francamente, Dantas pagava jornalistas para conseguir apoio (só para variar, ao invés de texto veja essa série de quadrinhos). Isso explica a porque a moda de 5 anos atrás era discutir a "Grampolândia".
Brasil era um país ruim pois pessoas poderiam estar grampeadas. A moda agora é dizer que grampos não são problema se são os militares fazendo escutas para caçar comunistas. Daí Grampos tudo bem, assim como todos os outros métodos truculentos e de violação da privacidade (puxa vida, e pensar que na época da moda "Grampolândia", se achava absurdo simplesmente algemar alguém!)
Essa contradição é mais uma prova que todos esses rótulos são modismo.
E veja só... VEJA em 2003 (preocupado com a segurança pessoal do presidente!!!)
(repare na legenda acima a preocupação com Lula)
A grosso modo a mídia em 2003 propagandeou que PT deveria ser um governo para todos (Veja, Estadão e Folha davam dicas ao governo dizendo para não ouvir a ala radical do PT), depois houve várias fases, República Sindical, Governo Lulla (2 Ls, assim como "Collor"), Grampolândia, etc até chegar na atual era Comunista.
Pesquisando, encontrei algo tão histórico quanto PSTU reclamando da composição 50% para cada lado que botei acima, o texto da Veja quando Lula tomou posse!
Trechos:
"A
primeira semana de janeiro de 2003 já está inscrita na história
brasileira. É histórica a chegada ao poder do ex-operário
que, durante o discurso de posse, resumiu em poucas palavras sua extraordinária
biografia de retirante nordestino a presidente da República. É
histórica a gigantesca e vibrante manifestação popular
que saudou, cantou, gritou e chorou na cerimônia de posse de Lula
em Brasília. Antes, já era histórica a votação
de Lula, eleito com quase 53 milhões de votos, ou 62% dos votos
úteis, a mais significativa votação da era democrática
brasileira e também uma das mais expressivas do mundo."
"O ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho,
num discurso banhado por elogios ao antecessor, Pedro Malan, aproveitou
para dizer a que veio sem usar meias palavras. Anunciou que vai propor
a autonomia operacional do Banco Central, medida perseguida e saudada
pelo mercado, mas que causa engulhos a uma boa fatia da militância
petista."
Veja dando dicas para não ouvir a ala radical do PT, dizendo que o caminho bom era PT seguir o caminho que o PSDB já traçou.
Mais à frente, Zé Dirceu seria elogiado por proferir um discurso esquerdista estratégico para controlar a ala esquerda radical.
"(...) José
Dirceu, novo ministro-chefe da Casa Civil. Lembrou a ascensão da
esquerda ao poder, homenageou antigos companheiros, apresentou-se como
representante da geração de 1968, não esqueceu os
tombados na luta contra a ditadura militar e prometeu uma "verdadeira
revolução social", pois, disse ele, "para que o Brasil ocupe
seu lugar no mundo é preciso que nosso povo ocupe seu lugar no
Brasil". Sua mensagem não significa uma repentina inflexão
à esquerda. Dirceu fez um discurso para a platéia, mas tornou-se
conhecido no PT como o dirigente que enquadrou as alas radicais do partido
e trouxe a bandeira vermelha para uma posição de centro-esquerda
para ganhar eleições, e não perdê-las."
Veja recomenda que Lula, com Berzoini e outros aproveitem a popularidade para implementar medidas necessárias mas impopulares, claro, para agradar o mercado, com reforma da previdência, reforma tributária, etc. Chávez aproveitou a popularidade da posse para mudar a Constituição. Veja acha que a nossa Constituição atrapalha por garantir direitos sociais demais, se fosse para mudar para agradar o mercado, provavelmente Veja apoiaria com louvor, da mesma forma que ela tentou popularizar um vídeo do ACM chamando militares.
(acima, a campanha "Veja- o Brasil que queremos" é de 2008, e o vídeo do ACM é de 2006, numa matéria que analiso melhor neste post recentemente atualizado)
O texto termina assim:
"(...) Lula
deveria forçar-se um pouco a evitar o excesso de contato físico
com desconhecidos. Se não por discrição, que seja
pelo menos no interesse do país."
Ao mesmo tempo que Veja se preocupa com a segurança do presidente, era também um recado altamente simbólico, para que o Lula se afastasse dos anseios do povo.
Esse é um assunto que dá muito pano para manga, até tava rascunhando um texto com citações e tal, mas vi que ia ficar muito comprido, então vou colocar os pontos principais.
Bom, tem gente que quando vê uma discussão faz ponderações (com a pose de ponderados), e o que se vê é que alguns dizem que em alguns casos ditadura é melhor que o estado em que vivemos. (como se fossem pessoas que entram numa discussão carro x bicicleta, e dizem de "em alguns casos carro é necessário apesar de bicicleta ser importante ecologicamente").
Mas isso de "ditadura em alguns casos ser boa/necessária" não faz sentido, e até mesmo quem diz "o problema de 64 é que a ditadura deveria durar só uns anos para limpar o terreno, o problema é que se corromperam e quiseram ficar mais no poder" sabe que o risco é muito grande! (E isso porque estamos resumindo muito o risco, é toda uma estrutura e vai muito além de alguns quererem permanencer pela ganância de poder.)
Outros equívocos:
- acusam o "pessoal de direitos humanos", mas ao associar isso a comunismo, acabam levando a conclusões totalmente equivocadas e fantasiosas, como a de que o próximo passo fosse torturar os cidadãos de bem (até parece que quem é contra tortura de bandidos iria torturar pessoas que não são bandidas!), ou que esse pessoal na verdade não fosse de direitos humanos e sim comunistas que estariam querendo confundir as pessoas, para futuramente atacá-las!
Ora essa, as pessoas podem ser a favor de direitos humanos, contra os maus-tratos nas prisões, mas elas não estão querendo defender a impunidade dos bandidos, e muito menos ajudar os bandidos a atacar pessoas, e é delírio total achar que futuramente se quer atacar as pessoas sem a ajuda de bandidos!
- Outro equívoco é que as baixarias da TV fariam parte dessa permissividade. Aí eu vejo que a confusão chegou a níveis trágicos... ou tragicômicos:
Se repararem bem, as baixarias são mostradas em programas abertos e não por ditatoriais programas estatais. E mais, que no horário do telejornal, os engravatados falam como se vivêssemos num país com esculhambação, e um par de horas mais tarde, são os humoristas que reclamam do politicamente correto do "pessoal dos direitos humanos"!
Daí que o resultado é que opositores são taxados de censores ao mesmo tempo de permissivos, é muito contraditório! Denúncias de ataque a gays, mulheres, negros, etc são vistos como tentativas de censura, ao mesmo tempo que as pessoas reclamam de músicas e shows altamente machistas e apelativas, como parte da tentativa comunista de desestabilizar a família!
Eu teria um monte de exemplos para ilustrar o que escrevi no par de parágrados acima, mas fiquei tão desanimado que só vou comentar que tem gente "anti-comunista" que não vê problema no Gentilli fazendo piada que evidentemente destróí valores da família (pense na família dessa mulher, pense nos bebês que não contam com o leite dela!), mas o problema são mulheres amamentando em público e não a alta erotização da Tv pois isso é alegria do povo e alegria do povo é o que comunista não quer!
Só que se a ditadura voltar como tão pedindo, vão censurar essas apelações, os humoristas, etc e parte das pessoas vai tentar se resignar dizendo que é melhor assim pois estarão voltando aos valores do passado.
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Acima foram exemplos básicos de enganos, agora vamos às enganações.
Como assim? Veja esse bizarro abaixo-assinado pedindo Bolsonaro como presidencíavel! Não sei porque precisam de abaixo-assinado se quem tá pedindo e o alvo são do mesmo lado, direita (petição de opositores pedindo para tal pessoa sair do cargo fazem muito mais sentido, é um lado contra o outro). Não sei porque usam abaixo-assinado que é um instrumento democrático e de pressão popular (como outro dia questionaram: "esse pessoal que defende a ditadura pode-se valer de instrumentos democráticos para pedir o fim da democracia?"). Mas acima de tudo, estranho mesmo é que é um abaixo-assinado pedindo para combater o PT sendo enviado ao PP que está na base aliada do PT!
É isso que me chamo de enganação, já repararam que todo esse papo de volta da ditadura ocorre em ano eleitoral? Pois é, talvez seja uma tática dos centro só para fortalecer uma tendência política dentro do congresso para assim fortalecer a oposição. Uma tática da mídia (com seus colunistas direitosos) para desestabilizar os apoios eleitorais.
O risco disso é de fortalecer uma tendência extrema-direita paranóica, já vejo por aí nos comentários da internet gente que apesar de ter aprendido o anti-petismo com a mídia, estão dizendo que a mídia é cúmplice "comunista" a qualquer notícia que soe levemente boa para o governo. Enfim, o risco é de formar monstros que fogem do controle de seus próprios criadores.
Tem gente que reclama que Brasil está numa desgraça completa, e que teria havido milagre econômico durante a ditadura. Contudo, se os conservadores dos EUA e Europa vencerem, vai haver uma crise tão grande que as pessoas forçasamente vão se relembrar do Lula falando que Brasil pegou só uma "marolinha" durante a crise econômica mundial de 2008.
A maioria dos amigos que tenho no facebook é dos tempos que eu morava em São Paulo, muitos deles estão participando dos protestos. Quando começaram a pipocar notícias da Venezuela, muitos deles trataram de ficar ao lado do governo de Maduro e indicaram que os protestos lá na Venezuela são conduzidos pela direita (que inclusive recorre a mentiras, vide http://revistaforum.com.br/blog/2014/02/como-se-constroi-uma-encenacao-de-protestos-na-venezuela/), mas, uns 2 não vê o chavismo com bons olhos e um deles até disse que conhecia uma ex-namorada que relata os abusos cometidos pelos policiais chavistas, enfatizou que se Venezuela deixasse o chavismo de lado seria melhor e disse que um dos maiores problemas da humanidade foi a esquerda militarizada. Debatemos, argumentos aqui e ali, minha posição não mudou.
Aí uns dias depois, notícias da Ucrânia. Muita gente apontando que os protestos eram puxados pela direita neonazista. Mas nesse caso uma pessoa que conhecia estava viajando passando por aqueles lados e dava informes de que entre os manifestantes ucranianos tinha de tudo: comunistas, nacionalistas, etc (sendo que entre os comunistas, os velhinhos), e tinha jovens neonazistas também, mas que aparentemente não eram maioria. Denunciava que o governo fazia o absurdo de deixar snipers atirando sem critério. Quando o governo foi derrotado, comemorou. Mas dias depois, as estátuas de Lenin foram derrubadas, e daí no facebook, a reação da maioria dos meus amigos foi de dizer que na Ucrânia estava havendo um golpe dos neonazistas.
Nesse ponto, me vi na situação muito parecida com a do meu amigo que conhecia uma ex-namorada venezuelana e por isso estava contra o chavismo. Por causa de relatos dessa pessoa que passou por lá, eu estava apoiando os protestos dos ucranianos!
Alguns dos posts que me influenciaram (como não sei se a pessoa concordaria com a exposição, tomei a iniciativa de esconder):
Uma das coisas que fiquei pensando é que realmente estar lá deve ser outra coisa, aqui no Brasil a gente fica opinando isso e aquilo, mas não está lá.
Fiquei pensando também que apesar de eu opinar na mesma linha que meus amigos (principalmente em relação aos protestos no Brasil), eu também estou meio distante. Na cidade em que vivo agora, Chapecó, já participei de protestos e greve, mas aqui não tem a salada de siglas partidárias de esquerda como em São Paulo. Aqui é mais PT x PSD (PSD, aquele partido do Kassab, que surgiu de repente e se especula que as assinaturas para conseguir fundar esse novo partido foram fraudadas http://opiniao-e-noticia.jusbrasil.com.br/politica/7347312/jornal-aponta-fraude-para-fundacao-do-psd). Aposto que alguns partidos estão dizendo que então a luta não é para valer e que deve ser uma calmaria, infelizmente não é assim: um vereador do PT foi morto - http://guidorezende.wordpress.com/2011/11/28/1937/) e tá difícil do nosso sindicato cutista obter vitória.
Bem, aqui, mais no interior realmente o cenário é um pouco diferente,as bandeiras vermelhas, podem ser do PT, CUT, MST e PJ (Pastoral da Juventude - sim, formado por católicos! e sim, são de luta!)
Nisso que fiquei pensando que a despeito de meus amigos serem do Psol, PSTU, alguns do LER-QI e até PCO (desse partido não gosto, mas vai lá), a se for haver uma revolta brasileira para além do Rio e São Paulo, muitos brasileiros vão desconhecer essas siglas, e aí, como fica?
PARTE 2: pensando no futuro dos protestos do Brasil
Entrando um pouco no campo da especulação: e se esses protestos contra os gastos da Copa realmente se intensificarem a ponto de ameaçarem o governo? Aí como as pessoas de fora vão enxergar?
Dado que muitos comentários que se vê nos grandes portais brasileiros são opiniões de direita, não será que vão enxergar o Brasil como um caso de direita tentando desestabilizar o poder do governo do PT?
Isso por enquanto parece impensável pois essas (toscas) opiniões direitistas estão contra os protestos, dizendo que protestos são coisa de baderneiros da esquerda, etc. Mas eu imagino que se os protestos parecerem ter chance de mudar algo, vão ressucitar coisas como o Cansei, Higienópolis para os Diferenciados e cosias nessa linha.
Eu não acho que esteja delirando: por enquanto a direita não quer convocar protestos pois vê como algo de baderneiros esquerdistas, mas já estão apoiando ações na rua como amarrar gente no poste e em termos de discursos já está na ponta da língua que é necessário radicalizar, mostrar a cara!
Aliás, não só mostrar a cara, pelo que se lê por aí, estão querendo inclusive amarrar os manifestantes de esquerda nos postes (e outras coisas mais) porque "esquerda defende bandido então merece ser tratado como bandido".
Não duvido na cara de pau da direita de pegar carona nos protestos e noticiar como se os protestos sempre tivessem sido de esquerda para "combater a corrupção". (Nesse sentido, as análises de que um dos motivos que levou à queda do governo ucraniano foi a corrupção me deixaram um tanto cismado!)
E daí? Fiquei pensando que apensar de serem maioria no meu facebook, esse perfil dos meus amigos (universitários de esquerda, que conhecem pessoas que moram no exterior) é um perfil minoritário dentro da multidão brasileira.
E aí? Será que não há o risco de, quando o clima esquentar, acontecer de uns amigos dos meus amigos que vivem no exterior dizerem: "olha, conheço amigos que moram no Brasil, eles não são direitistas que querem derrubar o governo brasileiro do PT" e quem ouvir isso não acreditar?
Bem, daí que como podemos evitar uma coisa dessas? Eu já alertei muitas vezes que a esquerda não pode se fechar. Eu mesmo fecho a rede de amigos do facebook para ver apenas pessoas com que tenho alguma afinidade, mas a política mais ampla não pode ser feita desse modo.
Até no episódio da Mídia Ninja/Fora do Eixo alertei nesse sentido para a esquerda ficar esperta. A Mídia Ninja por pior que pudesse parecer, não é a mídia tradicional conservadora, e em pensarmos em termos de futuro, por mais que não se concorde com o que o Fora do Eixo faz (ou fazia), ainda está do nosso lado! Se pensarmos que talvez o país vai mesmo ferver nos próximos meses, vão precisar de apoio de gente do interior pois o destino do país estará em jogo, daí vão precisar contar com o sindicato em que estou filiado (petistas), PJ e etc. (Mesmo que em São Paulo as feministas tenham criado um clima anticlerical, apesar de também existir o Católicas pelo Direito de Decidir).
Já vi muitos dos meus amigos dizerem que nem lêem mais as opiniões das pessoas nos grandes portais, pois bem, mas quando os protestos realmente balançarem os poderes, a direita vai estar aí e talvez nos arrependamos de termos ficado tanto tempo tentando purificar as afinidades dos nossos contatos...
(Atualização abril 2014: agora são 32! E aquela lista do Antonio Santos - que primeiro erroneamente tinha atribuído a Emir Sader - também cresceu, agora são 50)
Virada de ano, férias para muita gente. Tá a procura de filmes?
O Emir Sader fez uma lista de filmes de esquerda e os sites/blogs têm replicado. Já vi no CatracaLivre, Diário da Liberdade, etc. Não sei se o próprio Emir esperava tanta reblogagem, já que circula por aí como se fosse uma das únicas seleções, senão a única (já vi lista de outra temática, como filmes feministas, etc, mas nessa categoria "esquerda" só conheço esta).
Já quando a lista do Emir apareceu, houve críticas tipo "cadê Glauber Rocha?", etc. Bom, talvez ele tenha feito uma seleção pessoal, e não que TENHA de ser A lista DA ESQUERDA! (curioso que filmes de psicologia por exemplo tem várias listas com seleções diferentes.)
Assim como resposta eu fiz uma outra lista, sem compromisso de representar A esquerda, e só filmes que assisti (não sou cinéfilo então não assisti tantos assim), e a medida que fui selecionando, vi que não eram propriamente filmes de esquerda e sim que retratam algum incômodo com a sociedade.
ERRATA: quem elaborou a lista não foi Emir, este apenas compartilhou a dica. Quem elaborou a lista foi Antonio Santos, e Diário da Liberdade é um site português. Bem que tava achando estranho algumas palavras como "actores"...
32 FILMES INCÔMODO COM A SOCIEDADE
(OBS: a ordem da lista não é por qualidade e sim pelo que fui lembrando e associando)
1. Moolaadé
país: Senegal
ano: 2004
O filme se passa numa região onde ainda se pratica mutilação genital nas meninas. Mas o filme não se foca no aspecto chocante dessa prática e sim nas mulheres da aldeia se revoltando, inclusive o final com a rebelião delas... inesquecível.
Bem, mas vamos à história: Collé é uma mulher de goza de certo status dentro dessa sociedade, e quando chega a elas meninas que sofreriam excisão e pede a ela proteção, ela lhes concede um moolaadé, que nessa sociedade é uma proteção que só pode ser revogada por quem a ofereceu. Mesmo as outras lideranças (como o conselho de anciãs ou o de anciãos) não podem regovar e pressionam para que ela volte atrás.
O legal é que você não precisa saber sobre a hierarquia dessa sociedade para acompanhar as tensões ao longo da história.
Descobri que felizmente tem no youtube a versão com legendas em português, em 2 partes:
2. Bushi no Ichibun (tradução: Um pedaço do Samurai)/ título inglês: Love and Honor
páis: Japão
ano: 2006
Falando em sociedades hierárquicas, no Japão antigo tinha aquela hierarquia de senhores feudais, samurais, servos, plebeus, etc. Muita gente associa samurai a guerreiros com espada, mas não era bem assim: existiam samurais nas mais diversas funções, cumprindo suas funções com lealdade e disciplina. Shinnoji por exemplo era apenas o experimentador das comidas do senhor feudal, ou seja, ele e seus colegas verificavam se a comida não estava envenenada. Ele tem um servo, mas não é rico, vive modestamente apenas ele, a esposa e o servo. Um dia a comida estava com uma toxina e ele fica cego. Sem poder trabalhar, ele pede amparo dos superiores hierárquicos para sustentar a casa. Ele ganha o amparo mas depois fica sabendo que o superior estava de olho na esposa. Cego e humilhado, o que ele pode fazer enquanto samurai para recuperar sua honra? O título "Bushi no Ichibun" ("Bushi" é outra denominação para "Samurai") se refere ao pedaço do valor samurai a que agarra. Pelo código samurai, ele pode pedir um duelo com outro samurai, mas será que um samurai cego tem alguma chance?
Aqui o trailer e os letreiros finais com a bela música.
3. Den Brysomme Mannen (O homem chato / O homem que incomoda) / tit. ing. The Bothersome man
país: Noruega
ano: 2006
Um homem chega num local onde oferecem emprego e casa, parece um mundo perfeito. Ele não lembra da onde veio (é trazido misteriosamente por um ônibus), e ninguém fala da infância. Nesse mundo de escritórios e casas bonitas, talvez nem mesmo a morte exista, mas ele se sente incomodado, parece que falta algo na vida, um gosto especial. Fica sabendo de um bizarro buraco que exala cheiro de infância e vai explorá-la. Qual a mensagem do filme, uma crítica ao mundo adulto? Crítica ao Estado de Bem-Estar? (De fato, em países bem estruturados como Finlândia os índices de suicídio são altos.) Melhor assistir o filme e você mesmo interpretar. No final você fica pensando: "mas afinal aonde ele foi mandado?", e quando ele chega ao outro lado do buraco, dá uma sensação de "Que diachos é esse lugar?" que senti quando o astronauta Dave chega ao outro lado do portal em 2001- Uma odisséia no espaço.
4. Ghost in the shell
país: Japão
ano: 1995
Eu incluiria Matrix (o 1° filme) aqui sem problemas. As continuações não, viajaram na maionese, engrandeceram o universo demais e tiveram de contar as coisas correndo para explicar (mas o resultado ficou tão decepcionante que muitos nem foram buscar entender a tal "Revolutions". Pesquisando você compreende mas não aprova os filmes...). Só não boto aqui pois é manjadão (todo mundo entendeu a mensagem de "sair da matrix").
Bom, mas tem um filme que precedeu Matrix: a animação Ghost in the shell. Dizem que a cena da batalha do prédio de Matrix foi produzida com os diretores mostrando Ghost in the shell e dizendo: "o que queremos é uma coisa assim!"
Só que aqui a história é bem diferente, e diria que mostra exatamente o lado oposto: Motoko é uma policial andróide, combate o crime e nas horas vagas bebe cerveja, nada no mar, etc. Quando o parceiro dela pergunta por que ela nada se isso é perigoso para uma robô, ela revela que a dúvidas existenciais dela vão muito além disso: ela está vivendo mesmo, ou apenas fingindo que é humana? Ela trabalha como policial, ganha salário, etc, mas se ela saísse da polícia, o que seria dela?
O que é o tal "ghost" do título? É o fantasma dos mortos, alma dos vivos, ou apenas inteligência artificial que não tem nada a ver com a discussão de vida e morte? Tem as cenas dela passeando pela cidade que acho geniais: ela passa por gente, cachorro, bonecas e paira a dúvida no ar a qual categoria ela pertenceria.
Um dia um caso de um hacker conhecido como Puppet Master pode mudar tudo, principalmente quando é revelado que talvez o hacker não seja uma pessoa e esteja querendo provar para sociedade que um amontoado de dados pode ganhar vida.
OBS: a série tem também mangá, série de Tv, etc. Mas o destaque mesmo é esse filme. Inclusive a série animada para TV não contém a dúvida existencial de Motoko (o tempo todo ela pensa em si como mulher, até usa sedução). A continuação que carrega esse dilema é Ghost in the Shell: Innoccence, mas infelizmente não pude ver em versão legendada ou dublada então era difícil de entender.
5. Akira
país: Japão
ano: 1988
O Japão de 2019 está passando por convulsão social, se vê passeatas, barricadas, etc. Entre a população há os que esperam a chegada messiânica de "Akira", seja lá o que eles entendam por isso. Akira na verdade foi uma criança especial que o governo mantinha em segredo devido a seus poderes telepáticos, telecinéticos, etc. Um bando de motoqueiros delinquentes juvenis acaba se envolvendo na trama quando o lider Kaneda conhece uma moça que faz parte da resistência contra o governo, e outro integrante, Tetsuo, é sequestrado pelo exército após ter contato com uma das crianças especiais.
OBS1: há planos para um remake de Hollywood com atores reais, mas mudando a trama para Nova Iorque.
OBS2: interessante, no filme se diz que em 2020 vai ter Olimpíadas em NeoToquio e pelo jeito vai ter mesmo, na vida real (só que em Toquio mesmo)
Abiaxo o trailer e descobri que o filme completo também está disponível em português.
6. Birth of a Nation (Nascimento de uma nação)
país: EUA
ano: 1915
Sim, sim, esse filme é reacionário, é pró-KKK, etc (é tão racista que todo o elenco é de brancos, os negros são brancos pintados). Mas recomendo assistir até para ver como seus argumentos são construídos. Dá até para fazer paralelos com o modo como a mídia aborda alguns temas da contemporaneidade. Assisti na cinemateca no ano que Obama foi eleito (com certeza era para fazer pensar).
Abaixo o filme completo.
7. Modern Times (Tempos Modernos)
País: EUA
Ano: 1936
Para contrapor, um outro filme também velho e P&B. Mas com uma visão operária. Já resenhado na lista do Emir Sader.
Com certeza tem outros do Charlie Chaplin muito bons, mas assistir os outros por inteiro, infelizmente.
Abaixo, encontrei a versão completa com legendas
8. Diários de Motocicleta
País: Argentina, Chile, EUA, Peru, França. Alemanha e Reino Unido
Ano: 2004
Esse também chupei da lista do Emir. Muito bom, sem palavras. A cena da travessia do rio...
Abaixo as cenas por onde a dupla passou no filme, mostradas no finzinho do filme, e mais adiante, fotografias reais de Che e Alberto Granado.
O último que chupo da lista do Emir é Inside Job. Outros daquela lista eu discordo (como Apocalypse Now) ou não assisti (que á a maioria, gostaria de ter visto Edukators, Encouraçado Potenkin, etc).
Magnífico documentário que explica a crise de 2008.
Abaixo o trailer que se vê na Revista Forum, e para comparar (só uma curiosidade boba) o trailer americano que é um pouco mais longo, vocês verão o porquê.
10. Sicko
país: EUA
ano: 2007
Uma divergência que tenho em relação à lista do Emir é que do Michael Moore eu não selecionaria "Capitalismo - uma história de amor" e sim "Sicko"! Mais maduro que "Tiros em Columbine", vemos Michael cutucando a fundo, e eu seleciono este pela cutucada de levar ex-voluntários do 11 de setembro para Cuba. Essa parte é incrível e achei emocionante quando eles recebem a solidariedade da ilha, sério, achava que quando os bombeiros cubanos chamaram eles, era para convidá-los a se retirar ou algo assim!
Abaixo o trailer (com cutucões muito bem humorados) e achei o filme completo também
11. Deus e o diabo na terra do Sol + Dragão da maldade contra o santo guerreiro
país: Brasil
ano: 1964 + 1969
"Não tem Glauber?" era uma das reclamações quanto à lista do Emir. Aqui um parêntese, eu não sou um dos que ficam babando pelo Glauber (eu não incluiria aqui Terra em Transe, pois acho uns trechos muito estranhos mais teatrais que fílmicos), então esses 2 eu selecionei não por achar que tudo do Glauber é genial mas porque tem algo de especial neles, sendo o principal o fato do personagem Antonio das Mortes mudar de lado no segundo filme (detalhe que no 1° filme ele não é o personagem principal, sendo esse um dos motivos porque tem gente que considera esses filmes independentes e não sequência).
O 1° filme fala da sobrevivência na seca, de "vidas secas", como diria o escritor Graciliano Ramos, com a diferença que no filme de Glauber os retirantes se envolvem com um grupo de cangaceiros, que será alvo do Antonio das Mortes. Há de fundo discussões sobre religiosidade e destino, o "deus e o diabo" do título.
A temática religiosa volta no 2° filme, mas a presença da "Santa", entre os rebeldes dá um ar fantástico ao filme. Já ví discussões tipo:"o que será a Santa, então interpretada pela namorada de Glauber? Será uma encarnação divina, uma líder religiosa, ou uma figura metafísica que Glauber inseriu no seu filme?". A Santa faz Antonio das Mortes se voltar contra os poderosos e apoiar o povo na luta final. Mas no final Antonio caminha por uma estrada e carros passam por ele, alguns interpretam essa cena final como o fim de uma época e a chegada do imperialismo.
Abaixo a cena final de Deus e Diabo com a cena de morte do Corisco que é uma das mais famosas do cinema (embora não faça muito sentido nessa época de precisão padrão CSI). E a cena de Dragão da Maldade que faz parte da luta final, após conversa com o Professor.
12. Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro
país: Brasil
ano: 2010
Deu vontade de fazer a dobradinha como no caso do Glauber acima, até porque o blog do cineasta Felipe Guerra fez uma lista das semelhanças entre Antônio das Mortes e Capitão Nascimento (achei genial, apesar de não concordar muito com a lista das diferenças, em que Felipe mostra que não gosta do Glauber). Mas eu não assisti o primeiro Tropa de Elite, então paciência (confesso que tenho certa resistência pois dizem que é meio contra a esquerda "maconheira"). De qualquer forma, se no começo do 2° filme a crítica ao "pessoal de direitos humanos" pode ser aplicada a certo oportunismo do professor esquerdista que usa o incidente no presídio para se eleger (e ainda por cima namora a ex-esposa do Nascimento e ganha simpatia do filho), depois vemos uma virada de lado, em que a política contra bandido tão amada pelo Capitão Nascimento se transforma em algo que ele tem de combater para proteger o ex-professor, a ex-esposa e o filho. Nesse giro, se mostra toda a podridão da política, da polícia, e a última cena que aponta para Brasília é considerada corajosíssima. (Felipe, que odeia Glauber mas gostou muito de Tropa de Elite, diz que o 2 é provavelmente o filme brasileiro mais corajoso já feito. "Duvido que alguém seja macho para fazer algo mais corajoso do que isso nos próximos dez ou vinte anos.").
Abaixo o trecho do filme em que vemos um político apanhar. Dizem que as platéias foram ao delírio!
13. The Insider (O Informante)
país: EUA
ano: 1999
Baseado em fatos reais, os personagens principais são o ex-executivo Wigand que quer revelar táticas da indústria de tabaco, e o produtor da CBS que colhe pautas para um programa de entrevistas. Já seria uma grande história a parte do ex-executivo concordar em dar um depoimento a um tribunal, mas o filme não acaba aí: para complicar, o produtor da CBS encontra resistência dos superiores em mostrar a matéria sobre cigarros na TV. Temos, então uma outra batalha por dentro da mídia. Isso sem contar algumas ameaças anômimas que o ex-executivo recebe e podemos imaginar quem está por trás... enfim, outro filme sobre a podridão do sistema.
14. Courage under fire (Coragem sob fogo)
país: EUA
ano: 1996
Um filme sobre a Guerra do Golfo que mostra só o lado americano, e só no drama em torno de uma oficial mulher morta. Parece desinteressante? Acredite, no começo eu também tava achando desinteresante e não entendia porque o oficial negro teimava em dizer que havia algo a mais a ser apurado. "Poxa, o cara vai ficar zanzando de um lado para outro o filme inteiro só porque teimou com algo que só ele faz questão de esclarecer?" Cheguei a pensar isso. Mas quando um dos personagens prefere se matar a revelar a verdade, é que pensei: "epa, tem algo a mais mesmo!". O filme recria umas 3 versões do que aconteceu, a cada versão os elementos humanos vão ficando mais ricos, revelando o que aconteceu na trincheira em que membros do exército americano tinham dúvida se era melhor permanecer ali. A tensão pode gerar conflito e mesmo se os ameicanos matam a sangue-frio o inimigo, ainda são humanos e ficam sentidos se acabaram atirando no companheiro. Enfim, mesmo mostrando um lado só, nos faz refletir sobre a natureza humana em guerras.
(OBS: falando em lados, que maravilhosa a ideia do Clint Eastwood né?)
15. Little Miss Sunshine (Pequena Miss Sunshine)
país: EUA
ano: 2006
Um filme infanto-juvenil para variar. Essa é uma produção "independente" (pelos padrões americanos). Família parece desunida, cada um fazendo suas coisas com seus pontos de vista, mas afinal são uma família e precisam dar um apoio quando a caçula vai participar de um concurso de beleza. Vão todos numa grande e problemática Kombi (que alguns até dizem que representa a família disfuncional) e vão ficando mais pertos uns dos outros pelo caminho. Mas o clímax ocorre quando eles finalmente chegam ao local do concurso da pequena Miss Sunshine e vêem que aquilo faz parte da indústria da beleza que dita padrões para a sociedade. Então o que a menina vai fazer? Melhor vocês mesmos descobrirem.
16. A Alegria (The Joy)
país: Brasil
ano: 2010
Assisti esse filme no cinema, vi de novo na TV e assistiria mais uma vez, embora talvez sem a mesma emoção. Não sei se vocês sentirão a mesma coisa, pois para mim esse é o filme que gostaria de ter visto na adolescência (mas infelizmente não vi...), mas de qualquer forma tem algo de muito atraente nessa obra. Vou copiar e colar a sinopse: "Luiza tem 16 anos e está cansada de ouvir sobre o fim do mundo. Na
Véspera de Natal seu primo João é morto no Rio de Janeiro. Algumas
semanas depois, Luiza está em seu apartamento e descobre o fantasma de
João na sala. Ele quer se esconder ali."
(OBS: aí na adolescência eu tava procurando um filme marcante e o que me marcou foi "Matou a família e foi ao cinema", mas não se preocupem, não foi inspiração para nada.)
Abaixo o trailer e uma crítica do jornal Folha:
17. But I´m a Cheerleader
país: EUA
ano: 1999
Outro filme com uma pegada para jovens é essa comédia sobre uma adolescente que se considera normal mas a família acha que ela tem tendências ao lesbianismo e a envia para um acampamento que promete curar a homossexualidade. É hilário que essa cura se daria através de ensinar a consertar carro para meninos e limpeza da casa para meninas, entre outras doideiras. É claro que não funciona e a nossa protagonista vai ter de decidir o que quer para a vida dela. (OBS: o final é tããããoooo romântico!)
Assisti esse filme na Puc-sp numa sessão promovida pelas Mulheres L (grupo LGBTS, era 2007 ou 2008), boas lembranças...
Abaixo o trailer.
18. AKA
país: Inglaterra
ano: 2002
Se o filme acima fala de lesbianismo, AKA fala de homossexualidade masculina (ah, e não é para público jovem, o clima é mais adulto). Bem, "A.K.A." é usado para colocar um nome alternativo não é? Pois é exatamente essa a ideia: Após fugir de casa para escapar de um pai abusador, Dean se passa por um lord para sobreviver e frequentar a alta sociedade. Não é difícil pois há muita falsidade na alta sociedade: se você se apresenta como um lord não precisa pagar contas em determinadas lojas, você sai da fila de espera e é recebido de braços abertos num curso, pessoas se aproximam por interesse, e é possível até enganar parentes pois eles não conhecem o rosto de membros da família distanciados por intrigas do passado. É claro que nosso protagonista não se sente bem no meio disso e ele mesmo sabe que sua situação não tem nada de sustentável. Se o dinheiro compra muita coisa (e tem gente que coloca até afeto à venda), o que não é descartável? A "relação de amizade", é essa a resposta a que chega uma das pessoas "enganadas".
Ah, um detalhe: a história é baseada em fatos reais (!) do próprio diretor desse filme (!!)
Abaixo o trailer, e aparentemente o próprio diretor colocou o filme inteiro no youtube.
19. Dogville
país: Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Reino Unido, França, Alemanha, Países Baixos
ano: 2003
Com um cenário lindamente minimalista, o filme mostra como uma sociedade aparentemente receptiva pode ir se tornando cada vez mais opressora a uma forasteira. A forasteira de membro da comunidade passa a ser apenas uma serviçal submetida a abusos e quando vão dar o golpe final para descartá-la como objeto, ocorre uma reviravolta.
20. The Village (A Vila)
país: EUA
ano: 2004
A vida na vila parece boa e simples, mas todos têm medo dos seres que habitam a floresta em volta da vila. Mas qual será a verdade por trás desses seres e por trás da própria vila? A protagonista (uma cega) vai descobrir. Uma dica: há quem trace paralelo entre A Vila e a política americana (e europeia) de basear sua política em cima do medo que as pessoas sentem do terrorismo.
21. Blindness (Ensaio sobre a Cegueira)
país: Brasil, Canadá, Japão
ano: 2008
Pode a sociedade desmoronar só de retirarmos uma coisa dela, no caso, a visão? Pode, e a única pessoa que não ficou cega vai assistir esse processo. Não vou negar que na minha opinião o filme poderia ser melhor (acho por exemplo que tentar deixar o filme universal na verdade o deixou apátria) e talvez se esperasse mais de uma adaptação do famoso livro de José Saramago. Mas enfim, se você assistisse esse filme sem lembrar que é uma adaptação, sem lembrar das intenções grandiosas (tentaram fazer uma trilha sonora fora do convencional, etc), provavelmente se divertiria mais. Inegavelmente a premissa é instigante apesar de simples, e foi bem conduzida. Se tivesse sido feita nos moldes minimalistas de Dogville e sem as pessoas esperando ver a adaptação de uma grande obra, teria feito pelo menos tanto sucesso quanto o filme de Lars Von Triers.
22. Det sjunde inseglet (O Sétimo Selo)
país: Suécia
ano: 1956
Um cavaleiro está voltando da Cruzada e carrega dentro de si dúvidas se valeu a pena lutar pelo Deus (Deus cristão). Ele volta para Europa assolada pela peste e as pessoas se apegam às promessas religiosas de salvação para não se entregarem ao desespero. Contudo, o líder religioso se revela um aproveitador e saqueador de cadáveres e as próprias pessoas, apesar de temerem a morte, zombam dos mais fracos. O cavaleiro se sente cansado e desanimado a ver essas coisas, mas recarrega suas energias ao conhecer um casal circense com uma pequena criança. Mas além de carregar as dúvidas existenciais ele tem de desafiar a Morte (na famosíssima cena da partida de xadrez com a Morte) e quer reencontrar a esposa antes do fim.
23. Clockwork Orange (Laranja Mecânica)
país: Reino Unido
ano: 1971
Alex é lider delinquente juvenil e será submetido a um revolucionário tratamento para que não cometa mais crimes. Quando é libertado não encontra mais espaço na sociedade e se tornará o centro de um debate sobre o controle do Estado: primeiro será aprisionado por uma pessoa (por coincidência, uma ex-vítima) que quer mostrar que Alex preferirá a morte a lembrar do tratamento. Alex pula da janela e depois, no hospital, encontrará um político que diz vai lhe dar regalias, que a pessoa que o fez pular da janela já foi silenciada, e que Alex pode ser o garoto-propaganda de sua administração. Alex tinha domínio de tudo quando era delinquente mas ele talvez seja uma ingênua peça de um debate sobre sociedade, estado, etc. Bem, essa é minha tentativa de resumir essa famosa obra que não sei porque ainda me atrai apesar de ter visto o filme não sei quantas vezes. Talvez porque a cada vez eu tente entender melhor esse quebra-cabeça, o debate que perneia o filme acerca da administração penitenciária, políticas contra violência, e a própria hipocrisia da sociedade.
24. Rogue trader (A Fraude)
país: Reino Unido
ano: 1999
Baseado em fatos reais, a história de um cara que conseguiu quebrar um dos mais tradicionais bancos do Reino Unido, onde até a família real tinha conta. Não que o filme ajude a entender o sistema financeiro, nem propriamente é uma crítica à esse sistema, pois as bolsas de valores são apenas o cenário para a história (mas você pode ver o Inside Job lá em cima). Mas é bem curioso ver como as empresas estavam entrando na era do capitalismo financeiro e como o protagonista Nick Lesson encarava tudo isso como um jogo e tinha as melhores intenções (quando o banco faliu, cogitou-se que ele roubou o dinheiro e estaria fugindo para alguma ilha, mas não era isso, o dinheiro simplesmente se dissipou para outros investimentos financeiros).
Abaixo o trailer e encontrei o filme completo
25. O homem que virou suco
país: Brasil
ano: 1981
Considerado um clássico, o filme reflete muito da época: anos 80, ascenção dos movimentos sindicais, a ditadura cairia em alguns anos e no período, outras produções mostravam o ponto de vista operário. Confesso que não assisti tantos filmes desse período, mas este tem qualidades como recorrer à metáfora (como quando o protagonista tem o pesadelo em que cospem na cara dele).
26. O cego que gritava luz
país: Brasil
ano: 1996
Um cego sobe em lugares altos para chamar a atenção pública: diz ele que tem algo muito grave a contar e quer atenção da mídia. Paralelamente um velho mendigo no bar conta várias histórias, mas sempre se emociona quando conta sobre as 2 meninas assassinadas. Quando as duas histórias se cruzam, é revelado um crime cometido pelos poderosos que ficou impune. Um filme que mostra o clima de impunidade e descrença que a população brasileira tem em relação aos políticos.
Não tinha trailer no youtube, mas achei este:
27. Sib (A Maçã)
país: Irã
ano: 1998
É a história de 2 irmãs que viveram trancadas em casa por motivos religiosos. O caso é denunciado e uma assistente social vai soltar as meninas. Tem uma resenha muito boa em Epigramaseepitafios. O curioso é que além de baseado em fatos reais, os envolvidos teriam aceitado representar a si mesmos no filme.
Confesso que não sou muito fã do cinema iraniano. Nesse cinema acontecem coisas como personagens procurarem uma bolsa e dali a pouco uma delas lembra que tinha deixado a bolsa num canto, mas ao abrir a bolsa não encontra um dos itens e todos saem procurando de novo. Sim, esse tipo de coisa acontece na vida real, mas a gente está acostumado com uma objetividade maior. Se fosse em filmes americanos, ou se procuraria diretamente o que falta na bolsa, ou ocorreria as 2 buscas, mas dando ênfase numa delas: se fosse numa comédia, a personagem lembrando que deixou a bolsa num canto seria acompanhado de olhar de reprovação, ou num suspense, a busca pelo objeto seria intercalada por flashbacks. Enfim, o cinema iraniano retrata as coisas de outra forma e desacostumados que estamos, acabamos achando que partes do filme foram muito longos ou dispensáveis (ainda que por exemplo a busca da bolsa e do objeto explique posteriormente o cansaço dos personagens).
De qualquer forma, A Maçã é o filme iraniano que mais gosto, talvez porque essa diferença de objetividade faça parte do cotidiano, da recriação dos fatos reais das 2 meninas (ou porque perdoamos quando são crianças que são pouco objetivas).
Abaixo o trailer e tem o filme completo também.
28. In film nist (Isto não é um filme)
país: Irã
ano: 2010
Pensando bem, o meu problema com os filmes iranianos é que aceito a "falta" de objetividade quando ela faz parte de um contexto que a justifique. Nesse caso, o filme mostra de forma crua o que está acontecendo: o diretor iraniano Jafar Panihi foi proibido pelo governo de filmar, então só lhe resta mostrar sua prisão domiciliar e contar um pouco dos planos que tinha para o filme. Confesso que desconfio que o resultado foi aclamado mais como sinal de solidariedade ao cineasta, e eu diria que o final foi um tanto estranho. Pode ser que desvirtue a proposta inteira (de documentar o momento que o cineasta tava passando), mas acho que daria um belo remake essa história (talvez dessa vez incomodamente "história" mesmo e não "estória"). Modificaria aqui e ali, e tirando os trechos desnecessários para o conjunto (talvez isso seja sinal de que estou acostumado demais à objetividade dos filmes de outros países...)... Pensando bem, talvez eu esteja encarando como filme quando o próprio título diz que não é, né...
Enfim, trata-se de um personagem que está em situação incômoda.
29. Princesse Marie (Princesa Marie)
país: França
ano: 2004
Confesso que sou daqueles que não assistiu muitos filmes franceses além de Amelie Poulain (e nem muitos alemães além de Corra Lola Corra). Mas felizmente assisti essa bela produção.
Marie é sobrinha-neta de Napoleão Bonaparte, é casada com o príncipe Jorge da Grécia, faz parte da aristocracia mas é infeliz. No começo vemos ela com planos de fazer uma cirurgia na genitália. Mas então ouve falar de Freud e uma novidade: a psicanálise (se até hoje há controvérsia, imagina naquela época!). Freud a trata e dali começa uma grande amizade. Freud mesmo diz que a relação deles já não é mais de paciente com médico. No começo ela diz que não precisa chamá-la de princesa, mas Freud pede perdão mas acha mais interessante chamá-la assim talvez por que na infância ouvia histórias de príncipes e princesas. (OBS: não deixa de ser até meio fofo ver o Freud velhinho pronunciando "princhecha" com sotaque). Ela mesma se torna uma psicanalista.
O filme é dividido em 2 partes, e na segunda é a vez dela retribuir: Freud é judeu e ela vai tentar convencê-lo a fugir do nazismo, antes que seja tarde demais.
Abaixo o trailer em espanhol, e achei o filme completo com subtítulos em espanhol.
30. Truckers
país: Reino Unido
ano: 1992
Olha, vocês não tem noção de como estou feliz de ter encontrado esse filme e disponibilizar para vocês. Truckers é uma animação de bonecos que ninguém ouviu falar, eu até tinha receio de comentar pois o assunto morria muito rápido: eu dizia que certa vez tinha visto uma fantástica história assim assim e como ninguém mais tinha visto, parecia até que eu tava falando de uma miragem.
É daqueles filmes aparentemente para crianças mas é recheado de inteligentíssimos paralelos históricos. Um grupo de nomos (você pode entender como gnomos, aqueles pequenos seres) sobrevive se alimentando de lixo e lutando com ratos. O ancião carrega uma pequena caixa, que é um computador que estava descarregado por ter passado muito tempo longe da eletricidade. O ancião mesmo fica surpreso e revela que a "caixa" nunca tinha falado de verdade antes, o pai dele dizia "pense no que a caixa diria e diga, para orientar seu povo" (enfim, o que parecia um amuleto ancestral se revela uma fonte de inteligência verdadeira).
Quando eles encontram outros nomos no armazém, eles são discriminados pois o líder religioso dos nomos diz que não existe nada fora do armazém (uma analogia ao pensamento geocêntrico da idade média). Mas ao mesmo tempo, há rumores de que o fim está próximo, o que é muito cômico pois na verdade não é uma profecia e sim cartazes da queima de estoque que o armazém vai promover para encerrar suas atividades. É claro que os nomos do armazém não acreditam que um dia o armazém fechará nem que existe o lado de fora do armazém.
Quando eles se convencem de que precisam sair, fazem um plano de roubar um caminhão, o que para eles é praticamente como construir uma nave para fugir para o espaço. Vão precisar unir suas forças e esse é o aspecto mais bacana.
OBS: após mais de 10 anos procurando o filme, fico sabendo que essa fantástica história não permaneceria desconhecida por muito mais tempo: A DreamWorks pretende fazer sua própria versão de Truckers e tem até data: 2015. Imagino que será animação por computador, entre outras diferenças... Por isso, ollha só, você poderá dizer que viu a versão anterior com todo o charme do stop-motion de bonecos.
Abaixo o filme completo. Seria perfeito se eu achasse a versão dublada (que vi no extinto canal Locomotion), mas fazer o que?
31. Cannon Fodder (parte de Memories)
país: Japão
ano: 1995
Incluir ou não Cannon Fodder que tem só 22 minutos por ser um dos 3 episódios de Memories? Decidi incluir já Memories foi lançado como longa. Numa sociedade extremamente militarizada (todas as casas têm canhão),
a vida da sociedade gira em torno do ritual diário de disparar uma
enorme bala de canhão contra "o inimigo". O filho vai à escola enquanto o pai vai trabalhar. No final o filho pergunta: "mas afinal quem é o inimigo?"
Abaixo o episódio inteiro, em espanhol (certa vez eu passei aos meus amigos mas só tinha encontrado em japonês com legendas em chinês. Um amigo disse a língua que ele não compreendia e os cartazes em cirílico davam uma interessante lembrança da URSS que combinava com o filme).
32. Hero (Herói por acidente)
país: EUA
ano: 1992
A sociedade é formada por muitos indivíduos reclamões, que quando assistem a TV e ficam sabendo que tem muito lixo pela cidade, dizem que o governo deveria fazer algo, que outras pessoas são mal-educadas e produzem muito lixo, etc, mas aí a própria pessoa quando sai na rua, joga bituca de cigarro por aí. Enfim, pequenas hipocrisias que as quando apontadas, dizem que você é quem deveria cuidar de sua vida. Bernie, o protagonista desse filme, é assim: um rabugento reclamão. Mas então um avião cai bem na frente dele. Ele até grita resmungando que tá atrapalhando o caminho e que alguém deveria tirar os sobreviventes de lá, mas então percebe que está sozinho e ele mesmo vai lá resgatar (enquanto fica reclamando que isso é tarefa dos bombeiros e é o governo que deveria estar fazendo isso). No dia seguinte, a mídia publica que um misterioso "anjo" resgatou muitas vida e que as pessoas gostariam de agradecer pelas suas vidas. Mas quando Bernie pensa em se apresentar para as câmeras, um sem-teto se apresenta antes. A ironia é que esse sem-teto mentiroso é realmente uma pessoa muito boa, que inclusive se sente culpado por ter mentido para a mídia. Enquanto isso ninguém acredita que Bernie é que salvou aquelas vidas e a ex-mulher até joga na cara dele que ele devia aprender a ser um ser humano melhor como aquele mendigo que agora é famoso! Uma deliciosa comédia do começo dos anos 90.
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Menções especiais:
Selecionei os filmes em que há questionamento quanto à sociedade, um incômodo.
É claro que poderia inclui mais na lista se eu conhecesse mais. É certeza que Brazil - o Filme entraria se eu tivesse assistido. Dizem que Fuga das Galinhas é ótimo e seria mais uma opção além de Truckers de filme para crianças. Já que coloquei Dogville, a sequência Manderley também entraria (é uma pena que perdi a oportunidade de assistir o filme com debate no Museu Afro-brasileiro...)
Teve gente que sentiu falta de Adeus Lenin, gosto muito do filme, mas achei que o principal tema do filme é a família inserida no socialismo ou capitalismo sem que haja muita crítica sobre um outro.
Bem, é isso aí pessoal. Não tem filmes de todos os todos os países, mas como disse, fui colocando os que eu conhecia e lembrava!